Iniciativa de Homenagem a Manuel Guedes realizada em Lisboa

«Estamos hoje aqui para, a propósito do centenário do seu nascimento,
prestar homenagem ao camarada Manuel Guedes. Revolucionário firme e
convicto. Destacado dirigente comunista. Ou, como referiu o camarada
José Vitoriano no seu funeral em Março de 1983 “um revolucionário que
dedicou o melhor da sua vida à causa operária, à causa dos oprimidos, à
luta contra o fascismo, contra a exploração, pela liberdade e pela
democracia”.» Foi com estas palavras que Armindo MIranda iniciava a sua intervenção na iniciativa de Homenagem a Manuel Guedes no centenário do seu nascimento realizada ontem. Uma intervenção que pode ler na integra em Ler Mais.

Boa tarde, camaradas e amigos!

Estamos hoje aqui para, a propósito do centenário do seu nascimento, prestar homenagem ao camarada Manuel Guedes. Revolucionário firme e convicto. Destacado dirigente comunista. Ou, como referiu o camarada José Vitoriano no seu funeral em Março de 1983 “um revolucionário que dedicou o melhor da sua vida à causa operária, à causa dos oprimidos, à luta contra o fascismo, contra a exploração, pela liberdade e pela democracia”.

Manuel Guedes nasceu a 14 de Dezembro de 1909, aqui bem perto, na freguesia da Sé, em Lisboa.

Marinheiro da Armada. O seu nome, como marinheiro revolucionário e militante comunista, ficou indissociavelmente ligado à criação da ORA – Organização Revolucionária da Armada, organização que gozava de grande prestígio no seio dos marinheiros e de importantes sectores democráticos e antifascistas. A ORA chegou a ser, naquela época, a mais dinâmica e influente organização do PCP, representando mais de 20% dos seus efectivos.

A «Revolta dos Marinheiros» de 8 de Setembro 1936, impulsionada pela ORA, apesar de derrotada, permanece como uma data histórica na longa luta do povo português contra o fascismo e pela liberdade.

Manuel Guedes fez parte das juventudes comunistas e em 1931, com 22 anos, aderiu ao PCP.

É preso pela primeira vez, em Junho de 1933, na tipografia que editava «O Marinheiro Vermelho», tendo sido condenado pelo Tribunal Militar Especial, em 18 meses de prisão.

Queremos informar os camaradas e amigos que, o Partido vai editar nove números do Marinheiro Vermelho. Este órgão da ORA que desempenhou um importantíssimo papel no esclarecimento  e na unidade dos jovens marinheiros. 

Em Janeiro de 1935, é restituído à liberdade e de seguida expulso da Marinha.

Retorna imediatamente à actividade clandestina, integrando, sob a direcção de Bento Gonçalves, a comissão de organização do Partido.

Em Abril de 1935 é novamente preso, quando realizava uma reunião da ORA.

Em Maio de 1936, na 4ª e última sessão do julgamento, a que estava a ser sujeito, trocou as voltas à polícia política e evadiu-se do Tribunal Militar Especial.

Um mês depois é enviado pelo Secretariado do Partido, em missão partidária a Espanha, onde é preso conjuntamente com Joaquim Pires Jorge.

Quando em Julho de 1936 rebenta a Guerra Civil, encontrava-se na prisão de Cáceres tendo estado na iminência de ser fuzilado pelas tropas franquistas que ocuparam a cadeia.

No bonito e muito digno momento cultural que nos foi proporcionado na primeira parte desta nossa iniciativa, Já nos foi falado de um livro que o camarada Manuel Guedes escreveu e onde relata a impressionante experiência vivida nesta prisão espanhola. Trata-se de um pequeno livro cuja leitura é, sem dúvida, de uma extraordinária utilidade para os militantes comunistas. E podem fazê-lo através do site do nosso Partido. Permitam, camaradas e amigos que leia mais um pequeno parágrafo, deste livro onde são relatados os monstruosos crimes cometidos pelos fascistas espanhóis, a mando do ditador Franco durante a guerra civil de Espanha. Passo a citar.

“Quando, por fim, chegou o instante de dar o último abraço ao irmão, o abraço que deixara para o fim, mais parecia ser ele quem ficava e o irmão que partia. O irmão chorava e ele incutia-lhe coragem, firmeza, confiança na vitória. E no carinho com que proferiu as palavras dirigidas à mulher e aos filhos, mostrou ser o perfeito exemplo do revolucionário que morre consciente do papel histórico da classe operária.

“Não vou descrever — não seria capaz mesmo que quisesse — o que eram essas «partidas para a morte», o seu dramatismo, a sua humanidade e serena valentia dos que «saíam» conscientes de que o seu sacrifício não seria em vão. A certeza na vitória futura, o desejo de mostrar aos fascistas que sabiam morrer, foi conduta geral que sempre se verificou. Os abraços misturavam-se com as lágrimas dos que saíam e dos que ficavam; as palavras de incitamento à coragem perante a morte ouviam-se juntamente com as de encorajamento para a luta; renovavam-se os pedidos para a transmissão das últimas vontades às famílias e repetiam-se as garantias de que elas seriam cumpridas.” Fim de citação.

