O militante revolucionário

O militante revolucionário

Dias Coelho teve uma activa participação em todas as lutas políticas e estudantis dos anos quarenta e cinquenta, com maiores responsabilidades de direcção a partir da criação do MUD Juvenil, em 1946. É nessas lutas que conhece e se liga com profunda amizade a jovens que iriam encabeçar os movimentos de libertação colonial como Agostinho Neto, Vasco Cabral, Marcelino dos Santos, Amílcar Cabral e Orlando Costa.

Com a sua capacidade de mobilização, Dias Coelho dirige as grandes movimentações dos estudantes de Belas Artes pela Paz, particularmente quando da reunião ministerial do Pacto do Atlântico, em 1952, no Instituto Superior Técnico, pelo que é expulso, quer como aluno, quer da Escola Marquês de Pombal onde lecciona.

Adere ao Partido Comunista em finais dos anos quarenta, sendo preso pela PIDE em 1949 como activista na campanha eleitoral de Norton de Matos.

No decurso das variadas actividades antifascistas em que ia participando ou dirigindo, Dias Coelho foi reatando antigas ligações, ou criando novas amizades com intelectuais do meio literário como Manuel Mendes e sua mulher «Bá», Fernando Namora, Carlos de Oliveira, José Gomes Ferreira, Eugénio de Andrade, José Cardoso Pires, do teatro como Manuela Porto, Artur Ramos e Rogério Paulo, da música como Fernando Lopes Graça e João Freitas Branco, entre outros, que mobilizava para acções comuns. O seu papel constituiu assim um importante factor de alargamento da frente intelectual antifascista, que nunca permitiu espaço de manobra e de credibilidade aos intelectuais servidores do regime.

Entrada para a clandestinidade

Quando Pires Jorge o convidou para passar à clandestinidade, José Dias Coelho estava num momento da sua carreira de escultor em que se abriam boas perspectivas, não só porque começava a ser conhecido e a receber críticas muito elogiosas, como aconteceu com as cabeças de Alves Redol, Fernando Namora e outras obras, como porque tinha recebido várias e importantes encomendas públicas e particulares de grupos escultóricos e baixo-relevos.

Foram estas perspectivas promissoras e esta carreira artística que ele abandonou em 1955, com a certeza de que não poderia (nem queria) voltar atrás, para encetar um caminho de dedicação total como funcionário do Partido, sabendo que a sua tarefa iria ser montar uma oficina de falsificação de documentos, bilhetes de identidade, licenças de bicicleta, cartas de condução, passaportes, etc., para defesa dos militantes clandestinos no trabalho de organização e nas relações internacionais do Partido. Tinha também à sua responsabilidade parte do aparelho de passagem de fronteira. Tudo tão diferente da sua vida de escultor e dos seus hábitos de convívio e tertúlias da agitada vida cultural da Lisboa de então.

Foi um trabalho que encetámos com a consciência da importância que representava para a defesa dos quadros funcionários; assim como compreendemos a necessidade de fotografar o arquivo histórico do Partido, para a sua redução a menores dimensões, mais fáceis de transportar e esconder e, por sugestão do camarada Álvaro Cunhal, aproveitámos a informação disponível de parte do arquivo para escrevermos um livro, que serviu para a divulgação da luta antifascista e do papel histórico do PCP na vanguarda desse duro combate. Livro que irá ser lançado no próximo dia 19 de Dezembro, na sua sétima edição e quarta em língua portuguesa.

Quando, em fins de 1960, inícios de 61, mudámos definitivamente de tarefa, José Dias Coelho passou a integrar a direcção partidária de Lisboa, com a responsabilidade do sector intelectual. Tomou então uma nova dimensão a sua extraordinária capacidade de alargar a influência política do Partido, factor fundamental para o fortalecimento da oposição ao fascismo no seu conjunto. Viviam-se tempos difíceis para a unidade antifascista, quando Salazar concentrava todas as forças do seu brutal aparelho repressivo contra o Partido e visava as principais personalidades da oposição democrática não comunista que considerava susceptíveis de alinhar com os comunistas, criando-lhes dificuldades a nível profissional, de emprego e carreira, fazendo-lhes uma marcação cerrada, com a sua eficaz táctica de intimidar e de tirar o pão aos adversários. Era notória a retracção entre muitos intelectuais e oposicionistas em relação aos contactos com militantes ou funcionários do Partido, além de que surgiam justificações de teor ideológico, que não eram mais do que cobertura para o medo da repressão.

O ano de 1961

É neste quadro que José Dias Coelho consegue fazer um importante trabalho unitário de preparação para as eleições de 12 de Novembro de 1961, graças, em grande medida, ao prestígio que ainda mantinha no meio, à sua capacidade de diálogo, num clima de tolerância e abertura, que não excluía a firmeza de princípios e convicções. A campanha da oposição decorreu num clima de uma larga agitação política que tinha como fulcro o repúdio e desmascaramento da guerra colonial iniciada no princípio do ano.

O ano de 1961 foi um ano de forte abalo no regime fascista, com o assalto ao paquete «Santa Maria» por Henrique Galvão, a guerra colonial, as manifestações contra a burla eleitoral em que foi assassinado um camarada em Almada, a fuga em 4 de Dezembro de um grupo de dirigentes comunistas no carro blindado de Salazar da prisão de Caxias, a queda de Goa, início da derrocada do império colonial português.

Salazar, desesperado e raivoso pelos sucessivos reveses que o regime vinha sofrendo, exigiu ao chefe da PIDE a intensificação dos métodos repressivos.

A partir de 15 de Dezembro foram efectuadas sucessivas prisões de camaradas da direcção do Partido.

José Dias Coelho, responsável de um sector extremamente vulnerável, foi detectado pela brigada da PIDE chefiada pelo criminoso José Gonçalves especialista da vigilância de rua, e, já agarrado por dois agentes, Manuel Lavado e Pedro Ferreira, assassinado com um tiro disparado no peito, à queima roupa, pelo pide António Domingues.

Um mês antes, ele tinha feito duas gravuras para o «Avante!» da segunda quinzena de Novembro: uma representava Cândido Martins caído na frente da manifestação de Almada contra a burla eleitoral e o retrato deste camarada. Foi o Zé que escreveu a legenda para a gravura: “De todas as sementes confiadas à terra, é o sangue derramado pelos mártires que faz nascer as mais copiosas searas”.