Manuel Gouveia, Sobre os Exames Nacionais: E eu é que sou totalitário!

E eu é que sou totalitário!
Manuel Gouveia

O exame de História A do 12º Ano abre com com um texto de Estáline e uma gravura com a legenda “gulag na União Soviética”. E inclui ainda um texto de Kennedy sobre a crise dos misseis.

Sobre os primeiros “dois documentos” pedem que se identifique três práticas políticas do Estalinismo evidenciadas pelos documentos. A resposta tem de andar à volta de purgas, deportações, etc. Quem responder que não vê dois documentos, mas um texto cuja análise não está errada e uma caricatura desenhada sabe-se lá por quem, que não sabe o que é o estalinismo, mas que se quiserem pode fazer uma análise sobre o processo revolucionário soviético nos anos 30, acaba de ter ZERO e lá se vai a Universidade.

Mas o aluno ainda é obrigado a saber que Kennedy agia preocupado pelo expansionismo soviético e pela paz mundial (pergunta 3), e fazer uma análise “profunda” sobre esse mesmo expansionismo soviético (4). Quem responda que não houve expansionismo soviético, que Kennedy nunca se preocupou com a paz mundial e antes sempre praticou o terrorismo e a guerra (ex. Cuba, Vietnam) acaba de juntar mais dois ZEROS e a Universidade nem por um canudo…

A terminar o teste um texto de Mário Soares. Agora, e “segundo o autor”, só temos que identificar três aspectos positivos da entrada de Portugal na UE. E sou capaz de apostar que se a resposta começar por “Segundo a visão errada do autor,”, junta-se mais um ZERO à colecção.

Mas para quem pense tratar-se de um caso isolado, acrescento que o exame de português tinha apenas um texto para interpretar, sobre a UE e a sua preocupação em assegurar “um equilíbrio cuidadoso entre a prosperidade económica, a justiça social e um ambiente saudável”, um texto de pura propaganda, recheado de falsidades e demagogia, e com base no qual era preciso concluir alarvidades como “o desenvolvimento sustentável é um compromisso da União Europeia”, e isto martelado para dentro de um exame de português! E que no exame de História B se pedia para ler um texto de Sá Carneiro e para explicitar “como a revolução do 25 de Abril de 74 operou a mudança de regime preconizada por Sá Carneiro”, sendo certo que quem respondesse “em nada” ou “Sá Carneiro juntou-se à Revolução para acabar com a Revolução, na defesa dos interesses exploradores da burguesia que foram sempre os seus interesses de classe” recebia um rotundo ZERO.

Isto não são exames! São o prolongamento das lavagens cerebrais em que se vai transformando o ensino de algumas disciplinas em Portugal. São formas de recusar a entrada na Universidade de alunos cujos conhecimentos académicos, embora correctos e fundamentados, não correspondem à cartilha ideológica das classes dominantes. São processos para desde pequenos fazer a malta perceber que “ou alinhas” ou “não comes”. São processos marcados pelo TOTALITARISMO, pela DESONESTIDADE, pela FALSIFICAÇÃO HISTÓRICA, pela PROPAGANDA do pensamento único.


São o espelho do Sócretinismo que fede das classes dominantes portuguesas!
 
Anexos:
 
Prova e Critérios do Exame de História A 
Prova e Critérios do Exame de História B 
Prova e Critérios de Português