60 anos da Vitória sobre o nazi-fascismo
Intervenção PCP na Conferência de Praga (*)
Agradecendo ao Partido Comunistas da Boémia e Morávia o seu convite e valorizando a sua iniciativa, quero, em nome do Partido Comunista Português, começar por prestar homenagem aos comunistas checos que tombaram pelos seus ideais e pela sua pátria, que organizaram a resistência contra o ocupante nazi, que tomaram o partido dos trabalhadores e do povo e estiveram na primeira linha da insurreição de Praga.
Hoje, quando, explorando as trágicas derrotas do socialismo, se procura denegrir os comunistas e os seus ideais, é importante lembrar, aqui em Praga, o papel determinante dos comunistas na libertação do seu país e na vitória sobre o nazi-fascismo.
Por isso os comunistas checos emergiram no pós-guerra ainda mais prestigiados e mais fortes. Por isso passaram – como na Revolução de Abril de 1974 nós, comunistas portugueses, também passámos – directamente da clandestinidade para o governo popular. Por isso estiveram em condições de, em 1948, impor às forças da burguesia e da reacção uma derrota histórica e lançar-se na construção de uma sociedade nova.
Consideramos esta Conferência de uma grande oportunidade e importância. Desde logo pelo seu carácter internacionalista. É uma contribuição real para a cooperação dos partidos comunistas e outras forças de esquerda. Cooperação que, nos nossos tempos de globalização capitalista, é mais necessária do que nunca.
Depois porque tem lugar em Praga, no centro desta Europa capitalista que deu ao mundo o fascismo e o nazismo e foi palco dos maiores morticínios e destruições que a humanidade conheceu. Esta Europa que queremos de paz, amizade e cooperação, mas que, com a destruição da URSS e as derrotas do socialismo, voltou a ser palco, nos Balcãs, de guerras de agressão destruidoras, onde as esperanças criadas com a Acta Final de Helsínquia estão a ser destruídas com a subversão da OCSE, e onde a NATO (hegemonizada, aliás, pelos EUA) e a União Europeia (transformada em bloco económico-político-militar imperialista) colocam de novo a necessidade imperiosa de mobilizar os nossos povos contra o militarismo e a guerra.
Esta Conferência não pode deixar de constituir um apelo vibrante a que se não esqueçam as lições do passado e se unam todas as forças que seja possível unir para pôr fim à dinâmica de intervenção, agressão e guerra que o imperialismo abateu sobre o mundo.
Os trabalhadores e os povos precisam de trabalho e pão, precisam de mais saúde, mais educação e formação cultural e não de armas cada vez mais caras, mais sofisticadas e mais mortíferas. É por isso que a luta no plano social por melhores salários e condições de vida e contra o neoliberalismo está estreitamente associada à luta pelo desarmamento, pela solução política dos conflitos, pela paz, pela solidariedade activa para com os povos – do Iraque e Palestina, a Cuba ou à Venezuela – que são vítimas de agressões, ingerências e ameaças do imperialismo.
É por isso que pensamos que a ofensiva do imperialismo norte-americano para o domínio do mundo não se combate cedendo diante das suas exigências e aceitando a política de factos consumados como no Iraque e outros pontos do mundo. Nem desenvolvendo a corrida aos armamentos e praticando uma política intervencionista, como faz a Alemanha e outras grandes potências capitalistas da União Europeia ou no Extremo-Oriente, e uma vez mais, o Japão. Esse é o caminho do desastre. Aqui em Praga é particularmente oportuno recordar a chamada política de apaziguamento que sacrificou o povo checo em Munique e escancarou as portas à 2.ª Guerra Mundial.
Só a luta pelo desarmamento, pela destruição dos blocos militares, pela defesa da democracia e dos direitos sociais dos trabalhadores pode defender a paz.
A importância desta Conferência é também grande no plano da luta das ideias, repondo a verdade histórica e combatendo omissões, deformações e descaradas falsificações sobre as causas da 2.ª Guerra Mundial e as forças da "Vitória". Isto é tanto mais importante quanto a reacção e o imperialismo reescrevem a história à medida dos seus interesses de classe procurando justificar a violenta ofensiva em curso para impor uma "nova ordem" mundial contra os trabalhadores e contra os povos, hegemonizada pelos EUA.
