Apresentaçãp Arroios

Arroios. Devolver a cidade às pessoas

 
Apresentaçãp ArroiosFoi em pleno Largo do Intendente, uma das zonas de Lisboa onde a reabilitação urbana se confundiu com a expulsão de moradores e colectividades, que a CDU apresentou a lista para a Assembleia de Freguesia de Arroios.
 
Numa intervenção ao final da tarde, João Ferreira, candidato da CDU à presidência da Câmara Municipal de Lisboa (CML), relembrou que em 2011 o então presidente da CML aí instalou o seu gabinete com a promessa de recuperar a zona

para a cidade e apostar numa reabilitação que mantivesse os seus moradores e um tecido social diversificado. Anos depois, o local é vítima de uma das maiores operações de especulação imobiliária.
 
“Estamos numa zona da freguesia para onde, há alguns anos, o então presidente da Câmara Municipal de Lisboa decidiu mudar o seu gabinete da Praça do Município. Na altura, fê-lo dizendo que era um acto simbólico do impulso que queria dar à cidade. E este foi, de facto, um processo exemplar de reabilitação: exemplar do que pode ser um processo conduzido, a partir do poder político, para abrir caminho a um conjunto de interesses imobiliários que tomaram conta de toda essa porção da cidade. Hoje, vários quarteirões, que estão aqui perto do Largo do Intendente, são propriedade de fundos imobiliários”, disse João Ferreira.
 
A apresentação da lista da CDU à Assembleia de Freguesia dos Arroios começou pela intervenção de Fernanda Lacerda, uma das duas eleitas da CDU em Arroios.
 
A autarca da CDU sublinhou que muitos dos problemas que se agudizaram, na freguesia, durante a pandemia, já existiam antes e que a CDU sempre se bateu pela sua resolução, consultando os moradores e quem trabalha em Arroios.
 
A lista que a CDU apresenta é composta por “21 mulheres e 16 homens. A média de idades é de 46 anos”, revelou Fernanda Lacerda.
 
A encabeçar a lista está Anna Almeida, 64 anos, independente, natural da Checoslováquia, a residir em Portugal e na freguesia há 31 anos. Tradutora de profissão, deu a conhecer em língua portuguesa vários livros da literatura checa. Foi, até este ano, leitora de Língua e Literatura Checa na Faculdade de Letras de Lisboa. É também activista do movimento 1% para a Cultura.
 
Anna Almeida começou por sublinhar, na sua intervenção, as razões que a levaram a aceitar o convite para encabeçar a lista da CDU em Arroios. “Identifico-me com o trabalho colectivo ao serviço da população que a CDU faz”, afirmou, acrescentando que “gostaria de contribuir para a resolução dos problemas de Arroios”, dada a prática de “ouvir as críticas e as sugestões das pessoas para melhorar a qualidade de vida da freguesia, em linha com o trabalho honesto e competente, que os eleitos da CDU têm vindo a desenvolver”.
 
A candidata considerou que o problema da falta de habitação a custos suportáveis é o problema mais grave com que se debate a freguesia: “É preciso desenvolver políticas de habitação que envolvam Estado, CML e Junta de Freguesia de Arroios, promovendo a construção de fogos de rendas acessíveis e lutando contra a especulação imobiliária, que tem como resultado que a maioria das pessoas não tem dinheiro para viver aqui”.
 
Mas Anna Almeida não se ficou pela habitação, traçando um plano mais geral das principais linhas de acção que a CDU vai ter para o próximo mandato.
 
Defendeu a importância de existirem na freguesia centros de saúde com condições, garantiu que a CDU irá continuar a lutar contra o encerramento dos hospitais na colina de Santana e a sua transformação em empreendimentos imobiliários especulativos. Manifestou-se contra o encerramento do único Hospital Pediátrico da cidade, na Estefânia.
 
Continuando o trabalho do anterior mandato, a CDU defende a existência de um complexo de residências seniores que respondam às necessidades da população.
 
“Na área dos transportes é necessária a célere conclusão das obras da estação de Arroios e é fundamental que todas as estações cumpram os requisitos de acessibilidade para as pessoas com mobilidade reduzida. Um bom sistema de transportes públicos contribuirá para a redução dos meios de transportes individuais, como se verifica em todas as cidades modernas e desenvolvidas.
 
A CDU defende a importância de existirem ciclovias, embora ache que a sua implementação concreta na freguesia exige uma discussão com a população, que nunca foi feita. Sendo preciso avaliar o impacto no trânsito da solução encontrada na avenida Almirantes Reis”, disse Anna Almeida.
 
A candidata afirmou que também é preciso encontrar soluções para a falta de estacionamento na freguesia. E resolver os problemas da recolha do lixo e da limpeza dos espaços públicos.
Lembrou que “graças à proposta e iniciativa da CDU foi criado um parque canino no Campo Mártires da Pátria, mas muito há ainda a fazer em relação à promoção do bem-estar animal na nossa freguesia.”
 
Anna Almeida defendeu a necessidade de mais uma escola básica, com o primeiro e o segundo ciclo, assim como uma rede de creches e jardins infantis que dêem resposta ao rejuvenescimento da freguesia.
 
Finalmente, afirmou que os traços distintivos do projecto da CDU são ouvir as populações e apoiar o movimento associativo e popular, e valorizar os contributos dos trabalhadores da freguesia para que se possa melhorar a vida em Arroios.
 
 
Os obreiros do direito à cidade
 
João Ferreira começou por saudar os candidatos, dizendo que eles serão “destacados obreiros do direito à cidade na freguesia e na cidade. Não serão os únicos, mas serão imprescindíveis nesta luta que queremos levar a cabo com a população”.
 
O vereador do PCP lembrou que o direito à cidade é constituído “por uma multitude de outros direitos que importa reclamar neste tempo em que vivemos”.
 
Denunciou o processo de gentrificação que a cidade e a freguesia sofreram: “Muitos fogos foram desviados da sua função habitacional e são hoje alojamentos locais, hostels. Aquilo que era um tecido de clubes e associações desapareceu, como o Sport Clube Intendente neste largo, os Amigos do Minho e o Clube Recreativo dos Anjos, perto daqui”.
 
Este processo de dar a voz e o poder aos especuladores imobiliários tem responsáveis políticos.
 
“Foi um processo conduzido pelo poder político que levou à gentrificação deste espaço, expulsando gente, famílias, associações e tecido cultural e desportivo, e que entregou uma porção substantiva da freguesia à propriedade de interesses imobiliários. O desenvolvimento da cidade foi deixado nas mãos dos promotores imobiliários e para isso contribuiu em muito as opções de quem assumiu o governo da cidade, que ao liberalizar o uso dos solos na cidade e ao aprovar um Plano Director Municipal (PDM) que diz basicamente que Lisboa será em cada sítio e em cada momento o que o mercado queira fazer dela”, afirmou.
 
Para João Ferreira, apenas os candidatos da CDU nas freguesias, como Arroios, na Câmara Municipal e na Assembleia Municipal dão garantias de se baterem para que o direito à cidade seja devolvido às pessoas, e para que Lisboa não seja tirada aos seus munícipes pela especulação imobiliária.