Dezenas de activistas da CDU assistiram à apresentação da lista à Junta de Freguesia do Areeiro, no Jardim Fernando Pessa, onde a primeira intervenção de fundo esteve a cargo do cabeça de lista, João Manso Pinheiro, 26 anos, militante do PCP, com formação em Literatura e Ciências Musicais.
“Toda a minha vida vivi nesta freguesia: no Alto do Pina, nas Olaias, no Bairro dos Actores no Bairro de São João de Deus e, como os muitos
camaradas que compõem a nossa lista, conheço as suas ruas, o seu comércio e as suas dinâmicas. As suas insuficiências e as suas injustiças”, disse João Manso Pinheiro, que durante os últimos quatro anos foi eleito membro da Assembleia de Freguesia pela CDU.
A lista entregue pela coligação entre o PCP e o PEV tem 27% de cidadãos independentes, com uma média etária de 37 anos, e com 40% de pessoas que se candidatam pela primeira vez. São 26 elementos, 13 mulheres e 13 homens.
João Manso Pinheiro relembrou o trabalho realizado, nos últimos quatro anos, e a necessidade de reforçar nas próximas eleições quem o faz. “O caracter imprescindível da CDU foi confirmado no último mandato no qual se assumiram como força de oposição à gestão da direita, em que não havia mais ninguém que o fizesse. Numa assembleia em que abundam os acordos de poder, as críticas pífias e a subserviência a um executivo que pouco mais fez do que exercer a lei do mínimo – o mínimo esforço, o mínimo projecto e zero de representação. Afirmou-se, por contraste, o projecto político da CDU que apresentou propostas, identificou soluções, num total 26 documentos entregues e discutidos na Assembleia de Freguesia. Se não apresentamos mais foi porque o PS, PSD e CDS se uniram, mais do que uma vez, para impedir que os documentos da CDU nela fossem discutidos”, disse.
O candidato acusou as restantes bancadas de não terem tentado resolver os problemas da freguesia, nem de minorar as enormes desigualdades sociais e injustiças existentes. “Enquanto os outros se deliciavam em discussões sobre heráldica e simbolismos, a CDU esteve presente nas lutas das populações pela reabertura do metro do Areeiro. A CDU esteve presente quando os CTT encerraram o balcão do Casal Vistoso que servia milhares de pessoas não só do Areeiro, mas também de Marvila e do Beato. Quando exigíamos que o presidente da Junta de Freguesia do Areeiro assumisse as suas responsabilidades, como representante político destas populações, a resposta foi clara, passo a citar: ‘o executivo foi até ao limite das suas competências’. É a lei do menor esforço”, relatou.
“Quando procuramos saber mais informações sobre o Bairro Portugal Novo, bairro que visitamos do início ao fim do nosso mandato, a resposta foi clara: ‘não sabemos’. Quando a Assembleia de Freguesia aprovou, por unanimidade, as propostas concretas para melhorar as condições do bairro, o que é que o executivo fez? Nada. Em que estado se encontra o bairro depois de um mandato deste executivo? Mais velho, mais degradado e com tudo por fazer. Impera a lei do menor esforço”, disse João Manso Pinheiro.
Uma lei do menor esforço que apenas o avizinhar do período eleitoral a faz tremer. “Se nos questionarmos qual é a política social e cultural deste executivo? A resposta é incontornável: fazer o mínimo possível da forma mais fácil. Em nenhum dos momentos, este executivo, neste e outros mandatos, com ou sem o CDS, sentiu qualquer necessidade de ir à rua falar com os seus fregueses e os defender, enquanto fechavam os balcões de atendimento da Caixa Geral dos Depósitos e dos CTT, enquanto o bairro Portugal Novo se degradava, no momento em que estavam paradas as obras do metro, enquanto tentavam encerrar o Teatro Maria Matos, esvaziando a freguesia do único equipamento cultural que a servia”, continuou.
