Introdução a "Karl Marx, e o desenvolvimento histórico do marxismo"
Com o título "Karl Marx e o desenvolvimento histórico do marxismo" reuniu a Editorial Avante 5 trabalhos de Lenine, escritos entre 1908 e 1914.(*)
O artigo "Karl Marx", escrito em 1914 e destinado à Enciclopédia russa Granat, abre com uma biografia de Marx e é acompanhada de uma bibliografia do marxismo.
"O marxismo – escreve Lenine – é o sistema de ideias e da doutrina de Marx. Marx continuou e desenvolveu plena e genialmente as três principais correntes ideológicas do século XIX, pertencentes às três nações mais avançadas da humanidade: a filosofia clássica alemã, a economia política clássica inglesa e o socialismo francês, em ligação com as doutrinas revolucionárias francesas em geral".
Ao expor os traços essenciais da doutrina de Marx, Lenine detém-se na análise do materialismo filosófico, da dialética, da concepção materialista da história e da teoria sobre a luta de classes. Dá particular relevo à doutrina económica de Marx, sobretudo à teoria do valor e da mais-valia, e refere-se também ao socialismo e à táctica de luta de classe do proletariado.
Lenine relevou a essência revolucionária da dialética marxista como ciência acerca das leis gerais do movimento do mundo e do pensamento humano e sublinhou que a dialética materialista e o materialismo filosófico estão indossoluvelmente ligados e se interpenetram como dois aspectos de uma mesma doutrina filosófica – o marxismo.
Sobre a concepção materialista da história, Lenine destaca a grande descoberta de Marx que foi a aplicação consequente das teses do materialismo dialético à esfera dos fenómenos sociais. Marx foi o primeiro a assinalar o caminho do estudo científico da história como um processo único e regular de enorme diversidade e carácter contraditório. Demonstrou que a base do desenvolvimento da sociedade humana é o modo de produção da sua vida material. Escreve Lenine: "(…)é evidente que Marx concluiu pela transformação inevitável da sociedade capitalista em sociedade socialista, inspirando-se inteira e exclusivamente nas leis económicas do movimento da sociedade moderna". Citando passagens do "Manifesto do Partido Comunista", Lenine põe em destaque a teoria da luta de classes e o papel do proletariado como classe verdadeiramente revolucionária e, por isso, principal obreiro das grandes transformações da sociedade. Lenine considera como uma das tesesmais importantes do marxismo aquela que afirma que só a luta política do proletariado o conduz à consciência de que não existe outra saída senão o socialismo; e, por outro lado, o socialismo não se converte em força material enquanto não passa a ser o objectivo de luta da classer operária.
Os restantes artigos que compõe a brochura (inicial) foram escritos num período histórico muito particular, entre 1908 e 1913. Os anos de 1905 a 1907 foram os anos da Revolução democrática burguesa na Rússia, que se saldou por uma sangrenta derrota para o movimento operário russo. Desmoralizados pela derrota da Revolução, os elementos instáveis do Partido, os ideólogos da burguesia, os oportunistas russos e os líderes oportunistas da II Internacional, procuraram utilizar a derrota da revolução como "prova" da justeza das suas concepções e da sua linha oportunista. Afirmando que a filosofia do marxismo – o materialismo dialético – "envelhecera", sob a bandeira do suposto "melhoramento" do marxismo, propagavam a filosofia reaccionária e atacavam desenfreadamente o marxismo
É em virtude de uma necessidade e não do acaso – considerava Lenine nessa altura – que as massas mergulhadas pela revolução numa encarniçada luta no plano táctico, manifestaram numa época desprovida de grandes acções de massas, a necessidade de conhecimentos teóricos gerais. Esta a razão que o levou, naqueles anos, a escrever estes e outros artigos, através dos quais clarificou uma série de questões que estavam no centro do debate ideológico e dos ataques contra o marxismo.
No artigo "As três fontes e as três partes constitutivas do marxismo", Lenine demonstra que a doutrina marxista é o resultado da elaboração crítica das três principais tendências ideológicas do século XIX. Sublinha que o marxismo significou uma verdadeira revolução na filosofia, na economia política e no desenvolvimento da doutrina obre o socialismo.
No artigo "As vicissitudes históricas da doutrina de Karl Marx", Lenine considera que, a partir de 1848 (período de revoluções e ano da publicação do Manifesto do Partido Comunista), a história universal se divide em três períodos: o 1º, da Revolução de 1848 até à Comuna de Paris; o 2º, da Comuna de Paris até à primeira Revolução Russa (1905); e o 3º, da primeira revolução russa até ao presente (Lenine escreveu este artigo em Março de 1913).
Analisando as vicissitudes da doutrina de Marx ao longo de cada um destes períodos, Lenine condena os oportunistas que recusavam ver a natureza de classe das revoluções que então ocorreram na Europa e na Ásia, glorificavam a "paz social" e apregoavam a renúncia às "tempestades" sob a "democracia".
No artigo "Marxismo e revisionismo", que Lenine considerou uma declaração formal de guerra ao revisionismo, expõe as raízes sociais do revisionismo e revela a sua natureza: "Definir a sua conduta em função de cada situação, adaptar-se aos acontecimentos do dia, às transformações dos mais ínfimos factos políticos; esquecer os interesses vitais do proletariado e os traços essenciais do conjunto do regime capitalista, de toda a evolução capitalista; sacrificar esses interesses vitais em nome das vantagens, reais ou imaginárias, do momento: tal é a política revisionista. Da própria essência desta política decorre o facto evidente de que ela pode variar as suas formas até ao infinito" (…) "Em matéria política – escreve Lenine – o revisionismo tentou efectivamente rever o princípio fundamental do marxismo: a teoria da luta de classes. A liberdade política, a democracia, o sufrágio universal, afirmam eles, tiram a razão de ser da luta de classes"(…).
O artigo "Acerca de algumas particulariedades do desenvolvimento histórico do marxismo" começa pela transcrição da conhecida frase de Engels: "A nossa doutrina não é um dogma, mas um guia para a acção". Lenine analisa aí as modificações ocorridas na situação social e política da Rússia de 1904 a 1910, modificações apreciáveis que, embora não tendo alterado a evolução capitalista do país e, portanto, posto em causa as tarefas essenciais do proletariado, colocoram, todavia, em primeiro plano, as questões de táctica, as tarefas imediatas.
Ao sublinhar o carácter anti-dogmático do marxismo, Lenine escreve: "Precisamente porque o marxismo não é um dogma morto, uma doutrina acabada, imutável, mas um guia vivo para a acção, não podia deixar de reflectir a transformação singularmente rápida das condições da vida social".
E porque, o período que se seguiu à Revolução de 1905, foi também caracterizado por uma situação de crise e de grande desorientação no plano ideológco, Lenine escreve: "Não há nada mais importante que a união de todos os marxistas conscientes da profundidade da crise, da necessidade de a combater para defender as bases teóricas do marxismo e os seus princípios fundamentais, que por toda a parte são desnaturados".
Nestes artigos, contidos na brochura a que nos temos vindo a referir, é visível a luta decidida de Lenine em defesa da integridade do marxismo, do seu carácter anti-dogmático, do seu desenvolvimento e aplicação criadora.
(*) Na 2ª Edição deste livro foi acrescentado o texto de 1895 sobre "Friedrich Engels".
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* Ler o artigo "As vicissitudes históricas da doutrina de Karl Marx" em PDF
* Ler o artigo "Marxismo e revisionismo " em PDF
Militante nº 179