09 – A Revolução Soviética de 1917 – Setembro

Setembro

A Crise Amadureceu

Na sexta-feira, 1 de Setembro, a Rússia foi enfim proclamada oficialmente uma república. No mesmo dia, foi publicada a notícia da criação pelo Governo Provisório de um Directório (o Conselho dos Cinco), que na prática representava um regime de poder pessoal de Kérenski, que a 30 de Agosto já se proclamara Comandante-Supremo. Na noite de 31 Agosto para 1 de Setembro, o Soviete de Petrogrado, aprova pela primeira vez uma Resolução proposta pelo Partido Bolchevique sobre a questão do Poder, que condenava a política de coligações (dos mencheviques e socialistas-revolucionários com a burguesia), apelava à transferência de todo o poder para os Sovietes e traçava um programa de transformações revolucionárias no país. A 5 de Setembro o Soviete de Moscovo repetiria a mesma decisão.

Estes factos ilustram bem a situação criada com a kornilovada e a resistência de massas que a derrotou. O Governo Provisório tenta, sem sucesso, demarcar-se da kornilovada, mas vai reforçando os mecanismos da ditadura da burguesia. O socialismo pequeno-burguês perde força, hesita, recusa a participação formal num Governo com a burguesia (democratas-constitucionalistas) mas apoia o seu Governo e o reforço do seu poder real, e surgem no seu seio correntes cada vez mais expressivas “de esquerda”, que se sentem mais próximas do proletariado revolucionário que da burguesia. E os Sovietes, remoçados, transformam-se de novo em órgãos combativos de massas, onde os bolcheviques assumem um papel cada vez mais determinante.

No início de Setembro, Lénine divisa uma última possibilidade de desenvolvimento pacífico da Revolução. A luta contra a conspiração kornilovista unira as diferentes forças do movimento revolucionário, a burguesia saíra extremamente enfraquecida, os Sovietes podiam tomar todo o poder, mediante um compromisso entre os bolcheviques e os mencheviques e os socialistas-revolucionários. (Ler “Sobre os Compromissos”)

Mas as direcções dos partidos do “socialismo” pequeno-burguês estavam totalmente comprometidas com a burguesia, e rejeitaram essa proposta de compromisso dos bolcheviques, preferindo expressar o seu apoio ao “Directório”. Nos mencheviques e nos socialistas-revolucionários, a fracção “internacionalista” ou “de esquerda” ganhava peso a cada dia, em oposição às posições “oficiais”, e a cisão vai-se tornando maior. (Ler “Sobre o momento político actual”)

A 12 de Setembro, Lénine dirige ao Comité Central e aos Comités de Petrogrado e de Moscovo do POSDR(b) uma carta intitulada “Os Bolcheviques devem tomar o Poder” – “Tendo obtido a maioria nos Sovietes de Deputados Operários e Soldados de ambas as capitais, os bolcheviques podem e devem tomar o poder de Estado nas suas mãos.” – acompanhada de uma outra “O Marxismo e a Insurreição”.

A 13 de Setembro foi eleito um novo Comité Executivo do Soviete de Petrogrado, encabeçado pelos bolcheviques.

Apesar das dúvidas e hesitações que existiam dentro do próprio partido bolchevique, este colocou na “ordem do dia” a insurreição armada e a tomada de poder pelo proletariado, em aliança com o campesinato pobre. O poder da burguesia só seria derrubado pelas armas. Era necessário, pondo em prática as decisões do VI Congresso, não só preparar meticulosamente e em todos os aspectos as forças para a luta armada mas também saber determinar correctamente o momento em que estivessem maduras todas as condições para isso. “Todo o Poder aos Sovietes!” Transforma-se num apelo à insurreição armada. (Ler “Uma das questões fundamentais da Revolução”)

A burguesia e os seus aliados, a par do reforço das medidas repressivas contra o povo e do continuar da criminosa guerra com a Alemanha, tentam paralisar o movimento popular com o cenário da guerra civil. (Ler “A Revolução Russa e a Guerra Civil”).

As hesitações dentro do próprio partido bolchevique tornaram-se particularmente visíveis quando os mencheviques e socialistas-revolucionários (que ainda detinham a maioria no Comité Executivo Central dos Sovietes de Toda a Rússia) adiam o II Congresso dos Sovietes (que com toda a probabilidade os substituiria) e convocam para 14 de Setembro a “Conferência Democrática”. Aos Sovietes, que representavam a maioria do povo, são entregues 230 dos 1500 lugares, assegurando uma nova maioria dócil aos mencheviques e socialistas-revolucionários. Esta decide criar um pré-parlamento.

Lénine, que resolutamente se pronuncia pelo boicote ao Pré-Parlamento, é obrigado a um combate determinado no seio do próprio partido (Ler “Diário de um Publicista, os erros do nosso Partido”, e a provar que a táctica de participação neste pré-parlamento era errada, ela não corresponde às condições objectivas do momento.

A luta dos trabalhadores intensifica-se. À meia-noite de 23 de Setembro inicia-se uma greve nacional dos caminhos-de-ferro. Iniciam-se greves nas explorações petrolíferas de Baku. Multiplicam-se as acções camponesas, severamente reprimidas pelo Governo. A luta de libertação nacional mobiliza grandes greves e acções camponesas na Ucrânia, na Bielorrússia, na Bessarábia, no Báltico, no Cáucaso do Norte e em muitos outros territórios.

A 25 de Setembro, depois de longas conversações dos membros do Directório e da comissão da Conferência Democrática com os representantes dos industriais, concluiu-se o terceiro (e último) governo de coligação – dos mencheviques e socialistas-revolucionário com a burguesia. A formação de um novo governo não salvou o país da crise nacional, que se manifestava na incapacidade do governo, no descalabro económico, no ascenso do movimento revolucionário, no completo afastamento do exército em relação ao governo, na agudização da luta de libertação nacional.

Surgiu a situação revolucionária necessária para uma insurreição vitoriosa. A crise amadurecera. E para salvar a revolução, só restava uma hipótese: a insurreição. “Não há meio-termo” sublinhava Lénine “Não podemos esperar. A Revolução perece.” (Ler A crise Amadureceu! ”)

Consequentemente, e apesar da ordem de prisão, e apesar das ameaças sobre a sua vida, é tempo de Lénine regressar à Rússia. É preciso vencer as hesitações, a Revolução ou avança ou perece!

Chegou o Outubro que para sempre ficou conhecido como “Outubro Vermelho”!

 

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