No dia 25 de Abril de 1974, um gesto de Celeste Caeiro fez dos cravos vermelhos o símbolo da liberdade. Na altura, trabalhava no restaurante Franjinhas, que comemorava o seu aniversário. Tinham para isso encomendado muitos cravos. Devido ao apelo do Movimento das Forças Armadas para que as pessoas ficassem em casa, o Franjinhas ficou fechado. Celeste levou os cravos consigo e quando passou por um soldado deu-lhe um cravo vermelho, que este colocou no cano da G3. Os outros fizeram o mesmo, e assim nasceu o símbolo da revolução.
A ligação de Celeste, como a de muitas centenas de milhares de trabalhadores, não se ficou por uma flor, viveram intensamente o ano em que tudo foi possível, a liberdade, as conquistas da revolução e a aprovação da Constituição mais progressista da Europa Ocidental. Como milhões de pessoas, Celeste nunca desistiu de lutar por uma sociedade mais justa. Ainda hoje dá o seu contributo. Celeste Caeiro é a mandatária da lista da CDU à freguesia de Santo António, em Lisboa.
A lista da CDU à Junta de Freguesia de Santo António foi apresentada no passado sábado, na Praça da Alegria, com a presença de João Ferreira, candidato da CDU à presidência da Câmara Municipal de Lisboa.
A sessão foi conduzida pelo jornalista Domingos Mealha, que foi durante muito tempo eleito desta coligação na assembleia de freguesia. Na sessão, tomaram a palavra a cabeça de lista da CDU à freguesia de Santo António, Sónia Costa, 47 anos, contabilista de formação e mestre em auditoria, e João Ferreira.
Sónia Costa começou por referir o orgulho que sente em que a lista tenha como sua mandatária, “a camarada Celeste Caeiro, que é um exemplo de vitalidade, entrega e esperança para todos os que integram a nossa lista (…) na sua dedicação para a concretização dos valores de Abril na freguesia de Santo António”.
Durante o mandato autárquico, que está a chegar ao fim, a CDU marcou presença na defesa dos interesses das populações e na luta por uma freguesia onde, afirmou Sónia Costa, “não sejam privilegiados apenas o turismo e a habitação para os estratos mais favorecidos, mas que seja uma freguesia para todos os seus habitantes, incluindo aqueles que foram forçados a residir na periferia de Lisboa”.
A cabeça de lista da CDU à freguesia de Santo António lembrou: “Esta é hoje uma das freguesias com o preço mais elevado do país. De acordo com o INE, no último trimestre de 2020, o preço do metro quadrado em Santo António era de 5.544 euros. Em 2017, esse preço era já de 3.827 euros. A lei do arrendamento aprovada pelo PSD e CDS, a célebre lei Cristas, também conhecida por lei dos despejos, impulsionou de forma brutal os despejos na cidade de Lisboa. E se o PSD e CDS a criaram, o PS não a revogou, e Santo António foi das freguesias que mais sofreu com o processo de gentrificação”.
“A aposta irresponsável na monocultura do turismo criou um terreno fértil para a especulação imobiliária e fomentou um afastamento dos nossos antigos vizinhos. Da nossa loja de bairro. Do nosso lugar de estacionamento e do nosso direito ao descanso. Expulsou-se os filhos, os netos e os avós que nasceram na cidade. PSD e CDS, e PS agora com o BE, têm impulsionado políticas que destruíram a Lisboa popular”, concluiu Sónia Costa.
Por seu lado, o candidato da CDU à Câmara Municipal de Lisboa, João Ferreira, mostrou que este processo de expulsar habitantes da cidade tem de ser revertido.
“Se compararmos Lisboa com outras cidades da Europa do mesmo tamanho, não há quase nenhuma que tenha uma diferença tão grande entre aqueles que aqui trabalham e aqueles que aqui dormem todos os dias. Isso quer dizer que houve muitos daqueles que cá trabalham que foram obrigados a ir habitar para fora da cidade. Não conseguem ter acesso àquilo que a nossa Constituição consagra, que é o direito à habitação. Isso não é inseparável das políticas governamentais, como a lei das rendas aprovada por um governo PSD e CDS, mas que o governo PS não quis revogar. Apesar da CDU já o ter proposto mais do que uma vez no Parlamento. Mas é justo dizer que esta especulação imobiliária tem também a ver com aqueles que mandam no município”, disse João Ferreira.
João Ferreira afirmou que só há um caminho para conquistar o direito à cidade: colocar em minoria os responsáveis por estas políticas. “Nestes últimos 20 anos, Lisboa não conheceu, na gestão da CML, sem ser PSD e CDS no executivo ou PS, com ou sem BE. Estes são responsáveis pelo aumento da especulação imobiliária e pelos preços das rendas; pelo encerramento do comércio tradicional; o encerramento de serviços públicos essenciais, como os hospitais”.
O candidato da CDU lembrou que está em cima da mesa o encerramento de seis hospitais no centro de Lisboa, com uma área somada do tamanho da Baixa, e cujos terrenos vão directamente para a especulação imobiliária. Acrescentando que “a população da cidade precisa de hospitais públicos e isso foi percebido, ainda mais, durante a pandemia”.
Para o candidato da CDU à presidência da CML, o que está em causa nestas eleições é o direito à cidade de todos. “O direito à cidade é feito de tudo isto: o direito à habitação; o direito a um emprego de qualidade; o direito a termos serviços públicos de qualidade, saúde, educação e higiene urbana; o direito a ter um ambiente de qualidade na cidade. A CDU mostrou, ao longo destes anos, que é possível que este direito à cidade seja uma realidade para todos”, disse para terminar.