Em Novembro de 1938 o camarada Manuel Guedes foi entregue pelas autoridades franquistas à PVDE (Polícia de Vigilância e Defesa do Estado).
Libertado em Junho de 1940, restabelece de imediato contacto com o Partido.

Preso de novo em 1952, só veio a ser libertado em 1965, treze anos depois de ser preso e 9 anos depois da pena a que fora condenado.

Como preso político, Manuel Guedes, foi um exemplo de coragem e firmeza revolucionária face ao inimigo, postura que considerava ser um dever, um dever igualmente moral.

A clandestinidade, as torturas, os longos anos nas cadeias fascistas, não abalaram as convicções revolucionárias de Manuel Guedes e a fidelidade aos ideais comunistas e ao seu partido, Partido Comunista Português, ao qual pertenceu durante mais de 50 anos.

Foi responsável por importantes organizações do Partido em diferentes zonas do País. Teve papel destacado no acompanhamento das greves da Covilhã em 1941, o primeiro movimento grevista em que o Partido intervém depois da reorganização e, na organização e direcção das grandes greves de 1942, 1943 e 1944 e várias outras acções de massas.

Fez parte do pequeno grupo de camaradas que se lançaram no que veio a ficar conhecida como a reorganização dos anos 40/41, e que levou à superação da grave crise em que o PCP estava mergulhado e abriu caminho à sua transformação num grande partido nacional com uma direcção estável, firme e combativa.

Participa e intervém em 1943 no III Congresso do Partido (I ilegal) e em 1946 no IV Congresso (II ilegal), tendo apresentado ao III Congresso o Relatório sobre as tarefas de organização. Em ambos os Congressos foi eleito para o Comité Central e para o Secretariado.

Vejamos, camaradas e amigos, o que dizia o camarada Santos (leia-se Manuel Guedes) na sua intervenção sobre Organização no III Congresso do nosso Partido, em 1943. Repito 1943. Passo a citar:

«Sem uma forte organização partidária que ligue inteiramente o partido às massas, ele será incapaz de cumprir as suas tarefas históricas. Sem uma organização forte e disciplinada, ele será incapaz de resistir às investidas da polícia. Só com uma vasta organização nacional de células, comités de zona, comités locais, regionais, etc., que possam fazer chegar a toda a parte a voz do nosso Partido, as suas palavras de ordem, as suas directivas, etc., que saibam dar conta do estado de ânimo das massas e auscultar as suas necessidades e anseios, que se saibam colocar na vanguarda da luta das massas pelas suas aspirações, que sejam verdadeiros órgãos dirigentes dessas lutas, que sejam capazes de conduzir as massas no verdadeiro caminho da vitória – só assim o nosso Partido será o verdadeiro guia e chefe das massas trabalhadoras, de todos os explorados: A sua vanguarda.»

(Continuando a ler o relatório onde analisa a actividade do Partido nas condições concretas de então, Manuel Guedes prosseguiu e contínuo a citar.)

 «Algumas das nossas organizações, por falta de um trabalho de massas, não passam de pequenos grupos sectários. Em consequência destas debilidades, essas organizações não realizam qualquer trabalho prático.

Sem um trabalho das nossas organizações, sem um trabalho de massas, é descabido falar em alargamento do nosso Partido, falar em educação revolucionária dos nossos militantes.

Assim, a constituição das células mereceu uma especial atenção. Exigiu-se que todo o militante de base fizesse parte da célula do seu local de trabalho ou procedesse à sua organização. Às células que se foram formando, procurou-se que a sua actividade fosse realizada no seio das massas e fundamentalmente no sentido da sua mobilização à volta dos seus problemas concretos e imediatos. Exigiu-se que cada militante fosse um elemento prestigiado entre as massas e que soubesse, de facto, criar à sua volta uma influência verdadeiramente política de massas, conseguida através do seu trabalho diário em defesa das reivindicações destas, e não daquela que se verificava através de meia dúzia de jornais que se distribuía a meia dúzia de amigos. Foi em consequência desta orientação que se tornaram possíveis os movimentos de massas em todo o país dirigidos pelo nosso partido e que culminaram com os potentes movimentos dos operários da região de Lisboa em Novembro de 42 e Julho/Agosto de 43, e que tornaram possível o aparecimento não só de novos militantes como de novos quadros dirigentes do nosso Partido, forjados na luta de massas e que se revelaram no decurso destas mesmas lutas.»

Fim de citação. Que extraordinária actualidade, camaradas e amigos.

Em recente reunião, o nosso Comité Central dando sequência ás decisões do nosso XVIII congresso, aprovou uma resolução a concretizar no essencial em 2010, com decisões e orientações para reforçar a organização do Partido a todos os níveis, aprofundar a sua ligação ás massas tomando as decisões adequadas para reforçar e aperfeiçoar esta componente tão importante para o nosso trabalho.

