É usual perguntar-se, em jeito de cumprimento, como vai a saúde? É também é usual responder-se: vai bem, obrigada.
Este jeito de cumprimento, terá de ser alterado, nos dias que correm. A resposta mais adequada agora, quando nos perguntarem como vai a saúde terá de ser vai bem mal, obrigada.
Para esta alteração muito tem contribuído o actual ministro da Saúde.
Vejamos:
Continua a sua cruzada no fecho de serviços essenciais ao bem -estar das populações. Fecha as maternidades, fecha os centros de saúde. Quem precisa de serviços de saúde, tem de ir mais longe, por vezes até Espanha.
Mas como se não bastasse, teve agora algumas ideias luminosas:
Decidiu que até os funcionários públicos têm de justificar a sua incapacidade temporária para o trabalho com um documento do Centro de Saúde, certamente passado pelo médico de família. Mas não explicou como é isso possível, quando milhares de português não têm médico de família e os que o têm, esperam meses por uma consulta?.
Descobriu ainda que os portugueses recorrem aos internamentos hospitalares e a intervenções cirúrgicas por um impulso incontrolável de consumo.
Certamente, animados pelo conforto das camas dos hospitais e pela qualidade da comida que lá é servida, os portugueses concerteza fazem algum acordo secreto com os médicos para que estes os internem os lhes façam uma operação.
Ora, assim sendo, é necessário moderar este impulso consumista dos portugueses e se é para moderar aplica-se uma taxa moderadora.
As taxas moderadoras na saúde foram uma descoberta, também ela luminosa, de uma antiga ministra da Saúde de um governo do PSD. Pelos vistos o actual ministro, segue-lhe o exemplo, mas com maior requinte.
Já na altura, a introdução das taxas moderadoras foi explicada, não por razões financeiras, mas para evitar que as pessoas fossem passar tempo para os hospitais. Também na altura, se explicou que o que se recebia de taxas moderadoras não chegava para pagar os custos que se faziam com pessoal, papel, etc. para as cobrar.
Curiosamente, agora a explicação é semelhante. Quando questionado se as taxas moderadoras nos internamentos e operações eram para resolver o défice do ministério da saúde, o Sr. Ministro, foi categórico. “Não, o que se vai receber é tão insignificante que não tem esse objectivo. É apenas para moderar o consumo……, para moralizar……”
Há qualquer coisa de difícil entendimento nestas decisões. Se o valor das taxas moderadoras é tão baixo que nem sequer ajuda ao défice crónico do ministério da Saúde, a sua eficácia será forçosamente nula, pois qualquer pessoa as poderá pagar.
Esta luminosa ideia das taxas moderadoras, não tem por objectivo moderar qualquer impulso consumista. Tem sim um outro fim político, esse muito mais perverso: aprofundar a ideia iniciada pela tal srª ministra do governo do PSD de que a saúde não é um direito dos portugueses. E se não é um direito dos portugueses, logo não é uma obrigação do Estado Português.
Esta cruzada da privatização dos serviços de saúde, já iniciada há alguns anos, ainda não terminou. Gradualmente os governos do PSD e do PS se vão afastando daquilo que um verdadeiro socialista idealizou para a saúde em Portugal. O serviço Nacional de Saúde universal e gratuito que teve a assinatura de António Arnaut é hoje já quase uma miragem.
Por estas razões e por muitas outras que são do conhecimento de todos nós, a saúde dos portugueses não vai bem vai, obrigada. Vai mal, muito mal. A saúde em Portugal meus senhores, está muito, muito doente.
Odivelas, 28 de Setembro de 2006
Lúcia Lemos, Deputada Municipal da CDU