É por isso necessário recordar nomeadamente:
- que o fascismo é a força de choque do grande capital e que as suas raízes mergulham fundo no próprio sistema de exploração e opressão do capitalismo;
- que enquanto a burguesia e os seus governos recuavam constantemente diante do fascismo (procurando lançá-los contra a URSS), capitulavam vergonhosamente e traíam os interesses nacionais, a classe operária e os trabalhadores, com os comunistas na vanguarda, apelavam à resistência, mobilizavam as massas para a luta, pegavam em armas, organizavam a acção clandestina e guerrilheira, imobilizavam grandes contingentes de tropas hitlerianas, libertavam grandes territórios da peste nazi-fascista;
- que foi a URSS, o povo soviético, os comunistas soviéticos e o Exército Vermelho, o grande artífice da "Vitória". Mais de 20 milhões de mortos ilustram, de modo inquestionável, o preço pago pelo povo soviético para libertar a sua pátria e o mundo do flagelo nazi-fascista. E a onda de confiança que heróicas batalhas, como as de Leninegrado e Stalinegrado, trouxeram aos povos dos países ocupados jamais será esquecida. Em Portugal, onde o PCP lutava nas duras condições de clandestinidade, as vitórias do Exército Vermelho e a sua avançada imparável em direcção ao coração do III Reich constituíram um estímulo que jamais esqueceremos. A transformação do PCP, nos anos quarenta, num grande partido nacional é inseparável do prestígio alcançado pela URSS e o socialismo.
- que os comunistas, com os seus ideais libertadores, o seu patriotismo e internacionalismo, o seu espírito unitário antifascista, contribuíram decisivamente para a derrota do nazi-fascismo, as profundas transformações revolucionárias e progressistas que se seguiram à 2.ª Guerra Mundial – derrocada dos impérios coloniais e impetuoso desenvolvimento do movimento de libertação nacional, alargamento do campo socialista a um terço da humanidade, grandes avanços da classe operária dos países capitalistas e a instauração de uma nova ordem assente na ONU e na legalidade internacional.
É esta ordem, fundamentalmente pacífica e antifascista, que, aproveitando a correlação de forças desfavorável, o imperialismo procura destruir e substituir por uma "nova ordem" dominada pelos EUA, que dê cobertura institucional e jurídica aos seus propósitos de hegemonia planetária.
É por isso necessária grande vigilância em relação à "reforma" da ONU que se prepara. E a defesa da Carta da ONU, a defesa dos princípios de soberania e não ingerência nos assuntos internos dos povos, o respeito pelo direito de cada povo a decidir do seu próprio destino, a reposição da legalidade internacional no Iraque (com a retirada das tropas ocupantes), na Palestina (com a retirada de Israel dos territórios ocupados e o respeito pelos direitos inalienáveis do povo palestiniano), na Península da Coreia (com o fim das ameaças à RDPC e a reunificação pacífica da Coreia), nas relações com Cuba (pondo fim ao criminoso bloqueio) e noutros pontos do mundo, revestem-se da maior importância no actual momento.
Estas algumas ideias que o PCP julga útil sublinhar nesta oportuna Conferência. Insistindo na importância enorme que tem para os combates que hoje travamos – numa situação que tem muitas semelhanças com a que precedeu a 2.ª Guerra Mundial – a reposição da verdade histórica.
Termino, por isso, camaradas e amigos, expressando uma posição de grande confiança na possibilidade de conter e derrotar o imperialismo e a sua política de exploração e de guerra. Esta posição foi claramente definida pelo XVII Congresso do nosso Partido, realizado em Novembro passado, com base na análise da crise do capitalismo e das grandes contradições e tendências do mundo contemporâneo. A ofensiva do imperialismo encontra pela frente a crescente resistência e a luta dos trabalhadores e dos povos. Mesmo lá onde são mais débeis as forças do progresso social e da paz, os povos não desistem de lutar.
A extraordinária centralização e concentração do capital e da riqueza alargam objectivamente o campo das forças anti-imperialistas e mesmo anticapitalistas. Grandes perigos coexistem com grandes potencialidades de transformação progressista da sociedade e de avanço para uma nova ordem de progresso e paz.
As lições da luta antifascista de seis décadas atrás ensinam-nos que lutar vale sempre a pena e que a vitória é possível.
É profunda convicção do PCP de que a melhor forma de comemorar o 60.º aniversário da Vitória e honrar a memória daqueles que deram a vida para que a liberdade vivesse, é reforçar a luta em cada país em defesa dos interesses dos trabalhadores e das massas, contra o neoliberalismo, o militarismo e a guerra, intensificar a solidariedade internacionalista para com os povos vítimas das ingerências e agressões do imperialismo, reforçar a cooperação de todas as forças anti-imperialistas.
Esta Conferência é, a nosso ver, uma boa contribuição dos nossos camaradas checos para estes objectivos.
"O Militante" – N.º 277Julho/ Agosto 2005