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Cascais: PCP repudia a atribuição da distinção de Cidadão Honorário do Município a Cavaco Silva

imagem geralEm Reunião Extraordinária da Câmara Municipal  de Cascais, hoje efectuada, a maioria PSD/CDS, com os votos contra do PS, do PCP e do Movimento Ser Cascais, aprovou a atribuição da distinção de Cidadão Honorário do Município ao actual Presidente da República. O vereador do PCP, Clemente Alves, justificou a oposição nos termos da declaração que aqui transcrevemos.

ATRIBUIÇÃO DA DISTINÇÃO DE CIDADÃO HONORÁRIO DE CASCAIS A ANÍBAL CAVACO SILVA

A distinção que os eleitos do PSD e do CDS na Câmara de Cascais decidiram atribuir ao Professor Aníbal Cavaco Silva não é nem pode ser vista como sendo mais do que isso mesmo: uma homenagem de parte desta Câmara a uma pessoa que no exercício dos cargos de representação nacional sempre orientou os seus actos pela afirmação de ser o representante dos piores interesses de alguns e de nunca ser o representante de todos os portugueses.

Eleito para o segundo mandato de Presidente da República com os votos de menos de 1/4 dos portugueses, Aníbal Cavaco Silva nunca nada fez para tentar demonstrar ser injustificada a pouca confiança que, através do voto os portugueses, e entre estes os cascalenses, lhe expressaram.

Pelo contrário, ao longo dos anos fez questão de mostrar aos grupos económico-financeiros e ao grande patronato que era ele o amigo dos seus interesses, contra quem trabalha, a que deixou que reduzissem os salários e cortassem direitos sociais; contra os idosos, a que permitiu que espoliassem as pensões e as reformas; contra os jovens, a que permitiu que negassem o direito de trabalharem e de constituir família no país que é seu, e que depois mandaram imigrar; contra todo o povo, a que permitiu que impusessem a obrigação de pagar a banqueiros ladrões e corruptos os desfalques e os roubos que fizeram ao país.

Sem um lampejo de pudor, Cavaco Silva, ainda primeiro-ministro, foi quem se atreveu a agraciar os facínoras da PIDE que participaram no brutal assassínio do General Humberto Delgado e de outros resistentes antifascistas quando, ao mesmo tempo, negava à viúva do heroico Capitão de Abril, Salgueiro Maia, uma modesta pensão de sangue.

Enquanto ignorava os maiores vultos da cultura portuguesa, Cavaco Silva condecorou o costureiro dos vestidos da sua mulher e, entre outras significantes condecorações, também um indivíduo de nome Sousa Lara, reconhecido por ter censurado a obra literária de José Saramago, escritor a quem, por ser comunista, até à sua morte se recusou a dirigir uma palavra para agradecimento dos contributos que o Escritor, o Homem e o Humanista, laureado com a mais alta distinção mundial, o Prémio Nobel da Literatura, deu à Cultura portuguesa e ao prestígio de Portugal no Mundo.

A história do nosso país sem dúvida que fica marcada pela acção de Aníbal Cavaco Silva, mas pelos piores motivos:

– Pelo seu empenho na restauração dos grupos monopolistas e pelo directo contributo que lhes deu na acumulação acelerada de capitais tendo por base o esbulho de bens e dinheiros do Estado;

– Pela restauração dos latifúndios e pelo escândalo das privatizações, com a entrega ao estrangeiro de alavancas fundamentais da economia nacional;

– Pelo brutal agravamento da exploração do povo, pelos  despedimentos em massa, o trabalho infantil, a discriminação das mulheres, a disseminação da precaridade, levando a muitos milhares de famílias a pobreza, a fome e a miséria.

A acção política de Cavaco Silva sempre se caracterizou por atitudes de submissão dos interesses portugueses a estrangeiros, pela entrega de poderes e competências fundamentais da nossa soberania e independência, expondo o país a uma humilhante subserviência, aceitando para Portugal um lugar discriminado, periférico e submisso na União Europeia.

Nos últimos quatro anos, Cavaco Silva desempenhou o papel determinante no suporte e patrocínio do governo do PSD e do CDS que desenvolveu a política de direita a níveis aviltantes de empobrecimento e exploração dos trabalhadores e do povo, num rasto de destruição que custará décadas de esforço para ser reparado.

Como ainda há dias escreveu Batista Bastos, reputado escritor e atento observador da vida nacional, “nunca um Presidente da República foi tão condenado. E a culpa é dele próprio: totalmente arrogante, autoritário e inculto, ele representa o que de pior o português em si encerra”. “O rol das indigências do Dr. Cavaco é enorme e nada nele serve de exemplo positivo”

É por tudo isto, e também por muito mais que não cabe no curto tempo que me é concedido para esta declaração, que o PCP se opõe à atribuição da distinção de Cidadão Honorário de Cascais a Aníbal Cavaco Silva, distinção que como já disse não é dada pelo povo cascalense, mas sim e apenas pelos autarcas do PSD e CDS ao seu líder ideológico de facção.

Cascais, 4 de Março de 2016