O estado a que isto chegou – 27/11/2008

DECLARAÇÃO POLÍTICA DOS VEREADORES DA CDU

O estado a que isto chegou

Portugal está
confrontado, hoje, com um dos períodos mais negros da sua
história pós-25 de Abril. A arrogância, a
prepotência, a política do vale tudo para tirar o que
resta aos que pouco têm para engordar, ainda mais, os já
obscenamente anafados senhores do grande capital, é imagem de
marca deste governo, suportado por um partido ridiculamente
auto-proclamado de “socialista”.

É assim que
o actual governo do PS alcança uma proeza quase inédita.
Consegue ter contra si praticamente todas as camadas da população.
Já não são apenas os trabalhadores os bombos da
festa neoliberal, embora continuem a ser estes os principais
financiadores das orgias dos mais poderosos.

Com o agravar da
crise provocada por esses senhores, também as pequenas e
médias empresas sufocam com a corda na garganta.

Os utentes dos
serviços públicos a quem são esbulhados os mais
elementares direitos constitucionalmente consagrados, seja na
educação, na saúde e noutras áreas,
manifestam-se por todo o lado contra o desprezo com que são
tratados por aqueles em quem confiaram, muitos deles com o seu voto.

Os professores e
alunos não aceitam ser humilhados e ofendidos por uma senhora
ministra que, completamente desorientada, apenas tem o argumento do
poder e o apoio do seu chefe para continuar a tresloucada política
de terra queimada em que pretende enterrar a escola pública.

Os serviços
de saúde de proximidade continuam a encerrar, provocando a
angústia e a indignação em populações
inteiras, que se vêm assim ameaçadas de não
terem, em tempo útil, a assistência médica de que
careçam com urgência. E quando aqui se fala de tempo
útil, está-se a falar de vida, ou de morte!

Os
trabalhadores da Administração Pública estão,
ainda e mais uma vez, confrontados com o ódio que lhes é
votado por aqueles que mais os deveriam apoiar. Através da
campanha continuada (que tem colhido os seus frutos, valha a
verdade…) de os apresentar como uns privilegiados, só
porque a sua luta de décadas lhes permitiu alcançar
alguns direitos que qualquer sociedade minimamente decente nunca
poderia pôr em causa, insiste-se, “modernamente”,
pois claro…, em retirar-lhes esses direitos porque, em nome
da justiça igualitária, dizem eles,
todos os
trabalhadores devem estar ao mesmo nível de condições
de vida. E é com esta lógica do tempo da pedra lascada
que, em vez da aproximação dessas condições
se fazerem no sentido do progresso e do futuro, se fazem no sentido
inverso, rumo ao século XVIII. Mas com métodos muito
modernaços, evidentemente…

Ficamos à
espera que, segundo este raciocínio, este governo se lembre de
aproximar todos os vencimentos, incluindo os dos gestores públicos
e privados, não esquecendo o do Sr. Governador do Banco de
Portugal, ao ordenado mínimo nacional. Haja coerência!

Talvez
o Magalhães do dá (para as acções
de propaganda do primeiro ministro) e do tira (quando se
verifica que a banha da cobra vendida é mais uma fraude), como
aconteceu recentemente numa escola de Ponte de Lima, seja a salvação
deste país. Talvez… Há sempre gente disposta
(designadamente entre os boys e as girls que gravitam na área
do poder) a defender tal absurdo.

O famigerado
código do trabalho é outra das peças encontradas
para fazer voltar o tempo às catacumbas da civilização.
Que teve a escravatura como etapa de passagem, que julgávamos
já ultrapassada, antes destes iluminados que nos desgovernam
terem obtido uma maioria absoluta que os convenceu de que poderiam
dar vazão aos seus desvarios pseudo-democráticos,
destruindo tudo o que de progressista foi conquistado com o 25 de
Abril.

Bem
sabemos que todos estes esbulhos ao bolso, à dignidade e ao
bem-estar do povo que trabalha tem objectivos claros. Poupar dinheiro
ao “estado”, que pode fazer falta para coisas bem mais
importantes. Por exemplo, para a redução do sacrossanto
deficit. Por exemplo, para socorrer prontamente os bancos privados
que vão falindo devido aos roubos descarados dos seus
administradores, nacionalizando “responsavelmente” os
desfalques praticados, eufemisticamente rotulados de prejuízos,
e para proteger os depositantes e respectivas famílias,
dizem ainda eles com a maior desfaçatez deste mundo.

Mais tarde, porque
esta coisa das nacionalizações é uma obra do
diabo, dos comunistas (e até dos socialistas, imaginem…)
e se agora se fizeram foi para salvar a economia de mercado (isto
parece anedota, não parece?), quando a situação
se normalizar e a coisa voltar a dar os lucros obscenos da praxe,
volta-se a entregar aos mesmos parasitas que os delapidaram. É
fácil, é barato (para eles) e dá milhões.

Muito mais haveria
a dizer sobre a dramática situação a que este
país chegou, fruto das políticas irresponsáveis
dos governos que temos tido, com especial incidência neste
último. Mas o espaço e o tempo são curtos.

Terminaremos,
assim, por manifestar a nossa expectativa por saber o resultado da
disputa entre o Sr. Engenheiro Sócrates e o Sr. Dr. Alberto
João Jardim, que consiste em saber qual dos dois é o
homem mais de esquerda. O confronto está renhido, é
ridículo mas real, e não fosse a situação
muito séria que atravessamos, essa luta estaria a dar-nos um
gozo que nem imaginam.

Para terminar
mesmo, uma mensagem de esperança, que nos é transmitida
pela luta sem tréguas de um povo que está na rua, em
volta das suas organizações de classe ou de comissões
de utentes, que diariamente ensinam a este governo que “O Povo
Unido Jamais Será vencido”.

Odivelas, 27 de Novembro de 2008