A MANIPULAÇÃO |
FOTOS DAS INICIATIVAS DE 30/01/2007 |
Público 31/1/2007 Arruada do "sim" sem "musiquinha" nem entusiasmo Movimentos do "sim" assinalaram arranque da campanha com arruada pouco concorrida em Lisboa. O arranque da campanha do "sim" foi ontem com uma arruada tímida no Chiado, em Lisboa. Os cinco movimentos tentaram dar sinal da sua "unidade" – palavras do líder da JS, Pedro Nuno Santos, sem terem sido capazes de juntar mais que algumas dezenas de participantes. Não se vislumbravam cartazes, faixas ou tambores. Só mesmo os folhetos na mão, alguns pins e autocolantes nos casacos diferenciavam os partidários do "sim" de quem ia passando. A organização considerava normal que a iniciativa não tivesse tido adesão – era um dia de trabalho, estava frio e a ideia não tinha sido convocar uma manifestação. Um dos organizadores disse à Lusa que aquele era um acto simbólico e que era "uma campanha de silêncio e sem confetti". Quanto aos folhetos, enquanto uma parte dos transeuntes aceitava os papéis, outros recusavam. Alguns faziam caretas quando os liam, outros guardavam. Foram poucos os folhetos deitados para o chão. Mas nem isso disfarçava a forma pouco assertiva como correu a arruada, a ponto de Maria João Sande Lemos, militante fundadora do PSD, e membro da Nós somos a Igreja ter de desabafar em plena Rua Garret: "Falta aqui uma musiquinha." Mais à frente o pessimismo aumentara. "Não sei quem é o organizador, mas não sabe nada [disto]." A arruada continuou pela Rua Augusta. Helena Pinto do BE, era das que se esforçava mais, a maior parte das vezes sem muita sorte. "Dia 11 vote sim", tentou com uma idosa. "Muito obrigada, mas eu já não aborto nada", foi o que obteve de resposta. Diário de Notícias, 31/01/2007 "Faz aqui muita falta uma musiquinha" Era a primeira iniciativa formal de campanha dos movimentos que defendem o "sim" no referendo. Mas a acção entre a Brasileira e o arco da Rua Augusta, em Lisboa, congregou ontem apenas meia centena de pessoas, com destaque para vários dirigentes do Bloco de Esquerda, associados a alguns socialistas e a uma fundadora do PSD. "A culpa é do frio, que afuguenta as pessoas", disse ao DN uma das militantes do PS que distribuía prospectos aos tímidos transeuntes que se acercavam do grupo. Não se escutaram frases hostis, mas também não se detectou nenhuma onda de entusiasmo em torno do grupo que rumou do Chiado à Baixa. "Muitas pessoas já decidiram", admitia um dos bloquistas ali presentes, à laia de justificação. Numa breve declaração aos jornalistas, ainda no Chiado, o deputado socialista Ricardo Rodrigues desmentiu que os adeptos do "sim" proponham a liberalização do aborto até às dez semanas, rejeitando os "discursos pela vida" feitos a propósito desta questão. "Queremos que as mulheres que assim decidam possam fazer um aborto num estabelecimento de saúde e não num vão de escada", realçou. Ana Sara Brito, uma socialista tarimbada por dezenas de campanhas, era uma das mais inconformadas. Acorria ao encontro das pessoas junto às lojas, interpelava os jovens, suscitava declarações de fé pelo "sim". Esta católica com assento na Comissão Nacional do PS disse ao DN ser "desde sempre a favor" da despenalização. "Não quero ver mulheres voltarem a ser humilhadas num tribunal. Tenho o dever de partilhar a minha solidariedade com elas. Não condeno ninguém porque Deus também não foi capaz de condenar." Maria João Sande Lemos, que acompanhou Sá Carneiro na fundação do PSD, também aderiu à marcha. "Sou contra a prisão das mulheres que se vêem obrigadas a fazer um aborto em circunstâncias terríveis. Defendo o primado da consciência das pessoas, que é soberana. Tenho confiança no género humano", declarou ao DN. Do BE compareceram Ana Drago, Daniel Oliveira, Jorge Costa, Helena Pinto, Manuela Tavares e até Gil Garcia, da tendência ultra-esquerdista do Bloco. Pedro Nuno Santos, líder da Juventude Socialista, também marcou presença, tal como a jornalista Leonor Xavier elogiando "a unidade na diversidade" entre os que votam pela despenalização no próximo dia 11. Não houve palavras de ordem. Nem cartazes. Nem charangas a marcar o ritmo da marcha descompassada. Só um gorro em que se lia "Vota Sim". Um dos participantes não se conformava: "Faz aqui muita falta uma musiquinha…" |
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