Júlio Filipe, Viva Che Guevara, sempre!


"(…)Che reunía, en su extraordinaria personalidad, virtudes que rara vez aparecen juntas. El descolló como hombre de acción insuperable, pero Che no solo era un hombre de acción insuperable: Che era un hombre de pensamiento profundo, de inteligencia visionaria, un hombre de profunda cultura. Es decir, que reunía en su persona al hombre de ideas y al hombre de acción. Pero no es que reuniera esa doble característica de ser hombre de ideas, y de ideas profundas, la de ser un hombre de acción, sino que Che reunía como revolucionario las virtudes que puedan definirse como la más cabal expresión de las virtudes de un revolucionario. Hombre íntegro a carta cabal, hombre de honradez suprema, de sinceridad absoluta, hombre de vida estoica y espartana, hombre a quien prácticamente en su conducta no se le puede encontrar una sola mancha. Constituyó por sus virtudes lo que puede llamarse un verdadero modelo de revolucionário."

Fidel Castro

Neste dia, 9 de Outubro, completam-se quarenta e dois anos sobre a morte de Che, assassinado por militares bolivianos, ao serviço de uma ditadura dirigida pela CIA, um dia após ter sido aprisionado, ferido numa perna, com mais dois guerrilheiros, na localidade de La Higuera e dias depois de sofrerem uma emboscada, na qual vários guerrilheiros tombaram em combate.

 
Nesta data, homenageamos a morte em combate de um comunista valoroso, de um indefectível marxista-leninista, cuja vida de combatente pelos nobres ideais do socialismo fica impressa de forma imorredoira na história da libertação nacional e social dos povos de todo o mundo.
 
Muito ficará por dizer e escrever, quanto ao património riquíssimo das suas ideias, sobre os ensinamentos da sua militância internacionalista ímpar, àcerca das suas reflexões sobre a construção da nova sociedade socialista, como uma criação colectiva dos trabalhadores e do povo. Ficará para outra oportunidade. Entretanto, assinalando o aniversário da sua morte, justifica-se transcrever algumas breves notas biográficas de Che, recordando assim a sua vida e o seu luminoso exemplo de lutador incansável, insubmisso, revolucionário, integral, generosamente devotado à causa da libertação da Humanidade e ao fim da exploração e da opressão imperialistas.

Nascido em 14 de Junho de 1928 na cidade de Rosário, Guevara foi o primeiro dos cinco filhos do casal Ernesto Lynch e Celia de la Serna y Llosa. Sua mãe foi a principal responsável por sua formação porque, mesmo sendo católica, mantinha em casa um ambiente de esquerda e sempre estava cercada por mulheres politizadas. Desde pequeno, Ernestito – como era chamado – sofria ataques de asma e por essa razão, aos 12 anos, se mudou com a família para as serras de Córdoba, onde morou perto de uma favela. A discriminação para com os mais pobres era comum à classe média argentina, porém Che não se importava e fez várias amizades com os favelados. Estudou grande parte do ensino fundamental em casa com sua mãe. Na biblioteca de sua casa – que reunia cerca de 3000 livros – havia obras de Marx, Engels e Lenine, com os quais se familiarizou na sua adolescência.
Em 1947, Ernesto entra na Faculdade de Medicina da Universidade de Buenos Aires, motivado em primeiro lugar por sua própria doença, desenvolvendo logo um especial interesse pela lepra. Em 1952, realiza uma longa jornada pela América do Sul com o seu melhor amigo, Alberto Granado, percorrendo 10.000 km numa moto "Norton 500", batizada de ‘La Poderosa’. Observam e interessam-se por tudo, analisam a realidade com visão crítica e pensamento profundo. Os oito meses dessa viagem marcam a ruptura de Guevara com os laços nacionalistas e dela se origina um diário. Aliás, escrever diários torna-se um hábito para o argentino, cultivado até a sua morte. No Peru, trabalhou com leprosos e resolveu tornar-se um especialista no tratamento da doença. Che saiu dessa viagem chocado com a pobreza e a injustiça social que encontrou ao longo do caminho, identificando-se com a luta dos camponeses por uma vida melhor.

 
Mais tarde voltou à Argentina, onde completou seus estudos em medicina. Foi convocado para o exército, porém, incompatibilizado com a ideologia peronista, não admitia ter de defender um governo autoritário. Portanto, no dia da inspecção médica, tomou um banho gelado antes de sair de casa e, na hora do exame, teve um ataque de asma. Foi considerado inapto e dispensado.
 
Já envolvido com a política, em 1953 viajou para a Bolívia e depois seguiu para Guatemala, com seu novo amigo, Ricardo Rojo. Foi lá que Guevara conheceu a sua futura companheira, a peruana Hilda Gadea Acosta e, também, Ñico Lopez, que futuramente o apresentaria a Raúl Castro, no México. Na Guatemala, Arbenz Guzmán, o presidente de esquerda moderado, comandava uma ousada reforma agrária. Porém, os EUA, descontentes com tal acto que retiraria terras improdutivas às suas empresas para as conceder aos camponeses pobres, planearam um golpe bem sucedido, colocando no governo uma ditadura militar por eles manipulada. Che ficou inconformado com a facilidade norte-americana em dominar o país e com a aparente apatia dos guatemaltecos. A partir desse momento, convenceu-se da necessidade de tomar a iniciativa contra a exploração e crueldade do imperialismo.
 
