América Latina, onde também se rasgam caminhos para o futuro.
Manuel Gouveia
(publicado Jornal da Voz do Operário)
O projecto imperial da “pax americana”, que atolou as “legiões”(*) americanas a milhares de quilómetros da fronteira da “nova Roma”, tinha por dado adquirido a subjugação dos povos da América Latina às mãos de uma oligarquia entreguista e apoiada no império.
Mas confrontados com as consequências sociais e económicas das políticas com que as burguesias nacionais e a burguesia internacional procuram perpétuar os seus previlégios, os povos da América Latina rasgam caminhos de esperança e de futuro.
A liberdade avança
O projecto de avanço na formalização da colonização da América Latina, a que chamaram ALCA, está hoje derrotado, e em oposição, avança o ideal bolivariano do aprofundamento da cooperação justa entre nações.
Cuba Socialista resiste ao cerco e às agressões, aumenta o seu prestígio internacional, reforça os laços de cooperação com os povos do Continente, e coloca as conquistas do socialismo ao serviço da emancipação de toda a América Latina, nomeadamente fornecendo médicos, enfermeiros, professores e bolsas de estudo.
A Revolução Venezuelana resiste e avança, firmemente apoiada na maioria do povo, das camadas mais desfavorecidas da população. Aponta já claramente o Socialismo como objectivo da Revolução, derrota uma atrás de outra as tentativas das classes exploradoras retomarem o poder político, assume como linha estratégica o reforço da cooperação de todos os povos da América Latina.
Na Colômbia, o “Plano Colômbia” imposto pelos EUA e a oligarquia colombiana como a ofensiva final, esbarrou na realidade do apoio popular à luta e reivindicações das FARC, e traduziu-se numa sucessão de derrotas militares do Exército Colombiano.
Na Bolívia, o governo de Evo Morales mantém uma política anti-imperialista, apoiada nas vastas massas de explorados.
No Brasil, a reeleição de Lula da Silva significa antes de tudo que uma direita antidemocrática, repressiva, neoliberal, antinacional e anti-social foi novamente derrotada nas urnas, e apesar das fragilidades da prática política evidenciadas no primeiro mandato, coloca a mais populosa nação da América Latina fora da subserviência ao imperialismo.
No Equador e na Nicarágua, vencem as eleições presidenciais candidatos de “esquerda”, cuja prática política ainda terá de demonstrar o seu efectivo anti-imperialismo, mas cuja eleição é já a demonstração do amadurecimento da consciência política em vastas massas da população dos seus países.
No México, é derrotado nas eleições o candidato da oligarquia e do império, obrigando estes à falsificação grosseira dos resultados eleitorais(**) , mantendo o poder político por via de um autêntico golpe de estado, mas intensificando todas as contradições sociais, e somando novas energias a um movimento popular anti-imperialista com profundas raízes históricas e sociais.
No Uruguay, no Chile e na Argentina a direita mais reaccionária está afastado do poder político, abrindo novas possibilidades à intervenção do movimento popular e anti-imperialista.
A reacção não desiste
Perante o avanço da liberdade na América Latina, o Império reforça a sua ingerência, firmemente apoiado nas classes exploradoras dos respectivos países: anuncia novos planos de agressão contra Cuba; multiplica as ingerências, planifica golpes de estado, organiza e legitima fraudes eleitorais; instrumentaliza os governos ainda ao seu serviço para destruir qualquer projecto de cooperação multilateral entre as nações da América Latina.
As derrotas sofridas pelo Império, até ao momento, não alteraram ainda a correlação de forças no plano internacional. Tornaram apenas mais evidente que a história não terminou.
Na América Latina vai-se intensificar a luta em torno da contradição entre os interesses dos povos colonizados e da grande burguesia da potência colonizadora.
A horda de assassinos e torturadores, que treinados nos EUA, foram lançados sobre a América Latina nos anos 70 para conter o avanço das forças anti-imperialistas, não pode neste momento ser esquecida. E os criminosos que já mataram mais de 650.000 iraquianos sabem que o seu poder – nacional e internacional – depende da rapina dos recursos dos outros países.
Mas os povos do mundo também estão a (re)aprender que o conjunto das suas lutas nacionais, recuando aqui, resistindo ali, avançando acolá, mas enfrentando sempre o imperialismo e as burguesias nacionais ao seu serviço, é uma força gigantesca capaz de derrotar todos os impérios.
(*) Tal como as legiões romanas do fim do império, as tropas imperiais dos EUA são hoje constituídas essencialmente por mercenários em busca da cidadania plena.
(**) O candidato da oligarquia é eleito com um “resultado” de 35.89%, e uma vantagem de 0.58%. As fraudes foram denunciadas por múltiplos observadores internacionais. Mais de 2 milhões de pessoas participaram em manifestações exigindo a recontagem dos votos. Os EUA apressaram-se a considerar as eleições justas. Na Ucrânia, tudo na aparência foi o oposto. Mas tudo na realidade foi similar: o que importava era eleger o candidato comprometido com os interesses imperiais. Assim vai caindo a máscara de “democratas” do Império, e da sua Comunicação Social, que fez o possível por silenciar os acontecimentos no México e por amplificar os da Ucrânia.