Informação sobre a Actividade do Município – desemprego
Meus caros concidadãos, camaradas uns e adversários outros, eleitos nesta Assembleia Municipal. Vivemos num tempo de perplexidades, onde para os uns o que parece é e já há muito se previa, e para os outros nem pensar nisso, não é bem assim, ora essa, as coisas estão bem encaminhadas, são precisos sacrifícios agora para mais tarde o futuro ser risonho, qual paraíso anunciado no velhíssimo testamento do padre eterno.
Há trinta e tal anos que os trabalhadores e a generalidade do povo português ouvem esta ladainha, monocordicamente repetida pelos partidos do costume após ganharem as eleições da época, ao mesmo tempo que rasgam sem pudor as posições “de oposição” que alardeavam antes de serem poder. Não seria necessário referi-lo, por tão evidente, mas para que não nos acusem de falta de coragem política, sempre diremos que nos referimos ao PS e ao PSD, não esquecendo o habitual pendura de algumas ocasiões conhecido pela sigla de PP (CDS à moda antiga).
Vem isto a propósito dos dados tornados públicos pelo INE, referentes à taxa de desemprego verificada no primeiro trimestre de 2007, que deu conta do maior aumento desta chaga social desde o ano de 1992.
Informou também o INE que o desemprego aumentou 0,7% face ao mesmo período do ano passado (2006).
Sendo a taxa de desemprego o indicador mensurável da saúde da economia de um país, «e nós, quando falamos em saúde da economia, estamos a referir-nos ao bem-estar das pessoas, das famílias, da sociedade em geral ao serviço de quem a economia deve estar, e não aos algarismos que comprovem a eventual redução de umas décimas no défice, glória suprema do governo que temos e de quem o (e dele) se serve», não é difícil a qualquer ser minimamente responsável concluir que, a não ser radicalmente invertida esta tendência, Portugal não estará longe de dar o tal passo em frente, rumo a um abismo de que se não conhece o fundo mas do qual, sabemos nós de ciência certa, o povo deste país há-de descobrir a saída. Porque, e isto não é original nosso, “pode-se enganar uma pessoa durante muito tempo, mas não é possível enganar eternamente um povo inteiro”.
Entretanto, o governo, sistematicamente, vem “revelando” na comunicação social outros dados, fornecidos pelo IEFP e baseados nos registos dos Centros de Emprego, que procuram desesperadamente dar uma imagem, não diremos cor-de-rosa porque nem isso já é possível, mas menos negra do que a realidade demonstra.
E é assim que nos têm vindo a dizer que há menos inscritos nos Centros de Emprego e, portanto, há menos desempregados. Esquecem-se contudo de nos informar como chegam aos números com que agridem a nossa inteligência. Das engenharias administrativas verdadeiramente acrobáticas que praticam para demonstrar o indemonstrável. Dos imensos falsos empregos com recurso ilegal aos chamados “recibos verdes”. Dos “empregos” precários pagos ao mês, à semana e à hora que querem fazer alargar a todos os trabalhadores (os trabalhadores da Administração Pública estão a ser, também aqui, as cobaias necessárias ao alastrar do crime). Tudo isto e muito mais serve para, continuando os trabalhadores realmente no desemprego (ou sub-emprego, na melhor das hipóteses), permitir aos governantes atirar-nos à cara com números mentirosos.
E depois, que jeito dá ao poder constituído (seja o capital que tudo comanda seja o governo que o serve), ter ao seu serviço trabalhadores com vinculo precário, com salários miseráveis e sem nenhuma garantia de futuro. Trabalhadores sujeitos, se não agradarem ao patrão, ao capataz ou ao chefe ocasional, a irem para a rua mal o contrato chegue ao seu termo. E para desagradar àqueles senhores, nós sabemos que basta a mais ténue reivindicação formulada em voz alta, a participação numa manifestação, a adesão a uma greve. É o medo que volta a imperar neste país, é pelo medo que se tenta convencer a populaça da bondade das medidas governamentais, com a ajuda de alguns serventuários, a troco da promessa de umas parcas migalhas que, naturalmente, virão a receber ou não.
Porque a nova doutrina “democrática” que se pretende impor é esta: Em Portugal há todas as liberdades democráticas. Mas como vivemos no melhor dos mundos possíveis, quem se atrever a exercê-las é comunista e, portanto, deve ser combatido, controlado, perseguido e, se possível, despedido. A bem da Nação, evidentemente.
Ainda bem recentemente, aquando da greve geral de 30 de Maio, tivemos um exemplo bem triste desta realidade, que alguns comentadores encartados e politólogos assalariados, todos eles, no fundo, paleolíticos enrolados na capa já gasta da propagandeada “modernidade”, procuraram desesperada mas inutilmente branquear, lançando para outros o anátema da sua própria degeneração.
Podíamos ainda mais uma vez referir-nos, se para tal dispuséssemos de tempo, ao assalto que se intensifica ao nível de vida de quem trabalha, reduzindo-se drasticamente o seu direito à saúde, querendo impor horários de trabalho diários só imagináveis há uns bons séculos atrás, enfim, fazendo regredir este país a tempos bem próximos da idade da pedra lascada. E fazem-no, imagine-se, em nome da “modernidade”. Que insulto aos heróicos trabalhadores de Chicago que com a sua luta pelas oito horas de trabalho diário deram origem às comemorações do 1.º de Maio. Dia que, hipocritamente, os autores destes desvarios também comemoram ou fingem comemorar, com discursos lindos de morrer e sem noção do ridículo em que caem.
Não, meus senhores, não estamos a exagerar. E por isso apelamos a todos aqueles que prezam realmente a liberdade em todas as suas componentes, para que se dispam de preconceitos e parem para pensar um pouco sobre a realidade que os cerca. Porque o dramático futuro para que nos encaminham vai ter responsáveis. E os nossos filhos e netos irão, concerteza, exigir-nos explicações sobre o mundo que lhes deixámos. Possamos todos responder, sem vergonha, a essa exigência.
Odivelas, 28 de Junho de 2007.
Adventino Amaro, Deputado Municipal da CDU