António Pessoa,
in Militante
(Excerto)
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No que respeita ao primeiro quarto de século, o acontecimento de maior importância centra-se na implantação da República que substituiu o regime monárquico, em 5 de Outubro de 1910.
Alguns autores tentam atribuir esta mudança de regime ao sabor do acaso, ocorrida mais por apodrecimento da instituição monárquica do que pela acção dinâmica das forças republicanas, encobrindo, melhor, escamoteando, assim, a importância do movimento popular, a influência dos militares, em especial os de baixa patente, o destaque das sociedades secretas como a Maçonaria e a Carbonária e sobretudo o papel preponderante que o Partido Republicano revestiu em todo este processo revolucionário, porque foi disso que na verdade se tratou.
Polarizando o descontentamento popular em consequência do ultimato inglês de 11 de Janeiro de 1890, referente à ocupação, por parte da Inglaterra, dos territórios centrais do continente africano, pertença de Portugal, por alegados direitos históricos, o Partido Republicano Português (PRP) constituiu-se como uma força política prestigiada de oposição ao regime vigente. O reforço da sua capacidade de organização, permitiu-lhe estreitar a ligação com o movimento de massas, com maior incidência no de carácter urbano, não descurando, no entanto, o resto do País, estabelecer a aliança com os militares de escalão mais baixo que, ou tomaram parte no movimento ou evitaram que as suas unidades saíssem para lhe pôr côbro, e atrair à causa as sociedades secretas, logo que constatou que seria impossível chegar ao poder por via eleitoral.
Às tentativas levadas a cabo em 31 de Janeiro de 1891 e 28 de Janeiro de 1908, sucedeu o atentado real de 1 de Fevereiro do mesmo ano que feriu a monarquia de morte. O êxito eleitoral do PRP nas eleições de 28 de Agosto de 1910, conseguindo, só no círculo por Lisboa, eleger dez deputados, já prenunciavam a vitória de 5 de Outubro.
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