Após a fuga de Caxias – Recuperar a liberdade para continuar a luta

Após a fuga de Caxias
Recuperar a liberdade para continuar a luta

A fuga de Caxias e, antes, a de Peniche, recuperaram para a luta valiosos quadros do Partido. Devolvidos à liberdade, mergulharam novamente na acção clandestina e na direcção da luta de massas, que se intensificava.

O início da década de 60 fica indelevelmente marcado pela intensificação da luta de massas. As «eleições» presidenciais de 1958 e as campanhas de Arlindo Vicente e Humberto Delgado, que o regime não conseguiu evitar, constituíram autênticos plebiscitos pela democracia através de gigantescas acções de rua.

Consagrada a farsa eleitoral e a «vitória» do candidato fascista Américo Tomás, cerca de 60 mil trabalhadores fazem greves e paralisações e muitos mais juntam-se ao protesto. A reclamação é comum: a demissão de Salazar!

O fascismo reage e desencadeia uma forte vaga repressiva. Muitos democratas são presos e outros, perseguidos, são forçados ao exílio. Para evitar novas campanhas poderosas da oposição, o governo elimina as «eleições» directas para a Presidência da República. Terminavam assim as ilusões legalistas de amplos sectores da oposição democrática.

As ilusões «golpistas» que lhes sucederam não tiveram melhor fim: o fracasso do Golpe de Beja, em Março de 1959, e a prisão de dezenas de oficiais revoltosos encarregaram-se de as deitar por terra.

Mas as lutas pela democracia de 1958 revelaram existir nas massas populares enormes reservas de combatividade e uma irreprimível aspiração à liberdade. Sentimentos que era fundamental estimular, organizar e dirigir.

A partir de inícios de 1960, após a fuga de Peniche que devolveu à liberdade Álvaro Cunhal e outros destacados dirigentes comunistas, o Partido clarifica a sua linha política e organizativa e lança-se nesta tarefa. Havia que desenvolver a luta reivindicativa e política e orientá-la numa perspectiva revolucionária.

Os «fugitivos» entram em acção…

Os resultados das decisões e orientações do Partido não se fizeram esperar: nos anos de 1961 e 1962 intensifica-se a luta de massas por todo o País e em vários sectores: dos trabalhadores rurais do Alentejo e Ribatejo; de dois mil pescadores de Peniche que realizam uma greve; dos trabalhadores das pedreiras; dos mineiros de S. Pedro da Cova e Aljustrel; dos operários na Margem Sul e da região de Lisboa; dos pescadores de Matosinhos; dos operários têxteis de Tortosendo e Covilhã… Nas escolas, o Dia do Estudantes é celebrado em luta e cresce a contestação à Guerra Colonial. Em Almada, a repressão assassina, numa manifestação, o comunista Cândido Capilé.

A acção do Partido no exterior constituía um estímulo à preparação da fuga no interior da prisão de Caxias. O sucesso da evasão e a recuperação de um tão significativo número de funcionários do Partido representou um contributo importante para o reforço do Partido e da luta.
Em 1962, 100 mil pessoas manifestam-se em Lisboa nas comemorações do Dia do Trabalhador. O aparato policial é imenso, mas os manifestantes respondem heroicamente às cargas brutais da polícia e às rajadas de metralhadora, arremessando pedras arrancadas do pavimento. As ruas são tomadas pelos manifestantes durante horas. Na organização desta manifestação esteve o dirigente comunista José Magro, evadido da prisão de Caxias.

Nos campos do Sul do País, a luta estende-se. Em Maio os trabalhadores rurais conquistam a jornada de trabalho das oito horas, que representou uma vitória histórica do proletariado rural do Alentejo e do Ribatejo. António Gervásio, outro dos fugitivos de Caxias, ocupou um posto destacado na direcção destas jornadas.

Resistir sempre!

Foram oito os comunistas evadidos da prisão de Caxias no dia 4 de Dezembro de 1961. À excepção de Rolando Verdial, que veio a trair o Partido e o seu próprio passado militante (ao passar a colaborar com a PIDE), todos os fugitivos ocuparam o seu lugar na luta e mantiveram-se fiéis ao Partido. Juntos, António Tereso, Domingos Abrantes, Francisco Miguel, Guilherme da Costa Carvalho, Ilídio Esteves e José Magro passaram cerca de noventa anos nos cárceres fascistas.
A fuga protagonizada por estes destacados dirigentes e militantes comunistas ocorreu num momento em que o regime prisional em vigor reflectia as dificuldades do fascismo face à intensificação da luta de massas. A esta, respondeu com o agudizar da repressão. A PIDE intervinha directamente na vida da cadeia.

O elevado número de presos – cerca de centena e meia –, entre os quais um significativo número de funcionários do Partido, e a fuga do Forte de Peniche, ocorrida quase dois anos antes, gerou uma autêntica paranóia securitária e a segurança foi reforçada: aumentou o isolamento dos presos; os períodos de recreio foram reduzidos; a correspondência limitada; as visitas em comum foram suspensas e a distribuição dos presos por sala era constantemente alterada.

A par disto, realizavam-se buscas frequentes aos presos e às salas, os espancamentos eram regulares, assim como os castigos. Por qualquer razão – ou mesmo por nenhuma – os presos eram enviados para o «segredo». A assistência médica era má e foram suprimidos os internamentos hospitalares, o que tinha graves repercussões na vida dos presos.

O objectivo da PIDE era intimidar e paralisar a luta dos presos e das suas famílias. Mas falhou. A luta dos presos no interior da cadeia e das suas famílias, particularmente no Natal de 1960 e no Ano Novo de 1961, teve grande repercussão nacional e internacional..

A cadeia de Caxias-Reduto Norte foi instalada em 1937 no antigo Forte de Defesa Militar de Lisboa. Por lá passaram milhares de presos antifascistas.