Ilídio Esteves – Abrir uma fenda na muralha

Ilídio Esteves
Abrir uma fenda na muralha

A organização do Partido no interior das prisões foi essencial para concretizar as espectaculares fugas que nos anos 50 e 60 devolveram à liberdade destacados militantes e dirigentes do PCP, afirmou Ilídio Esteves, outro dos fugitivos. Para este comunista, na fuga de Caxias a organização prisional é a grande responsável pelo seu sucesso.

Para Ilídio Esteves, há que destacar o papel de António Tereso, que «revelou um talento especial: fingir sentimentos que não tinha e ocultar sentimentos que tinha». Mas, destacou, a própria «descoberta do camarada Tereso e a sua aparente conversão em “rachado” nasce da discussão tida na direcção da organização prisional». E a ideia de o colocar na sala dos trabalhos nasce de um funcionário clandestino, o José Magro, acentuou.

Ilídio Esteves considera que se não tivesse havido organização do Partido na prisão, com ligações com todas as salas, iludindo os guardas, e se não tivesse havido a discussão no Partido acerca das possibilidades de «abrir uma fenda na muralha», não teria havido fuga. E se foi possível fugir da forma como fugiram naquela manhã de 4 de Dezembro de 1961 foi porque «quando os comunistas caíam na prisão não ficavam desarticulados. Os comunistas organizavam-se».
E esta organização, realçou, funcionava apesar dos carcereiros tudo fazerem para impedir e dificultar a organização do Partido no interior. Frequentemente, alteravam a composição das salas, lembra-se Ilídio Esteves. Mas nem isso impediu a fuga, pois as comunicações entre os comunistas na prisão eram frequentes e eficazes.

Entre as preocupações dos comunistas quando eram presos, Ilídio Esteves realça uma, pouco referida: «aproveitar o tempo valorizando-nos». Assim, contou, «muitos camaradas camponeses e analfabetos saíam da prisão sabendo ler e muitos deles com condições para tirar a instrução primária». Um camponês do Couço, que conheceu, aprendeu a ler na prisão e chegou mesmo a tirar um curso superior.