Debate público no CT Vitória assinalou momento histórico da luta dos trabalhadores em Portugal: As greves de 8 e 9 de Maio de 1944

As greves de 8 e 9 de Maio de 1944, marcadas, organizadas e dinamizadas pelo Partido Comunista Português, como corolário de toda a uma série de lutas pelo trabalho, pelo pão e mais géneros alimentícios que faltavam em todo o país, foram o tema do debate público realizado no passado dia 11 de Junho no salão do CT Vitória. 70 anos depois deste acontecimento histórico da luta do povo português, Manuela Bernardino, do Secretariado do Comité Central do PCP desenvolveu na sua intervenção o contexto da luta, as suas razões, o papel do Partido e a combatividade de um povo que resistia ao fascismo.

 

 

 

 

 

 

 

Manuela Bernardino na sua intervenção inicial referiu que em 1943 desenvolveram-se inúmeras lutas, em especial, as grandes greves de Julho e Agosto, na região de Lisboa, com a participação activa e heróica de mais de 50.000 operários e outros trabalhadores, obrigando o governo a ceder em muitos aspectos.

 

O PCP, através do “Avante!” não só dava a conhecer e analisava essas lutas, como apelava à classe operária e às massas populares para a organização de novas lutas. Nos meses anteriores aos dias 8 e 9 de Maio de 1944 foram-se desenvolvendo lutas, organizando comissões operárias de unidade nas fábricas e outros locais de trabalho um pouco por toda a Região de Lisboa, criou-se comités de greve nas empresas e locais de trabalho, foram-se criando as condições e o ambiente para uma nova greve. O Comité Dirigente da Greve e sua composição só muito perto da data prevista para esta foi criado.

 

Uma vez definida a orientação geral, era o factor organização que decidiria do sucesso ou insucesso da greve. A poucos dias da greve, a montagem final do aparelho organizativo que iria orientar todo o andamento da greve exigiu um esforço suplementar do Partido, em especial dos quadros directamente envolvidos nessa tarefa.

 

O apelo à greve, lançado publicamente pelo PCP através de um manifesto assinado pelo Secretariado do Comité Central com datas marcadas para o seu início e fim, patenteava uma grande confiança na classe operária e restantes trabalhadores, nos quadros do Partido, no povo. Uma confiança que se viria a revelar nos dias 8 e 9 de Maio, onde correspondendo ao apelo lançado pelo Partido, os operários foram para a greve e que a eles se juntaram trabalhadores dos campos que, em muitos casos, juntos marchavam em manifestações, arvorando bandeiras negras em direcção às sedes dos concelhos, especialmente de Loures e Vila Franca de Xira.

 

Foi decisivo para o sucesso desta jornada de luta as estruturas de direcção da greve que se criaram e o papel do Secretariado do PCP com o envolvimento e o acompanhamento directo de Álvaro Cunhal e José Gregório. Constituiu-se um Comité Dirigente da Greve (CDG), assente em cinco funcionários do Partido, dos quais três membros do Comité Central, com responsabilidades atribuídas por grandes zonas ou sectores, que avaliou o estado de espírito e a disponibilidade das massas para a greve e acompanhou o seu desenrolar.

 

O CDG foi constituído por por destacados e preparados quadros do PCP, estreitamente ligados às massas e conhecedores das suas aspirações. Alfredo Diniz (Alex), à data membro do Comité Central e do seu Bureau Político, assassinado a 4 de Julho de 1945, quando se dirigia de bicicleta para um encontro na estrada de Bucelas quanto tinha apenas 28 anos; Dias Lourenço (João), à data membro do Comité Central do PCP, preso duas vezes, tendo passado no total 17 anos nas prisões do fascismo,  foi quadro destacado do Partido durante toda a sua vida; Gui Lourenço (Álvaro), operário na Fábrica Cimento Tejo, que passou à clandestinidade 6 dias antes do primeiro dia de greve no quadros das suas responsabilidades na sua organização; Joaquim Campino (Filipe), que aderiu ao PCP em 1939, preso duas vezes tendo passado mais nove anos na cadeia; Sérgio Vilarigues (Amílcar) à data membro do Comité Central, preso em 1934 tendo passado pelo Forte de São Julião Baptista, em Angra do Heroísmo e, um ano mais tarde, no Tarrafal de onde é libertado em Julho de 1940, tendo sido funcionário do PCP desde 1942 até ao seu falecimento.

 

A resposta do Estado fascista foi violenta e brutal, centenas foram presos e enfiados na Praça de Touros de Vila Franca de Xira e, mais tarde, transferidos para a Praça de Touros do Campo Pequeno, em Lisboa. Os grevistas despedidos só podiam ser readmitidos depois da autorização dada pelo Serviço de Mobilização, várias fábricas foram encerradas. São anunciadas prisões de proprietários, directores e encarregados de fábricas que não tiveram uma atitude “enérgica” face aos grevistas.

As greves de 8 e 9 de Maio de 1944, marcadas, organizadas e dinamizadas pelo Partido Comunista Português, foram o corolário de toda a uma série de lutas pelo trabalho, pelo pão e mais géneros alimentícios que faltavam em todo o país, ou que não eram distribuídos, mas antes açambarcados para uma boa quantidade deles serem enviados para a Alemanha nazi e também para a Espanha franquista.

 

Apesar da repressão, o fascismo viu-se obrigado a ceder. Duas semanas após a grandiosa jornada de 8 e 9 de Maio, o governo aumentou a quantidade de pão racionado e vários patrões aumentaram os salários. “O fascismo tremeu”, como considerou Alfredo Diniz (Alex). Tremeu face à unidade, audácia e combatividade das massas.

 

No debate público participaram camaradas e amigos que recordaram vivências e testemunhos de familiares e amigos, da freguesia de Alhandra onde os sinos da igreja local deram o sinal para os trabalhadores pararem de trabalhar até ao diálogo de há várias décadas de um dos participantes com um cantoneiro da freguesia de Bucelas que presenciou o assassinato de Alex, tendo sido no dia seguinte interrogado pela PIDE que percorria a vila à procura de testemunhas que pudessem denunciar o seu imperdoável crime.

 

Um debate vivo que acima de tudo homenageou a coragem do povo português, a crueldade do regime fascista e a sua natureza de classe, bem patente no facto de transferir alimentos para Alemanha nazi em plena segunda guerra mundial enquanto o povo português sofria o racionamento dos géneros alimentícios, e o papel do PCP na organização da resistência anti-fascista e a confiança que o povo português depositou (deposita) na sua capacidade de direcção das massas trabalhadores na intensa luta de classes que se travava (trava).

 

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