Onde moram os privilégios
Carlos Grilo
Algumas pessoas, com acesso quase permanente aos órgãos de comunicação social dominantes, têm vindo a desenvolver larga especulação teórica sobre a bondade das medidas do governo no que concerne à liquidação de direitos dos trabalhadores, em particular, aos da Administração Pública e de serviços públicos.
Entre eles há, pelo menos, três linhas comuns e que se fundem: Um cego fascínio pela acção do governo, uma completa ignorância do percurso histórico das conquistas sociais e a preocupação de salvaguardar os interesses dos grandes grupos económicos e financeiros que dominam a nossa economia.
Deixando agora de parte, embora não esquecendo, o falso independentismo de alguns deles e o seu dócil apoio ao governo de Sócrates, importa não deixar passar em claro e combater estas mesmas ideias que, por tanto serem repetidas, se transformam em «verdades» irrecusáveis.
Um desses casos é o artigo de Vital Moreira com o título, “Aristocracia Operária”, no Jornal Público de 2 de Janeiro. O autor, tal como os outros propagandistas do Governo, baseia-se propositadamente numa falsa noção de privilégios atribuindo-os aos trabalhadores que, por seu lado, com a destruição dos seus direitos conquistados ao longo de anos, resolvem continuar a usar a luta como forma de os defender, o que incomoda bastante VM.
Mas para além dos apelos à resignação e às «virtualidades justiceiras» do Governo, esta diabolização dos direitos dos trabalhadores contém dois sofismas essenciais: Um é a comparação implícita entre os chamados privilegiados e os que não tem quaisquer direitos, emprego, ou tem empregos precários ou salários baixíssimos, ou com os 2 milhões de portugueses no limiar da pobreza. O que significa dizer que para VM a justiça social é para nivelar por baixo, e que no limite, desejaria transformar os portugueses num imenso contingente de pobres sem qualquer outro direito que não fosse isso mesmo, o direito a ser pobre, com VM e Sócrates a bater palmas à regressão social. Outro sofisma é o que resulta dos argumentos que pretendem caracterizar onde estão e quem são os privilegiados, escamoteando onde? em que sector da economia? que pessoas e em que classe se situam e concentram escandalosos privilégios e grandes fortunas?
Não se pode ter outra conclusão que não seja a de considerar, que é em nome destes interesses e destes privilégios que VM e outros fazedores de opinião, reproduzem o seu alinhamento com a campanha de intoxicação ideológica, que acompanha a violenta ofensiva contra os direitos de trabalhadores.