TIMOR LESTE E O COLONIALISMO NO SECÚLO XXI
Manuel Gouveia
Mario Alkatiri e a Fretilin tinham um caminho fácil a percorrer para contarem com o apoio efusivo da “Comunidade Internacional”: o primeiro, abrir uma conta na Suíça, e ambos, trair o povo Timorense, entregando os seus recursos às potências imperialistas.
Felizmente, ainda existe na espécie humana um significativo lote de exemplares cuja espinha dorsal não se transformou em borracha, e teimam em seguir os caminhos difíceis e arriscado que são os únicos que hoje permitem governar um pequeno país com dignidade e independência.
Porque o enfrentamento com a “Comunidade Internacional” era inevitável: resulta da contradição entre um povo que se sabe independente e uma “comunidade internacional” que o vê como um território a colonizar.
O “apoio ao desenvolvimento”
O Imperialismo ofereceu a Timor o mesmo negócio de sempre: um quilo de chouriço em troca de todas as varas de porcos do país, e tropa para proteger o negócio. A Fretilin recusou, e encontrou projectos mais justos para a exploração dos recursos energéticos do país.
Cuba Socialista ofereceu a Timor o envio de médicos cubanos para melhorar o sistema de saúde nacional e abriu as suas Universidades para que milhares de Timorenses pudessem obter formação superior. A Fretilin aceitou.
De imediato, a reacção interna e externa utilizou o papão do comunismo. O objectivo era evidente: afastar a discussão dos factos objectivos – que apoios e projectos eram apresentados ao Governo de Timor, quais as suas vantagens e desvantagens – e transporta-la para um patamar subjectivo, onde as decisões seriam tomadas por teimosia ideológica, abrindo caminho à propaganda, à falsificação e à mentira, áreas onde o Imperialismo conta com os melhores especialistas.
O Golpe de Estado
Ao longo da suja e criminosa história do Imperialismo, este patrocinou centenas de golpes de estado e conduziu dezenas de ocupações militares, com o objectivo de aumentar o seu controlo sobre outros Estados.
Convém recordar o golpe de estado que implantou a ditadura de Suharto na Indonésia (e o milhão de mortos que implicou) bem como a invasão e ocupação de Timor pela Indonésia (e o rol de crimes que quase 30 anos de ocupação significaram). Ambos os acontecimentos dirigidos pelo Imperialismo norte-americano, como está amplamente documentado.
A complexa crise política e institucional hoje instalada em Timor, cujo desfecho não é ainda claro, resulta antes de mais da ingerência do Imperialismo, com o objectivo de transformar Timor num protectorado.
O afastamento do Governo eleito de Mario Alkatiri e a colocação de tropas coloniais no terreno são o resultado de uma provocação montada pelo imperialismo, mas os seus objectivos exigem a destruição e capitulação da Fretilin. O Golpe de Estado está em curso, mas ainda pode ser derrotado.
O Estado “inviável”
Uma das teses com que o Imperialismo tenta disfarçar a sua acção criminosa, é de que existem povos que não são capazes de se governar a si próprios. Sem uma presença pacificadora e civilizadora externa, mergulhariam na guerra civil e no caos.
Quer na Austrália quer em Portugal essas teses foram recentemente repetidas a propósito de Timor. São as mesmas que justificaram a invasão indonésia em 75.
Esta tese tem um fundo de verdade: as tensões existem em todas as sociedades, resultam da sua própria divisão em classes com interesses antagónicos; centenas de anos de exploração e opressão colonial traduzem-se em sociedades com aparelhos produtivos muito enfraquecidos, em Estados muito debilitados do ponto de vista dos meios humanos, técnicos, científicos e sociais.
Mas o que esta tese esconde é que por trás dos acontecimentos de 1975, tal como dos de 2006, está o Imperialismo, a minar as instituições democráticas, a estimular a rebelião armada, a prometer o apoio da sua máquina militar às minorias de exploradores, a comprar dirigentes, a lançar campanhas de intoxicação, etc., etc., etc..
A verdade é que é muito difícil uma nação sair de 500 anos de exploração colonial e construir um caminho de progresso económico e social, num mundo dominado pela ditadura terrorista do capital monopolista, no mundo em que vivemos.
Mas essa dificuldade não reside nos povos, mas no obstáculo que é preciso vencer: a permanente e sistemática ingerência imperialista, cujos recursos e força são infinitamente superiores.
E se há lição que devemos colher da história recente de Timor é exactamente a de que mesmo perante as maiores dificuldades, os povos encontram os caminhos para resistir e para avançar.
Toda a Solidariedade à Fretilin e ao Povo Timorense
O direito à autodeterminação do povo Timorense está mais uma vez ameaçado. Tal como no passado, a multiplicação de acções de solidariedade com o povo Timorense e com a Fretilin são um imperativo, e um importante contributo para a luta que está a travar.
Uma luta com implicações no futuro de Timor, mas com implicações em todo o mundo, pois o imperialismo que quer apropriar-se do petróleo de Timor é o mesmo que encerra a Opel, que bombardeia a Palestina, que ocupa o Iraque e quer destruir a Segurança Social portuguesa.