Comerciante Carnaval

Rendas: o senhorio invisível

Comerciante CarnavalNa Baixa, o panorama é desolador. Nuno Santos, 44 anos, está no negócio da família A Casa do Carnaval, na Travessa Nova de São Domingos, há 25 anos. É uma casa com mais de 130 anos que, além de fatos de carnaval, máscaras, confetes e purpurinas, vende também material e decoração para todo o tipo de festas. “Esta rua, a partir das 7 da tarde é o deserto. Está a voltar a insegurança. Montras partidas, não há higiene urbana. Enviamos cartas e mais cartas

com protestos, mas ninguém nos ouve”, diz. O comerciante queixa-se de que esta é praticamente a última loja naquela rua, nas traseiras da Praça da Figueira, agora apertado entre uma série de projectos de grandes hotéis, do quarteirão da pastelaria Suíça e do Hotel Convento São Domingos planeado para o edifício do Braz & Braz.
 
Carlos e Natália Encarnação, 57 e 55 anos, são sapateiros no Poço do Borratém, mesmo em frente ao antigo Braz & Braz. Aguentaram os meses de confinamento com algumas dificuldades, entre poupanças próprias, o lay-off e apoios da CML. Trabalham há 33 anos na zona histórica, primeiro em Alfama, depois aqui. “Dantes tínhamos muito trabalho, os bairros estavam cheios de gente. Agora é a desertificação total”, dizem. O turismo vai dando para alguns serviços, como arranjos de malas de viagens ou sapatos. Mas o problema não é o turismo em si: “Haver ou não haver turismo não é o problema. O problema é não haver pessoas. Não temos ninguém aqui no bairro, é tudo alojamentos locais.”
 
Na rua de São Lázaro, Carlos Jorge, 67 anos, queixa-se da forma como foi conduzido o processo dos cerca de 12 lojistas que foram forçados a sair do quarteirão onde estavam há muitas décadas, em prédios municipais cujos contratos foram suspensos pela autarquia. O lojista das Malhas Socorro, especialista em têxteis, retalho e revenda, diz que foram coagidos a sair e se sentiu forçado a aceitar a indemnização. “Aquele era o nosso negócio. O nosso espaço. Aquele espaço foi feito pela gente, foi transformado com obras às nossas expensas, e isso nunca foi tido em conta”, diz Carlos Jorge. Agora estão ali “até ver, ou até o senhorio decidir”.
 
No contacto com estes comerciantes, João Ferreira, Candidato da CDU à presidência da Câmara Municipal de Lisboa, deu a conhecer a intervenção dos eleitos da CDU e a sua oposição em deixar ao “mercado” a responsabilidade de regulador dos destinos da Cidade e a uma politica de submissão à especulação imobiliária, bem como a falta de medidas de apoio e defesa ao comércio local.