A questão dos endividamentos

Quem se não lembra ainda de, nos primeiros governos constitucionais, os primeirosministros de serviço a cada turno se lamentarem de que, se pediam sacrifícios aos portugueses, em especial aos trabalhadores que são sempre os que estão mais à mão para os fazer, isso se devia aos desvarios do “Gonçalvismo” que tinha desbaratado os fundos da Nação e deixado o país endividado, aumentando os vencimentos de quem trabalha, estabelecendo direitos a reformas, férias, subsídios e outros horrores, como por exemplo a aberração da fixação do ordenado mínimo nacional que agora tantos engulhos provoca a quem governa, com as constantes exigências para que se proceda à sua mais do que justa actualização.

 

O problema é que estas aldrabices fizeram o seu percurso, entretanto foram esquecidas e poderão, quem sabe, ainda vaguear em algumas cabeças.

 

Importa por isso fazer um levantamento histórico, breve tanto quanto possível, sobre essa magna questão dos endividamentos.

Assim:

– Em 1975, com o governo provisório do general Vasco Gonçalves, a dívida do país situava-se na ordem dos 500 milhões de euros e representava 20% do Produto Interno Bruto.

– Até 1980, em governo do PS liderado por Mário Soares, essa dívida passou para 2.100 milhões de euros.

– De 1980 a 1982, os governos AD (PPD, CDS e PPM) dos primeiros ministros Sá Carneiro e Pinto Balsemão, são responsáveis pelo aumento da dívida do país em 2.700 milhões de euros, passando-a de 2.100 para 4.800 milhões de euros, correspondente a 41,7% do PIB.

– De 1983 a 1985 foi a vez do governo do Bloco Central, constituído por PS e PSD e chefiado por Mário Soares aumentar a dívida em 8.100 milhões de euros, atingindo o valor de 12.900 milhões de euros, ou seja, 58,4% do PIB.

– De 1986 a 1995 tivemos os governos Cavaquistas, que aumentaram a dívida em 39.062 milhões, estabelecendo o respectivo record em 51.962 milhões, que representava 59,2% do PIB, mesmo tendo obtido de receita mais de 5.032 milhões na venda de património público.

– Em 1996 entrou em funções o governo do PS liderado por António Guterres que, reconduzido num segundo mandato, debandou em 2001. Mesmo assim, nos 5 anos em que foi governo, acrescentou ao record mais 16.469 milhões, fixando-o em 68.431 milhões (50,9% do PIB) apesar das receitas recebidas das privatizações efectuadas, no valor de 16.101,3 milhões de euros.

– Entre 2002 e 2004, os governos PSD/CDS de Durão Barroso e Santana Lopes, fiéis ao princípio de que os records são para se bater, aumentaram a dívida do país em mais 15.602 milhões, passando-a para 84.033 milhões (56,5% do PIB), mesmo tendo recebido das privatizações 1.377 milhões de euros.

– De 2005 a 2010 tivemos alguém mais ambicioso nas marcas a alcançar nesta corrida ao record de que se fala. José Sócrates, ao leme de mais um governo PS, meteu mãos à obra e endividou o país em mais 77.067 milhões de euros, fixando historicamente (pensava ele…) a respectiva marca em 161.100 milhões, representativa de 93,2% do PIB, números ainda assim aligeirados pela venda de património público no valor de 4.914,9 milhões de euros.

– Até que, a partir de 2011, o que parecia impossível aconteceu. A marca de José Sócrates, que o próprio julgaria inultrapassável, foi pulverizada por Passos Coelho e o seu governo PSD/CDS. A dívida cresceu mais 45.300 milhões e alcançou já, e até ver, os 206.400 milhões de euros, o que corresponde a 123,7% do Produto Interno Bruto, não estando aqui sequer contabilizados os milhões obtidos na venda a retalho e por grosso de sectores estratégicos para a sobrevivência do país.

Parte da explicação para tão grande desastre parece já ter sido encontrada pelos crânios que servem o governo. A culpa, afinal, continua a ser da “herança gonçalvista”. Dos direitos conquistados e consagrados na Constituição da República Portuguesa, mesmo a contragosto de alguns que a aprovaram.

Ah, é verdade, as autarquias locais também são responsáveis. Estrangulem-se então financeiramente as Câmaras Municipais e eliminem-se centenas de freguesias e o problema ficará, se não resolvido, pelo menos em vias de o ser.

Haja paciência para suportar tanta irresponsabilidade!

Odivelas, 28 de Fevereiro de 2013
Os eleitos da CDU na
Assembleia Municipal de Odivelas