A abertura do primeiro Centro de Trabalho
Fernando Blanqui Teixeira
O Partido Comunista Português viveu, desde Março de 1921 (data do seu nascimento) até Maio de 1926, pouco mais de cinco anos, com alguma liberdade para a sua actuação.
Mas logo após o golpe militar de 28 de Maio começaram a sentir-se medidas para prejudicar e impedir a sua acção junto dos trabalhadores e do povo. Com a implantação crescente de um regime ditatorial em muitos aspectos semelhante ao que existia na Itália e, depois, na Alemanha – regimes fascistas -, a repressão foi aumentando e o Partido passou a actuar em condições de completa clandestinidade.
Após o 25 de Abril, o PCP procurou imediatamente concretizar, quanto possível, a liberdade que parecia conquistada. Mas as condições existentes nos dias seguintes ao 25 de Abril não eram completamente seguras. Basta lembrar que o Presidente da Junta de Salvação Nacional, o general Spínola, nem tinha querido acabar com a PIDE nem permitir a libertação dos presos políticos.
Entretanto, no Barreiro, terra de muitas lutas e de muita repressão, apareceu rapidamente a ideia de criar uma sede para o Partido. Apesar das indicações da direcção do Partido de que era melhor não avançar demasiado rápido – para se po-der medir bem as condições que iam sendo criadas -, alguns passos foram dados para conhecer possibilidades de aluguer de uma casa.
O camarada António Santo (1) , que era então membro da Direcção Regional do Sul e, nessa qualidade responsável pelo Comité Local do Barreiro, acompanhou directamente os acontecimentos. No dia 28 conseguiu-se a cedência de uma casa, num sítio central, na Rua Eusébio Leão, perto do actual Parque Catarina Eufémia (2) . Como se encontrava cheia de entulho, deu algum trabalho a pô-la em condições de se entrar e de se realizar reuniões no seu interior. A sua inauguração, no dia 30 de Abril, não foi com uma festa, foi com reuniões para discutir o que fazer no dia seguinte, isto é, como comemorar, no Barreiro, o 1º de Maio do ano da Liberdade.
Relembrando esses dias, embora com as dúvidas que o tempo vai criando na memória, estou a ver-me a deslocar-me do Barreiro para Almada, num Wolkswagen guiado por um jovem, que hoje é o Presidente da Câmara do Barreiro, Pedro Canário.
E não mais me é possível esquecer que, na estrada para Coina, íamos atrás de uma camioneta de caixa aberta e nesta, em pé e apoiado na cabine, ia um trabalhador que olhava para todos os lados e sempre que via alguém, mesmo que fosse longe, abria os braços e acenava intensamente para cumprimentar os outros seres humanos com quem ele queria partilhar a alegria que tinha de viver num país livre!
Depois, já no concelho de Almada, julgo que na estrada para a Caparica, não havia carro que não apitasse e pessoas que não se cumprimentassem. Um dia verdadeiramente louco porque único…
(1) O Militante Nº 209, de Março-Abril de 94, publicou um seu interessante relato sobre “O primeiro Centro de Trabalho do PCP”.
(2) A casa já não existe. Foi demolida para dar lugar a um prédio moderno com vários andares.
«O Militante» Nº 240 – Maio / Junho – 1999