Com o clima tenso na Guatemala e perseguido pela ditadura, Che foi para o México. Alguns relatos dizem que corria risco de vida no território guatemalteco, embora essa ida para o México já estivesse planeada. Lá vai leccionar numa universidade e trabalhar no Hospital Geral da Cidade do México, onde reencontrou Ñico Lopez, que o levou a conhecer Raúl Castro.
 
Raúl Castro, que se encontrava refugiado no México, após a fracassada revolução em Cuba em 1953, tornou-se rapidamente amigo de Che. Depois, Raúl apresentou Che a seu irmão mais velho Fidel que, do mesmo modo, se tornou seu amigo instantaneamente. Tiveram a famosa conversa de uma noite inteira onde debateram sobre política mundial e, no final, estava acertada a participação de Che no grupo revolucionário que tentaria tomar o poder em Cuba.
 
A partir desse momento começaram a treinar tácticas de guerrilha. Em 25 de Novembro de 1956 os revolucionários cubanos desembarcam em Cuba e se embrenham na Sierra Maestra, de onde comandam o exército rebelde na bem-sucedida guerrilha que, três anos depois, derrubou o governo de Fulgêncio Baptista, uma ditadura corrupta que tinha transformado Cuba num casino e num bordel para os milionários estado-unidenses.
 
Na ofensiva final, colunas rebeldes partem de diversos pontos do território cubano, entre elas as colunas dos comandantes Che Guevara e Camilo Cienfuegos, as quais avançam sobre a província de Lãs Villas. Em acções coordenadas, as já numerosas colunas de II e III frentes orientais vão tomando os povoados adjacentes para fechar o cerco sobre Santiago de Cuba. Che Guevara, conquista um após outro os povoados ao longo da estrada central e ataca e rende as forças da guarnição governamental da cidade de Santa Clara, capital provincial.
 
Depois da vitória, em 1959, Che torna-se cidadão cubano, ministro e um dos principais dirigentes de Cuba socialista. Marxista-leninista convicto, é apontado como um dos responsáveis pela adesão de Fidel à ideologia comunista, assim como pelo corajoso confronto do novo governo cubano com os Estados Unidos.
 
Todavia, Che acreditava apaixonadamente na necessidade de generalizar o exemplo cubano aos movimentos guerrilheiros da região e também da África. Em 1964, despedindo-se dos seus camaradas e abandonando as altas funções que exerceu no partido e no Estado cubanos, decidiu retomar o caminho da luta de guerrilhas. Primeiro na Argentina, onde o seu grupo de combatentes foi descoberto e a maioria morta ou capturada. Em seguida, um ano depois de fugir da Argentina, volta à luta armada, no antigo Congo Belga – mais tarde Zaire e actualmente República Democrática do Congo – de onde teve que ser retirado por militares revolucionários cubanos, perante o fracasso do inconsequente movimento guerrilheiro local.
 
Regressado, de novo recusou a possibilidade de uma actividade política em Cuba, onde por certo as suas ideias teriam sido uma ajuda valiosa, voltando à luta de guerrilha, desta vez na Bolívia.
 
Disfarçado de economista uruguaio, Che Guevara entrou na Bolívia em Novembro de 1966. A ele se juntaram 50 guerrilheiros – cubanos, bolivianos, argentinos e peruanos – numa base num deserto do Sudeste do país. Seu plano era treinar guerrilheiros de vários países com o objectivo de, a partir de uma guerra de guerrilha na Bolívia, iniciar uma revolução continental.
 
Em 26 de Setembro de 1967, o exército emboscou as tropas revolucionárias comandadas por Che, perto do povoado de La Higuera. Houve um enfrentamento no qual vários guerrilheiros tombaram em combate. Guevara ficou ferido em uma perna. Em 8 de Outubro, foi aprisionado junto com mais dois combatentes, sendo levados à escola daquele povoado, a 50 quilómetros de Vallegrande e onde, no dia seguinte à sua captura, seriam executados por ordens do agente da CIA, Félix Rodrigues. Guevara foi executado com nove tiros, portando-se valentemente perante os seus algozes, "comandos" militares treinados pelo exército dos EUA e ao serviço do ditador de turno, general René Barrientos.
 
Em 17 de Outubro de 1997, os seus restos mortais foram recuperados pelo estado cubano, sendo realizado finalmente o seu funeral com honras de estado, na cidade cubana de Santa Clara (onde liderou uma batalha decisiva para a derrubada de Baptista), com a presença da família e de Fidel.

A sua morte, aos 39 anos, interrompeu o seu sonho pessoal de estender a Revolução Cubana à América Latina, mas não impediu que os seus ideais continuassem a gozar de enorme popularidade até hoje, continuando a fazer sonhar milhões entre os homens e mulheres de esquerda. Há poucos dias, as agências de notícias que cobriam uma manifestação em Istambul, realizada contra a presença naquela cidade da cimeira imperialista do Banco Mundial e do FMI, relataram, surpreendidos, que os manifestantes cantavam a conhecida canção de Carlos Puebla -escrita em sentida homenagem a Che – "Hasta siempre, Comandante Che Guevara", hoje um hino à luta e à solidariedade de classe dos trabalhadores do mundo inteiro.

 
Che Guevara, a sua imagem e o seu exemplo de militância sem tréguas, transformaram-se num ícone da história das revoluções do século XX e num exemplo de coerência política, um símbolo de resistência e de luta para os países latino-americanos e para os revolucionários de todas as latitudes. Decorridos 42 anos depois de sua morte, a figura de Che continua fulgurante, a sua vida ímpar de revolucionário continua uma poderosa fonte inspiradora para todos quantos resistem e lutam contra o imperialismo. "Hasta siempre, compañero!"