Domingos Abrantes A «paranóia securitária» que se instalou na cadeia de Caxias após a fuga de Peniche acabou por ajudar à evasão dois oito comunistas ao volante do carro blindado. Quem o afirma é Domingos Abrantes, um dos participantes na fuga. Uma das medidas revelou-se desastrosa para os carcereiros, afirmou Domingos Abrantes. «Pegaram nos camaradas responsáveis que estavam disseminados por várias salas e juntaram-nos», afirmou. Esta medida teve um efeito contrário ao que esperavam. Os quadros responsáveis pelas salas aumentaram e os mecanismos de ligação interna aperfeiçoaram-se. Também a alteração do local do recreio jogou a favor da fuga, recordou o membro do Comité Central. O espaço onde habitualmente os funcionários do Partido tinham o seu recreio foi considerado «pouco seguro» pelos guardas. Foi então que os mudaram para o Fosso Interior, o «mais seguro e o mais interior da cadeia». Ora, destacou Domingos Abrantes, «este era o único sítio onde o carro podia ir. Em boa hora mudaram o local do recreio». Decidida a fuga com o carro, nascida da ideia do falso «rachado», muitas questões se levantaram. Seria mesmo blindado? Aguentaria o choque do portão? Estaria gente para lá do portão? Que gente? Ponderados os riscos, decidiu-se avançar. No dia da fuga, contou Domingos Abrantes, «vivia-se uma tensão serena». «Não íamos propriamente dar um passeio», notou… Arriscar a vida e muito mais Para Domingos Abrantes, não é possível imaginar o que é «viver longos meses no seio dos carcereiros e dos agentes da PIDE. É uma tarefa difícil e dolorosa». Além do mais, destacou, «poucos camaradas sabiam que o Tereso trabalhava para o Partido e isto significava que ele era hostilizado pelo resto do colectivo partidário e das famílias dos presos». O dirigente do PCP considera que os sete fugitivos da Sala 2 arriscaram a sua vida na fuga, «mas não mais do que isso». Como funcionários do Partido, tinham o seu futuro traçado. O mesmo não se passava com António Tereso: à beira de sair em liberdade, se a fuga falhasse esperavam-no largos anos de prisão. Se a fuga não se tivesse chegado a realizar – e esteve perto disso – António Tereso sairia em liberdade e viveria com a fama de ter colaborado com a PIDE. «O sucesso da fuga foi também, do ponto de vista humano, uma felicidade», realçou. O outro foi José Magro. Em primeiro lugar porque «propor a um camarada que se fingisse passar para o campo do inimigo era uma proposta de grande audácia que não se pode separar das características do camarada José Magro», afirmou Domingos Abrantes. José Magro, prosseguiu, «era um camarada corajoso e cheio de iniciativa e tinha ideias muito precisas de que fugir era uma tarefa. Deitava-se a pensar em fugas, levantava-se a pensar em fugas e punha os outros também a pensar nisso». |