Realizou-se ontem, 1 de março de 2023, na Sociedade 1º Agosto Santa Iriense, em Santa Iria de Azóia, a Sessão Evocativa do Centenário do Nascimento de Severiano Falcão, destacado militante do Partido Comunista Português, Antifascista e Presidente da Câmara Municipal de Loures entre 1979 e 1990.
A sessão contou com a participação de mais de uma centena de camaradas, amigos e representantes de organizações, associações e familiares de Severiano Falcão.
Jerónimo de Sousa, membro do Comité Central do PCP fez a intervenção de encerramento da sessão.
Severiano Falcão nasceu em Alhandra a 29 de fevereiro de 1923, Filho de um “trabalhador sem profissão” e de uma “operária têxtil”. Ali frequentou a escola primária e começou a trabalhar muito cedo numa oficina, mudando de oficina e ofício em função das dificuldades, e tendo sido marceneiro de profissão durante muito anos.
Enquanto jovem operário em Alhandra, foi desportista e músico amador (tocava clarinete na Sociedade Euterpe Alhandrense), participando em actividades animadas por Soeiro Pereira Gomes.
Severiano Falcão foi um generoso combatente da Resistência ao fascismo e um homem de Abril, um construtor das novas realidades desse tempo que se abria para dar expressão às aspirações do povo a uma vida melhor e em liberdade e traçar com ele os caminhos do futuro.
Tocado desde cedo pelos ideais progressistas, tinha já aderido ao Partido Comunista Português, em 1942, iniciando a sua actividade de militante nas Juventudes Comunistas onde permaneceu até 1944, altura em que entrou para um organismo partidário. Este era um período de importantes lutas.
Depois das greves de maio de 1944, foi chamado a substituir quadros que tinham sido presos. Participou em actividades sindicais, mas o seu nome era vetado pela PIDE para cargos nos sindicatos corporativos que o regime impunha e controlava.
Em 1947, passou a ser membro do Comité Regional do Ribatejo e, nessa qualidade, participou, no ano seguinte, no apoio à candidatura do General Norton de Matos para a Presidência da República.
Passou à clandestinidade em fins de dezembro de 1949 logo após a acção de homenagem e despedida a Soeiro Pereira Gomes.
Em 1950 é preso com a sua mulher Beatriz e um filho de 3 anos, condenado e enviado para Peniche de onde saiu em 1956. Voltou a trabalhar, agora na construção civil, passando a dirigir obras em Lisboa. Retoma a actividade política e participa na campanha de Humberto Delgado. É preso de novo em 21 de agosto de 1958, julgado e condenado como militante do PCP. Volta à cadeia, de onde só sai em 1966.
Regressa a Alhandra e vai trabalhar para uma empresa de Lisboa. Era agora medidor e orçamentista e estudara na cadeia o método PERT de que era considerado especialista. Participou profissionalmente em obras da TAP no Aeroporto e, aquando do 25 de Abril, trabalhava na empresa de construção civil, a “Joaquim Francisco dos Santos”.
Depois do 25 de Abril, Severiano Falcão foi membro do Comité Central de 1976 a 1992, deputado na Assembleia da República de 1976 a 1979, onde foi vice-presidente da Comissão Especial de Trabalho. Em 1979 foi eleito Presidente da Câmara Municipal de Loures.
O nome de Severiano Falcão é indissociável do seu trabalho enquanto Presidente da Câmara Municipal de Loures, cargo que ocupou até novembro de 1990. Foram mandatos que marcaram um período de transformação das condições de vida e de desenvolvimento do concelho, afirmando o poder local como uma verdadeira conquista da revolução de Abril.
Mandatos traduzidos numa ampla participação popular do movimento associativo, das organizações populares de base e no envolvimento directo das populações na resolução dos seus problemas.
Mandatos de uma imensa obra, dotando o concelho das infraestruturas e equipamentos que não tinha, reabilitando e reconvertendo dezenas de bairros de génese ilegal, dotando o município de instrumentos de planeamento, abrindo caminho ao seu desenvolvimento e progresso.
Mandatos marcados por uma efectiva descentralização para as freguesias, garantindo a sua valorização e o seu papel no plano da acção local.
Mandatos de progresso nas condições dos trabalhadores municipais, como o Refeitório, o Serviço de Saúde, o fardamento, a maquinaria para o desenvolvimento do trabalho. Severiano Falcão, que evocamos e a quem prestamos a nossa homenagem, era um homem de uma enorme firmeza e inabaláveis convicções na justeza da causa da emancipação da classe operária e dos trabalhadores, pela liberdade e democracia. Um homem de trabalho e generoso, de uma disponibilidade imensa para servir os trabalhadores e as populações.