Sábado, 13 de Abril, teve lugar no Fórum Lisboa o Encontro da CDU. Mais de 200 pessoas participaram na iniciativa, onde foram debatidos os problemas que mais afectam a cidade. João Ferreira, candidato da CDU à presidência da Câmara Municipal de Lisboa nas próximas eleições autárquicas, fez a intervenção de encerramento do Encontro. “O reforço da CDU, das suas posições e dos seus eleitos” – referiu o candidato – “será não apenas um factor de realização de políticas locais a favor das populações, mas também um factor que dará força à luta mais geral dos trabalhadores e do nosso povo.”
Encontro da CDU da Cidade de Lisboa
Fórum Lisboa, 13/04/2013
Intervenção de encerramento
– João Ferreira –
Amigos e camaradas,
Quero, antes de mais, aqui deixar uma saudação e um agradecimento a todos os que fizeram desde Encontro um valioso momento de reflexão e debate sobre a cidade que temos e a cidade que queremos.
Este Encontro surge na continuidade de um percurso de vários anos.
Um percurso marcado pelo trabalho com e para a população da cidade.
Um percurso marcado pela honestidade de quem vê no exercício de cargos públicos não uma forma de adquirir benefícios pessoais, mas sim de assumir um compromisso pela transformação da vida.
Um percurso marcado pela competência de quem sabe que para transformar tem de conhecer e que, por isso mesmo, tem da cidade, dos seus problemas e das soluções necessárias para lhes dar resposta, o conhecimento ímpar que lhe vem de uma profunda ligação à população, aos bairros, aos locais de trabalho, enfim, ao pulsar da vida na cidade.
Entramos agora numa importante e especial etapa deste percurso. Uma etapa onde, como não podia deixar de ser, se impõe um balanço do mandato que agora finda. Ele foi aqui feito, em boa medida, nas intervenções que ouvimos.
Mas este balanço tem para nós um sentido especial. Como também ficou claro nas diferentes intervenções, este balanço não se limita a olhar para trás, para o que foram os últimos quatro ou seis anos da gestão PS/António Costa. Ou até mesmo para o que foram os últimos doze anos, repartidos entre maiorias do PSD-CDS e do PS. Este balanço visa também e acima de tudo abrir caminho, projectar o futuro e ganhar balanço para lutar por esse futuro, tão diferente deste presente!
Se dúvidas houvessem, o rico, diversificado e qualificado conjunto de intervenções a que assistimos hoje vem confirmar aquilo que afirmámos no momento do anúncio público da nossa candidatura: a CDU apresenta-se nestas eleições preparada para disputar e a assumir todas as responsabilidades, incluindo naturalmente a Presidência da Câmara Municipal.
As responsabilidades da Câmara Municipal são muito grandes face à cidade e à população que nela vive e trabalha. A correcta administração da cidade não se compadece com uma gestão distante da população e das suas necessidades, que desvaloriza os recursos do Município, a começar no mais importante – os seus trabalhadores, que faz cidade e do seu desenvolvimento fonte de boas oportunidades de negócio para satisfação de clientelas e interesses particulares, contrariando o interesse geral da população.
Estas são marcas incontornáveis dos seis anos de gestão PS/António Costa, como antes haviam sido da gestão PSD-CDS.
Estes partidos, juntos, extinguiram mais de metade das freguesias de Lisboa. Fizeram-no à revelia das populações, concretizando intenções que esconderam na campanha eleitoral e nos seus programas, e que por isso não foram sufragadas pelos eleitores. Norteados por estreitos cálculos de divisão de influências e satisfação de caciques e clientelas partidárias, próprios de quem vê a cidade como uma coutada particular, afastaram a população dos seus representantes eleitos, desarticulando uma das mais valiosas conquistas do poder local democrático e sua componente intrínseca – as freguesias, do povo e para o povo.
Também por isto, não merecem a confiança dos lisboetas.
A CDU resistiu, denunciou e combateu a extinção de freguesias. Com as populações, organizou e dinamizou a luta em defesa desta conquista que Abril trouxe ao nosso poder local.
