O Partido na História – Uma folha de papel, um lápis…

O Partido na História
Uma folha de papel, um lápis…

A repressão, sob as mais diversas formas, da actividade do PCP é uma constante ao longo dos tempos por parte da classe dominante e, naturalmente, assumiu a sua expressão mais brutal no decorrer do quase meio século que durou a ditadura fascista de Salazar e Caetano.

A imensa maioria das dezenas de milhares de homens e mulheres que passaram pelas prisões fascistas era composta por militantes do PCP.

Integrados nas suas organizações prisionais e iludindo a vigilância dos carcereiros, os presos comunistas mantinham o contacto com o Partido no exterior, estudavam, preparavam-se para a luta futura – resistiam. Foi nessa linha de resistência que, durante muito tempo, produziram pequenos jornais, manuscritos, que distribuíam entre si e de que são exemplos: «O Trabalho – Dos comunistas em reclusão na Penitenciária (de Lisboa)»; «Boletim Inter-Prisional – Órgão dos presos comunistas do Aljube»; «Potenkin – Órgão dos presos comunistas ex-marinheiros (Peniche)»; «Boletim Inter-Prisional – Órgão da célula comunista da Fortaleza de Peniche»; «Pavel – Órgão teórico dos jovens comunistas presos em Peniche»; «O Condenado Vermelho – Órgão das células comunistas de Monsanto»; «O Fogo – Revista teórica da célula comunista da Fortaleza de Peniche»; «Carril Vermelho – Órgão dos presos comunistas da CARRIS (Aljube)»; «Frente Vermelha – Boletim Prisional de Angra do Heroísmo»; «UHP – Órgão comunista prisional (Número comemorativo da Revolução Russa)»

O escritor francês Henri Barbusse num editorial publicado na revista Monde (12 de Abril de 1935) e intitulado «Testemunhos de grandeza revolucionária» escreve sobre esses jornais e o seu significado: «Portugal… País de arvoredo policromado, de vinhedos e de canções… País de padres, e de camponeses esfomeados; de grandes lavradores e de desempregados… País que, há nove anos, a mão mortífera de um ditador fascista, estrangula… Mas o cristianíssimo ódio de Salazar não consegue amordaçar este país que, um dia, será de novo um jardim da cultura humana. Expulsa da luz do dia, sussurrando nos bairros proletários das cidades e nos casebres dos camponeses, elevando-se acusadora perante juízes ignóbeis, gemendo sob a tortura dos carcereiros, a verdade do futuro vive em Portugal.

Imaginem estes presos políticos que, arriscando a sua liberdade, a sua saúde e as suas vidas, levantaram o estandarte do combate e, estiolando durante anos inteiros na noite esgotante das enxovias medievais, separados do mundo exterior por uma parede de chumbo, continuam a luta, solidários com os seus irmãos em liberdade. Uma folha de papel, um lápis, uma pena – que dificuldades para obtê-los – mas eles encontram estes instrumentos de trabalho e escrevem.
E não são soluços de seres desfalecidos; não são gritos de desespero: os presos políticos de Portugal editam em plena prisão, escritos pelos seus próprios punhos, jornais de combate. «Jornais escritos por comunistas, para comunistas» se intitulam estes jornais que, ao preço de mil perigos, circulam de cela em cela, de prisão em prisão. A descoberta do autor de um desses jornais – e não é fácil negar-se o que é escrito pelo próprio punho – significa um prolongamento da pena por meses ou anos.

A luta dos presos políticos revolucionários nos diferentes países reveste, sem dúvida, formas múltiplas e é rica de exemplos de heroísmo. Contudo, estes jornais dos presos portugueses constituem documentos únicos na história do movimento revolucionário.»