Sobre a Manifestação da CGTP de 12 de Outubro de 2006 – 13/10/2006

Foram muitos, aos milhares pelas ruas de Lisboa e vieram de todo o país. Manifestaram-se e gritaram. Mas porquê? Terá o Sol de Outono feito mal aos portugueses?

Gritam uns porque o Governo lhes retira a reforma a que têm direito: trabalharam uma vida inteira e não podem contar com uma velhice descansada. Dizem-lhes que o que descontaram está a servir para pagar as reformas actuais e, por isso, quando chegar a sua vez já não haverá dinheiro. O que fica por dizer é que o que descontaram está a pagar chorudas reformas a quem para elas não descontou …

Gritam outros porque querem trabalhar e não têm onde nem como ou se têm, só em condições precárias. É o princípio da flexibilidade e de que apenas com esta se promove o desenvolvimento económico.

Por este governo, a todos é dado um presente sem futuro.

Hoje na sociedade portuguesa jovens e seniores, trabalhadores e reformados, todos estão descontentes. Estão todos cansados que, em nome de um suposto rigor de governação, lhes sejam retirados direitos. Para além de cansados estão indignados, porque sabem que este rigor de governação atinge apenas uma parte dos portugueses. Sempre os mesmos: a força de trabalho.

Na anunciada reforma para a Segurança Social e em nome da crise, vale tudo: a redução de pensões; o aumento da idade da reforma; a retirada de direitos no emprego; a perda real do poder de compra; taxas moderadoras nos hospitais, etc. etc.

Portugal está na rua e protesta. Mas perante tantos protestos, como reage o seu principal destinatário? Com a indiferença de quem está num patamar tão alto que nem lhe chegam tais vozes. Como se escreve na imprensa de hoje, confundindo determinação com altivez e arrogância.

Quando os governantes se afastam dos destinatários da sua governação o primeiro sinal é menosprezarem as vozes discordantes, numa atitude autista, mas por vezes esquecem que a primeira consequência é ficarem isolados.

Se a situação do país é de crise que se avalie de quem é a responsabilidade. Se a crise não permite governar a favor de todos, então que não se governe apenas contra alguns: sempre os mais fracos, por ser mais fácil.

O protesto de ontem nas ruas de Lisboa foi mais do que um “aviso à navegação”. Para o Governo, ontem é que foi “sexta-feira 13”. Basta vermos os protestos já anunciados para a próxima semana, nos dias 17 e 18.

O futuro já começou e ontem milhares de portugueses deram o primeiro sinal de que querem outro presente e, sobretudo, de que não abdicam de ter nas suas mãos o seu futuro.

Odivelas, 13 de Outubro de 2006

Lúcia Lemos, Deputada Municipal da CDU