Por tudo isto, a “confiança na CDU” ganha um redobrado sentido. Somos, sim, uma força de confiança. Somos a força em quem os lisboetas podem confiar.
Camaradas e amigos,
Neste nosso Encontro esteve a Lisboa que temos, em todas as suas dimensões, com todas as suas contradições.
A Lisboa dos milhares de desempregados, da desindustrialização, do pequeno comércio com a corda na garganta, dos despejos de famílias, empresas e colectividades. A Lisboa dos bairros municipais em adiantado estado de degradação, dos idosos que deixaram de poder ir ao centro de saúde, dos jovens a quem é negado um futuro na cidade, da toxicodependência e da exclusão. A Lisboa onde falta o pré-escolar, dos transportes públicos caros e escassos, do espaço público degradado ou apropriado por interesses privados, dos equipamentos desportivos encerrados e degradados, da cultura ao alcance apenas de alguns. A Lisboa das ruas e passeios esburacados, da deficiente higiene e limpeza urbana, dos mercados às moscas e a cair, do automóvel e só do automóvel.
Expressão das contradições, conflitos e antagonismos que a percorrem, esta é também a Lisboa dos condomínios privados, dos hotéis de charme e dos roteiros turísticos. Da especulação urbanística e imobiliária, das negociatas diversas. Da programação cultural para algumas elites. Dos eventos disto e daquilo. Do “shopping” e do “health club”. Da gentrificação, do aburguesamento de zonas simbólicas da cidade, do afastamento das camadas populares.
A Lisboa das marinas para a náutica de recreio e onde se acabou com o único porto de pesca do Estuário do Tejo.
A Lisboa dos cruzeiros de luxo (que tanto entusiasmam António Costa) que atracam ali não muito longe de bairros municipais vergonhosamente degradados (vergonha convenientemente escondida da vista dos turistas).
Intervir sobre todas estas contradições e antagonismos terá de ser o objectivo de uma governação democrática da cidade. Uma governação que será tanto mais capaz de cumprir este objectivo quanto mais democrática for, quanto mais participada for, quanto mais souber envolver a população na escolha dos caminhos a seguir.
Uma governação CDU, por Lisboa, é condição de uma Lisboa para todos!
Lisboa para todos!
Esta é a Lisboa que queremos e que contrapomos à Lisboa que temos. Esta é a tal cidade desejada, a que daremos forma, desenvolvendo as linhas de trabalho que passaram aqui por diversas intervenções.
Permitam-me que destaque, muito brevemente, algumas delas:
1º. Criar emprego em Lisboa – emprego qualificado e com direitos.
Tirar partido de todos os instrumentos municipais para valorizar e desenvolver o tecido produtivo e empresarial da cidade, com especial atenção aos micro e pequenos empresários.
Libertar e desenvolver o potencial da ciência e tecnologia, da investigação e desenvolvimento, da cultura e das artes.
2º. Definir políticas de habitação que contribuam para atrair e fixar população, estancando e revertendo a saída de jovens.
Desenvolver a reabilitação urbana.
Responder aos inúmeros problemas dos bairros municipais.
Lutar pela revogação da actual lei das rendas.
3º. Defender os serviços públicos. Dar resposta às necessidades específicas da população idosa e à necessidade de reforço da rede do pré-escolar. Exigir do poder central a assunção das suas responsabilidades, nas áreas da Saúde e do Ensino, entre outras.
Defender a propriedade e a gestão públicas dos serviços de abastecimento e de saneamento de águas e da limpeza urbana.
4º. Travar e reverter a degradação do transporte público na cidade, apostando na sua qualidade e cobrindo toda a extensão da cidade, com uma visão integrada dos diferentes modos de transporte.
5º. Humanizar e qualificar o espaço público, estimular e democratizar a sua fruição. Uma outra atenção ao peão, aos cidadãos com mobilidade reduzida e aos modos activos de transporte.
6º. Desenvolver políticas ambientais sustentáveis, que tenham em conta e melhorem os espaços verdes, a eficiência energética, a qualidade do ar e o ruído.
