A arte de Dias Coelho

A arte de Dias Coelho

Margarida Tengarrinha

Quer na escultura, quer no desenho de José Dias Coelho, nota-se uma busca constante da simplicidade formal. É isto que transmite uma grande força às suas esculturas, compactas, densas, despojadas de pormenores inúteis, em planos e curvas modelados pela luz.

A sua escultura, sempre figurativa, desenvolve no entanto um jogo de volumes e perfis muito sóbrios, que conferem à composição uma simplicidade quase geométrica. Esta característica é acentuada pelo facto de, na maior parte das cabeças e em todos os grupos escultóricos, a modelação do barro ser lisa. Na passagem ao gesso as superfícies são quase polidas, permitindo que a luz as percorra sem entraves. Excepção a este tratamento são as cabeças de Fernando Namora e de Tomás de Figueiredo, cuja modelação permite visualizar o movimento dos dedos modelando o barro, o que naturalmente se deve ao propósito de caracterizar o modelo.

Grande parte das suas esculturas são retratos de amigos, colegas e familiares, extraordinariamente bem conseguidos, com uma semelhança notável e uma grande economia de meios. Dias Coelho consegue marcar o carácter do retratado pelos seus traços essenciais, como acontece com as cabeças de Alves Redol, Fernando Namora, Maria Eugénia Cunhal, de sua mãe, da irmã Maria Sofia e tantos outros.

No desenho, quer a carvão, quer a tinta da china, a procura da simplicidade permite que se revele a sensibilidade de traço rara e de grande delicadeza.

Foram particularmente apreciados alguns, como os retratos a carvão da mãe e de sua irmã Maria Emília, que obtiveram uma menção honrosa e uma medalha, respectivamente, nos Salões da SNBA.
Um tipo de desenho especialmente bem conseguido são os grupos de pares a que deu o título geral de «Líricas», a tinta da china e com um traço muito puro.

As gravuras para a imprensa clandestina, executadas durante os anos em que viveu na clandestinidade, são hoje amplamente divulgadas e representam uma participação importante para a melhoria gráfica da imprensa do Partido. Estas linogravuras ilustraram e sublinharam muitos artigos do jornal «Avante!», do boletim «Portugal-URSS», e muitas foram executadas para servir de cabeçalhos a vários órgãos da imprensa clandestina para sectores específicos, como para «A Voz das Camaradas», e jornais «A Terra», «O Ferroviário», «Amanhã».