Cerca de uma centena de pessoas compareceram no debate promovido pela Direcção Concelhia de Odivelas do PCP, sobre a prestação dos cuidados de saúde no Concelho. Esta iniciativa contou com a participação de Bernardino Soares, Deputado na A.R. e Silva Santos, Médico. Perante a gravidade da situação exposta, saiu reforçada a convição de que face a este estado de coisas o caminho continua a ser a luta.
Casa Cheia para exigir mais e melhor saúde
Realizou-se durante a tarde do passado Sábado, na Biblioteca D.Dinis em Odivelas o debate promovido pela Direcção Concelhia de Odivelas do PCP que abordou um conjunto variado de questões relacionadas com a problemática dos cuidados de saúde, quer no plano local, quer no plano mais vasto da política de saúde em termos nacionais.
As primeiras intervenções couberam a Maria da Luz Nogueira, vereadora da CDU na Câmara Municipal de Odivelas, Silva Santos, médico e dirigente distrital do PCP e Bernardino Soares, deputado do PCP na Assembleia da República e membro da Comissão Política do PCP. A condução deste debate coube a Deolinda Santos, membro do Comité Central do PCP e responsável pela organização concelhia de Odivelas.
Maria da Luz Nogueira caracterizou o actual estado que o Concelho de Odivelas vive em termos de cuidados de saúde, afirmando que, face ao crescimento da população de Odivelas, hoje são seguramente mais de 40.000 os utentes em todo o Concelho sem médico de família. Referindo-se às consultas de especialidade, considerou lamentável não haver um único ginecologista e o único pediatra que havia reformou-se recentemente e não foi substituído. A crescente degradação dos equipamentos de saúde, a par das promessas por cumprir do governo PS, mereceu também a atenção da autarca que, a terminar, teceu duras críticas à vergonhosa cumplicidade do PS local, com particular responsabilidade da Presidente de Câmara que, assistindo à degradação crescente dos serviços de saúde em Odivelas, não exerce junto do Governo do seu partido a necessária pressão política. Ao invés, procura desresponsabilizar o Governo, avançando com parcerias público-privadas, que só favorecem os especuladores imobiliários e perpetuarão os problemas de saúde em Odivelas.
A segunda intervenção coube a Silva Santos, médico conhecedor dos problemas do Concelho de Odivelas já que durante décadas aqui trabalhou e viveu. Para Silva Santos, em 30 anos nada mudou, Odivelas está pior em matéria de cuidados de saúde, a sua única satisfação é perceber que a população não desiste de lutar pelos seus direitos, o que tem sido manifesto nos últimos tempos.
Referindo-se ao Serviço Nacional de Saúde, que considerou um fruto de Abril, Silva Santos afirmou que, há muito está em marcha a tentativa da sua destruição, muitas vezes feita à sucapa, utilizando técnicas suaves para transferir para os privados, serviços que são da competência do Estado. Ao diminuir o número de médicos e outros técnicos de saúde, fechando serviços e criando dificuldades de acesso ao Serviço Nacional de Saúde, o Governo PS empurra para os serviços privados milhares de utentes que, por via da necessidade imediata de uma consulta optam por pagar aos privados que fazem da saúde um negócio, deixando sem assistência as famílias com maiores carências económicas.
No final da sua intervenção realçou ainda que estas politicas são articuladas para favorecer os lobbies do interesse privado que floresce na área da saúde, dando como exemplo a área de oftalmologia, onde só em 2007 perdemos mais de 150 médicos no sector público.
Bernardino Soares trouxe ao debate a perspectiva do PCP sobre a política de saúde do Governo PS que, no essencial, obedece aos desejos dos grandes grupos privados e multinacionais com interesses económicos nesta área. Referindo-se às parcerias público-privadas, o deputado comunista afirmaria que são, por um lado, reveladoras da ausência de investimento nesta área e um erro, já que ficará sempre mais caro ao Estado transferir para os privados a construção e gestão clínica dos serviços de saúde. Sairá sempre muito mais barato se for o Estado a construir e a gerir, afirmou.
Bernardino Soares faria ainda o relato de alguns exemplos em que o Estado e, por consequência os portugueses, ficaram claramente a perder, como é exemplo o Hospital Amadora/Sintra, com claras vantagens para o Grupo Mello que apesar de ter lesado o estado em milhões de Euros vê de novo a possibilidade de lhe serem concedidas mais unidades hospitalares para construção e gestão, ou os negócios com duas multinacionais para a prestação de cuidados de hemodiálise, que após se ter diminuído a capacidade do Serviço Nacional de Saúde o Estado está agora refém dos preços impostos pelas multinacionais que operam em Portugal.
Do público vieram relatos devastadores daquelas que são as consequências da aplicação desta política de saúde. Meses infindáveis de espera por uma consulta ou por um exame, degradação das instalações e lamentos dos próprios médicos e técnicos administrativos, igualmente revoltados pelas condições em que são obrigados a exercer a sua actividade. Também a situação dos Cuidados Continuados Integrados e Paliativos, com a saída do único médico a tempo inteiro e a redução do horário do apoio domiciliário foi objecto de denúncia neste debate.
No final, Deolinda Santos afirmaria que, face a este estado de coisas o caminho continua a ser a luta, esperando que em Odivelas, tal como até aqui, a população saiba dar a devida resposta e que não se deixe iludir pelas agendas da propaganda do PS.