Vila Franca de Xira do PCP, prestou homenagem ao camarada Carlos Pato,
nos 60 anos do seu assassinato pela PIDE no Forte de Caxias. Uma
iniciativa que teve lugar no Clube Vilafranquense, homenagem sentida que
contou com a participação de inúmeros familiares do camarada e de
Armindo Miranda da Comissão Política do PCP, a que se seguiu uma romagem
ao cemitério de Vila Franca de Xira para a colocação de uma coroa de
flores. Na iniciativa foi ainda apresentada uma apresentação
com a biografia de Carlos Pato e feita a leitura de poema da autoria de
José do Carmo Francisco(que esteve presente na iniciativa) e que no
final do artigo se transcreve.
José do Carmo Francisco :
Fala de Carlos Pato
a Alves Redol 60 anos depois
Não morri. Sei que vai sair um
pequeno livro
com os meus três contos
por si guardados.
Em Vila Franca pouca
gente sabe do assunto
mas em breve
esse livro de contos vai esgotar.
Continuo
nas histórias breves que escrevi
e no
seu pequeno prefácio onde me recorda.
Sou
o Bairro, sou a Charneca, sou a Lezíria
e os sonhos dos meus dois filhos por sonhar.
Não morri. Continuo no olhar dos meus filhos
Clara bebé e João Carlos que não cheguei a
ver.
No olhar e nos sonhos por mim
transmitidos
entre o rio de Santa
Sofia e o Largo do Serrado.
Ainda
hoje, tantos anos depois, sobeja azeite
no aroma intenso que se espalha pelas ruas.
Vem
das várias carroças, das raras camionetas
das ceiras onde as azeitonas foram prensadas.
Não morri. Aprendeu comigo a ler e a escrever
o chauffeur de praça que levou Clara a
Peniche.
Meu irmão Octávio tinha então
visitas breves
e a viagem era tão
longa por estradas velhas.
Não queria
já receber o dinheiro esse rapaz
mas
Clara insistiu sempre pelo pagamento.
Também
lhe ensinei à noite a não misturar
os
seus deveres e as influências sentimentais.
Não morri. No Bairro, na Charneca e na
Lezíria
vi mulheres que não tinham
tempo para cantar.
Os sonhos dos
engraxadores na estação da CP.
entram
no meu conto breve do livro pequeno.
Todos
os outros protagonistas saem de manhã
e vendem o seu trabalho no campo à semana.
O vento pampeiro penetra veloz entre as
telhas
e sacode o sono leve dos
ranchos dos gaibéus.
Não morri. Nas
ruas escuras da Bica do Chinelo
corre
ainda hoje um forte rumor de esperança.
Passam cavaleiros a caminho das Cachoeiras
e não há ainda as camionetas para a Arruda.
Gerações sucessivas trabalham uma memória
que há nos prelos das tipografias
clandestinas.
No nome dos meus filhos
Clara e João Carlos
se multiplica o
inventário dos meus sonhos.