7º. Definir e implementar uma política cultural que envolva os agentes culturais e que, tanto quanto possível, democratize a criação e a fruição culturais.
8º. Estimular e democratizar a prática do desporto na cidade. Apoiar o movimento desportivo popular e associativo.
9º. Concretizar uma política de dinamização com e para a Juventude. Estimular o associativismo juvenil e a participação da juventude na vida da cidade.
10º. Promover uma distribuição dos benefícios do viver colectivo que atenue e progressivamente elimine as desigualdades existentes.
Estas são algumas linhas de um programa em construção. Uma tarefa a que muitos activistas e amigos da CDU lançarão mãos nos próximos tempos. Com determinação, criatividade e competência, em estreita ligação com a população.
Mas queremos que mais e mais gente tome nas suas mãos esta tarefa.
Esta candidatura apela a todos os lisboetas genuinamente preocupados com o presente e com o futuro da cidade, independentemente das opções eleitorais que fizeram no passado. Assumam esta candidatura como vossa e ajudem-nos a dar forma à cidade também por vós desejada.
Encontrarão na Coligação Democrática Unitária o espaço e a força capazes de dar corpo a muitas das vossas aspirações, projectos e lutas.
Daqui voltamos a dirigir uma palavra aos trabalhadores do Município – da Câmara Municipal e das empresas municipais. Sabemos bem dos ataques de que têm sido alvo e das ameaças que se perfilam no horizonte, sejam as que vêm do poder central, seja as que partem da própria autarquia.
A reforma administrativa da gestão PS/António Costa esconde inconfessados objectivos de mais facilmente vir a externalizar e a privatizar serviços e competências. O que não conseguiram fazer antes, fruto da luta e resistência dos trabalhadores, vão tentar fazê-lo agora, sob o pretexto de uma alegada descentralização, que nunca vem com os necessários meios para o exercício das novas competências.
A primeira ameaça que pesa sobre os trabalhadores é o desaproveitamento do seu potencial, dos seus conhecimentos e competências, do seu saber-fazer. Foi o que fez António Costa e o PS. Mandando fazer fora, a privados, o que podia ser feito pelos serviços da autarquia, com garantia de qualidade e economia de recursos.
Quanto à CDU, estivemos, estamos e estaremos ao vosso lado, defendendo os vossos direitos. O projecto da CDU para a cidade é a mais sólida garantia de defesa desses direitos. Porque o projecto da CDU constrói-se com os trabalhadores, com o seu empenho e mobilização. São imprescindíveis. Serão respeitados e valorizados.
Camaradas e amigos,
A irreprimível vontade de mudança que a nossa candidatura corporiza inscreve-se na necessidade de uma mudança não apenas em Lisboa, mas no próprio país.
A batalha das próximas eleições autárquicas insere-se nesta luta mais ampla.
Uma luta pela derrota deste governo, da sua política e dos apoiantes, estejam ou não no governo.
O reforço da CDU, das suas posições e dos seus eleitos, será não apenas um factor de realização de políticas locais a favor das populações – o que já não seria pouco – mas também um factor que dará força à luta mais geral dos trabalhadores e do nosso povo, que ajudará a projectar na vida nacional a política patriótica e de esquerda que rompa com o rumo de empobrecimento, dependência e subordinação para que o país foi arrastado.
Esperam-nos lutas árduas mas entusiasmantes.
A campanha da CDU vive da generosidade, do empenho e do entusiasmo dos seus activistas. Enfrentaremos bloqueios, silenciamentos e deturpações. Já os sentimos. Não abrandarão. Insistiremos. Persistiremos. Numa luta feita do contacto directo, pessoa a pessoa, vizinho a vizinho, colega a colega, camarada a camarada. Esclarecendo e mobilizando. Os problemas da cidade e as soluções que propomos ocuparão um lugar central na nossa campanha.
À modéstia de meios financeiros juntaremos a imaginação, a audácia e a coragem próprias de quem vive a transformar a vida! E assim sim, será possível:
A CDU em Lisboa.
Uma Lisboa, cidade de Abril, pensada e construída por todos, para todos!
Que viva esta Lisboa para todos!
Viva a CDU!