28.03.2007
Declaração Política Sobre Pobreza e Desigualdades
Os contrastes na sociedade portuguesa são cada vez mais acentuados. A riqueza ostentada por um pequeno grupo que vê ano após ano a sua fatia do bolo aumentar, choca com a condição de muitos outros para que diariamente se confrontam com a falta de meios que garantam a sua subsistência.
São várias e insuspeitas as fontes que dão conta desta realidade.
O Eurostat, reportando-se a 2005, refere que os dados sobre a repartição dos rendimentos em Portugal indicam que os 20% da população com rendimentos mais elevados receberam 8,2 vezes mais rendimentos do que os 20% com rendimentos mais baixos, ao passo que na UE25 a média é de 4,9 vezes.
A Comissão Europeia, num recente relatório sobre protecção e inclusão social, coloca Portugal como um dos países com menos justiça social de entre os actuais 25 que constituem a União. De acordo com esses dados, a população portuguesa em risco de pobreza situa-se em 20%, i.e., atinge um em cada cinco portugueses. O nosso país apenas é ultrapassado pela Lituânia e pela Polónia.
Por sua vez, no relatório da UNICEF sobre o bem-estar das crianças dos 21 da OCDE, publicado no passado mês de Fevereiro, Portugal ocupa os últimos lugares no ranking do bem-estar infantil, sendo mesmo o último no que respeita bem-estar educativo.
Foi isso que constatámos nas visitas efectuadas às seis instituições do Banco Alimentar no nosso concelho. No seu conjunto prestam apoio a cerca de 670 famílias que totalizam mais de 2.500 pessoas.
Trata-se de famílias monoparentais, famílias numerosas, famílias com pessoas idosas, com desempregados… Em suma, pessoas em situação de grande vulnerabilidade a quem o Estado tem a obrigações de apoiar e proteger mas que simplesmente ignora.
No dia e hora estabelecido lá estão para levar o saco de comida que dará para uma semana ou um mês, conforme a natureza dos alimentos e as condições da instituição para os fornecer. Alguns têm um cartão onde os levantamentos são anotados.
É um quadro que nos transporta para o Portugal dos piores anos do século passado em que se fazia a apologia da pobreza.
É um quadro indigno de um país que tem inscrito na sua Constituição os direitos económicos, sociais e culturais, dos quais os governos têm feito tábua rasa.
Não somos daqueles que têm uma visão fatalista da pobreza e é por isso que nos indigna o facto de em pleno século XXI haver cada vez mais quem dependa da boa vontade, da dádiva, para subsistir.
Odivelas, 28 de Março de 2007
Os Vereadores da CDU