A imensa sabedoria do nosso Partido, acumulada durante tantos anos de luta na defesa e junto dos trabalhadores, fornece-nos um conjunto muito vasto de experiências que devem ser conhecidas e estudadas por todos para  daí, tirar-mos ensinamentos para a nossa actividade, nas novas condições em que hoje lutamos.   E, uma delas é sem dúvida esta, camaradas. É na ligação ás massas, falando, esclarecendo, conhecendo, interpretando e até sentindo os seus problemas e aspirações, apontando-lhes o caminho da luta: 

Que  forjamos os quadros de que precisamos para as milhentas tarefas a que temos de responder.

Que mantemos o Partido ligado à vida ao novo intervindo na sociedade a partir do seu profundo conhecimento

E onde vamos buscar a energia revolucionária para alimentar o nosso Partido de forma permanente

E por isso, tal como em 1943, o camarada Manuel Guedes dava conta ao Partido, também hoje o reforço da organização e da ligação do Partido às massas, do esclarecimento dos trabalhadores e a sua mobilização para a luta, é o factor determinante para levar para a frente as tarefas do Partido na luta pela ruptura com a política de direita levada a cabo pelos partidos que têm na esência do seu ADN servir os interesses de classe de uma minoria de capitalistas exploradores e parasitas detentores dos meios de produção, à custa dos interesses de classe da imensa maioria de trabalhadores cuja única riqueza é a sua força de trabalho e está cada vez mais desvalorizada.

Camaradas e amigos, já vimos que o camarada Manuel Guedes foi um dos construtores do nosso Partido, mas ele teve também um importante papel na construção da unidade antifascista, trazendo à luta contra o fascismo muitos democratas sem partido mas igualmente empenhados num futuro de liberdade e progresso para o nosso país.

O levantamento militar seguido da revolução de Abril pela qual tanto lutaram e tantos sacrifícios fizeram, também a eles se devem.

A seguir ao 25 de Abril, o camarada Manuel Guedes, foi reintegrado na Marinha e continuou a desempenhar as tarefas que o Partido lhe atribuiu.
Camaradas e amigos, numa altura:

Em que o carácter injusto e desumano do capitalismo se acentua;

Em que se aprofunda o fosso entre uma massa imensa de seres humanos explorados e uma elite multimilionária e exploradora;

Em que, segundo a ONU mais de 1.100 milhões de pessoas vivem com menos de um dólar por dia:

Em que, o número daqueles que vivem abaixo do limiar da pobreza aumenta diariamente (no nosso país já deve passar dos dois milhões);

Em que, milhões de trabalhadores são empurrados para o desemprego (Em Portugal já chegou aos 700 mil);

Numa altura em que, devido aos avanços da ciência e da técnica a capacidade de produção de bens alimentares nunca foi tão grande, e segundo a ONU morrem por ano mais de 36 milhões de seres humanos devido à fome. Ou seja, 70 seres humanos morrem em média por minuto por falta de alimentos. Em Portugal mais de 200 mil passam fome, já não ganham para comer.

Num tempo em que, ainda segundo a ONU, mais de 30 mil crianças morrem por dia devido a causas que podiam ser evitadas se tivessem acesso aos avanços da ciência na área da Saúde.

Mas também, numa altura em que o capitalismo, embora dominante, se encontra em plena e agudíssima crise e é confrontado com a luta dos povos e dos trabalhadores contra a exploração e a pilhagem dos seus recursos e com avanços de forças revolucionárias e progressistas como está a acontecer nomeadamente, na América Latina

Num tempo em que os direitos democráticos alcançados pela Revolução de Abril retrocedem; em que se procura branquear a ditadura fascista e a sua natureza de classe; e em que se pretende apagar o papel ímpar dos comunistas na resistência, na mobilização de massas e no processo revolucionário; em que se pretende criminalizar os ideais e o projecto comunistas.

Num tempo em lutamos pela ruptura com a política de direita levada a cabo pelo governo PS.

 A melhor homenagem que podemos prestar ao camarada Manuel Guedes e a muitos outros destacados dirigentes e militantes comunistas é seguir o seu exemplo de dedicação e entrega à causa dos trabalhadores e do povo e à luta abnegada pela transformação revolucionária da sociedade.

Pelo socialismo e o comunismo.

Esta intervenção, camaradas e amigos, terminaria muito bem aqui. Penso entretanto, que estareis de acordo que, também termina muitíssimo bem com mais um pequeno parágrafo da intervenção do camarada Manuel Guedes ao III Congresso que,  devemos ter como referência para a concretização das tarefas de reforço orgânico do Partido a concretizar no ano de 2010. Passo a citar

«Que nos mostra a experiência? (Perguntou então aos camaradas presentes no congresso. E respondeu!) A experiência mostra-nos que um ambiente de luta de massas não se cria unicamente com a distribuição dum ou mais manifestos, ou doutro material de propaganda, mas condicionado com um trabalho real junto das massas, no sentido de as esclarecer e mobilizar para a luta.» Camaradas, se a experiência do nosso Partido nos indica que é este o caminho, então! É por aí que vamos

AVANTE POR UM PCP MAIS FORTE.

AVANTE POR UM PARTIDO ENRAÍZADO NAS MASSAS.

VIVA O NOSSO GLORIOSO PARTIDO.  O PARTIDO COMUNISTA PORTUGUÊS