Fica na zona mais nobre e antiga da cidade, rodeada de muralhas e edifícios históricos, alguns deles classificados, dali se avista o castelo e o casario da Mouraria, tem uma capela quinhentista, é lá o ponto de partida do afamado eléctrico 28, tão frequentado por turistas e carteiristas. E no entanto é uma das praças mais desinvestidas da cidade. Como uma maldição, na praça Martim Moniz sucederam-se, através das décadas, erros e atropelos urbanísticos, os mal-amados edifícios dos centros comerciais, um
parque de estacionamento subterrâneo, os medonhos quiosques, pequenas-caixas fortes, que acabaram, naturalmente por se tornarem decrépitos.
Mas, como com este executivo PS, as coisas más ainda podem piorar, foi apresentado um projecto de ocupação (uma concessão privada, claro, até 2038) daquela infeliz praça que consistia em meia centena de contentores para exploração comercial, com mais de 1 700 metros quadrados de área ocupada e seis metros de altura, sendo a praça vedada aos moradores. Uma praça enlatada, portanto, rodeada de carros e… um muro.
O PCP opôs-se de imediato (com todas as armas que tem ao seu dispor na Assembleia de Freguesia de Santa Maria Maior, na Assembleia Municipal e na Câmara Municipal de Lisboa), ao lado da contestação dos residentes, associações e da comunidade que reclamavam a praça para a sua livre e mais do que legítima fruição.
Em suma, o que a CML tolerava, sem dar explicações, não tinha nada a ver nem com requalificação, nem com interesse público, nem com embelezamento da cidade, nem com espaços verdes, nem com zonas de lazer inclusivas, nem com alguma ambição artística ou histórica que valorizasse o lugar, tendo em conta a privilegiadíssima localização…
Ao arrepio de todas as lógicas urbanísticas, arquitectónicas, paisagistas, a ideia era martirizar ainda mais a praça, tornando-a um depósito de 50 mamarrachos de alumínio, com total desrespeito pela envolvência histórica e cultural e pelos moradores.
Um centro comercial a céu aberto e murado. Bonito serviço. Às vezes mais parece que a cidade é governada por autarcas que detestam Lisboa, e vai de estragar ainda mais o que já estava estragado.
A praça do Martim Moniz é hoje uma cicatriz mal suturada, e cada vez que aparece um novo cirurgião, ainda lhe abre mais uma ferida e inflama um ponto. Mais uma concessão transferida sem discussão prévia, sem prestação de contas, mais um pedaço da cidade que nos é retirado para entregar a privados.
Pois claro, bancos de jardim, espaços verdes, parques infantis, parque de cães, zonas de lazer não dão lucro.
Mas desde quando uma praça tem de ser lucrativa? Graças à acção do PCP e à forte motivação popular, o projecto foi suspenso.
Porque a cidade é mais importante até do que contratos previamente estabelecidos.
Porque as praças são de todos. E o dever de um autarca é resgatar o que sempre deveria ser público para o público.