“A única excepção a esta regra de ouro ocorreu durante estes últimos meses, quando os ventos das eleições abriram de espanto as portadas dos gabinetes da junta. O executivo, assumindo pela primeira vez uma posição política, escolheu a mais desumana de todas: expulsar os sem-abrigo, que desde a pandemia se encontravam abrigados no pavilhão Casal Vistoso, pretendendo enxotá-los para longe das avenidas para as traseiras da cidade”, lamentou.
O candidato da CDU lembrou que “o nosso combate é contra a pobreza e não contra as suas vítimas”, notando que esta ação foi “a metáfora perfeita daquilo que é o mandato do PSD, com ou sem CDS. Uma política de avenida focada estritamente nos seus eixos centrais, votando para segundo plano tudo o que não se pode ver quando se vai tomar o drinque da tarde. Perdem as populações do Bairro Portugal Novo, do bairro municipal das Olaias, perdem as populações do bairro dos Actores e da GNR, do Bairro dos Aviadores, do Alto do Pina, perde a maior parte da população do Areeiro”.
“Esta forma de estar na política não é exclusivo deste executivo, mas é acompanhada pelo PS e o Livre que viabilizaram este executivo, em troca de coisa nenhuma, e do eleito do Bloco de Esquerda, que desde o primeiro momento se disponibilizou para estar ao lado deste executivo”, recordou.
Para João Manso Pinheiro, há apenas um caminho para impedir a contínua degradação das condições de vida da maior parte da população da freguesia: “É urgente reforçar a votação da CDU e dar um novo rumo à freguesia e à cidade de Lisboa”.
A CDU defende uma política cultural que vá para além das noites de comércio na Guerra Junqueiro. Quer recuperar o bairro Portugal Novo, valorizar as suas populações e o seu espaço e dar um acesso digno à habitação, à água e à electricidade. Garantir o acesso dos estudantes da Escola Luís de Camões a uma pavilhão desportivo que não os obrigue a sair do espaço escolar. Pugnar pelo “normal acesso aos transportes que estão num estado recorrente de avaria. Urge garantir o acesso aos parques subterrâneos, recuperar as ruas, cuidar dos espaços verdes. Urge lutar para uma situação digna para os sem-abrigo. Urge virar a página”, concluiu o candidato.
É possível construir a cidade desejada
João Ferreira, candidato da CDU à presidência da Câmara Municipal de Lisboa, encerrou a sessão de apresentação da lista da CDU do Areeiro. Repegando na intervenção anterior, afirmou que “este retrato muito completo que o João traçou destes últimos anos na freguesia do Areeiro não é muito diferente do que se passou nos últimos anos na cidade. Faz este ano 20 anos que se pôs fim a um ciclo em que a CDU teve responsabilidades directas na gestão da cidade. Este jardim em que estamos é ainda uma das marcas que perdura na cidade destes anos em que a CDU teve responsabilidades no governo da cidade. Desde então, Lisboa só conheceu maiorias do PSD e CDS ou do PS. É fácil ver como estes 20 anos nos deixam longe da cidade que desejávamos”.
O vereador do PCP lembrou que o crescimento das desigualdades em Lisboa não se manifesta só no Areeiro. A cidade tornou-se apenas de muito poucos. “Muito daqueles que aqui viveram e daqueles que aqui trabalham deixaram de o poder fazer nos últimos anos. Abateu-se sobre Lisboa uma tempestade perfeita criada por aqueles que atearam a fogueira da especulação imobiliária na cidade. Passou a ser um privilégio viver em Lisboa”, afirmou.
Cada vez mais os executivos camarários têm governado para essa rica minoria. “Temos os habitantes dos bairros municipais, que são ainda 20% daqueles que vivem em Lisboa, que foram sendo esquecidos pelos responsáveis das sucessivas maiorias da CML”, acrescentou.
Para João Ferreira, só há um caminho. “Nada disto é inevitável. É preciso construir uma outra freguesia, tal como é possível construir uma outra cidade. A CDU quer mobilizar forças e vontades para vencermos a distância entre a cidade que temos e a cidade que queremos. É possível erguer, em bases renovadas, uma governação democrática capaz de assegurar uma cidade viva, bela e justa”, disse para finalizar.