Portugal vive hoje um dos períodos mais negros da sua história mais recente.
Foi esfuziante a alegria e esperança que nos trouxe o 25 de Abril de 1974, quando pensávamos que um país mais digno, mais fraterno e solidário estava ali ao nosso alcance por força da vontade do povo, confirmada nas palavras inflamadas dos dirigentes de partidos recém formados, designadamente do PS e do PPD (mais tarde crismado de PSD).
Era o tempo em que, até eles, proclamavam a via do socialismo como caminho a percorrer como solução para um país económica, social e culturalmente atrasado. Era o tempo em que, também para eles, as nacionalizações eram irreversíveis, a reforma agrária para prosseguir e consolidar, um Estado Social para construir. Era, enfim, o tempo da mais despudorada hipocrisia daqueles que apenas aguardavam melhores dias para devolverem aos exploradores de sempre a rapina a que o 25 de Abril havia posto termo.
O processo de restauração capitalista encetado pelos dois partidos citados, com a muleta empenhada do CDS, já todos conhecemos.
A guerra sem tréguas que o grande capital, através dos seus homens de mão instalados nos sucessivos governos, declarou aos direitos e interesses dos trabalhadores e do povo, tem prosseguido ao longo de mais de trinta anos, com a resistência tenaz dos trabalhadores que não aceitam ser esbulhados dos seus direitos sem luta firme e persistente.
A indignidade de tal orientação política atingiu agora os níveis máximos da pouca vergonha.
Entrincheirados na crise financeira que eles próprios provocaram, os grandes senhores da finança, os especuladores bolsistas, os agiotas que vivem do trabalho alheio, pretendem que sejam os trabalhadores e todas as camadas que já pouco ou nada têm, a pagar os seus vampirescos desvarios. E vai daí ordenam ao governo PS de serviço (ao seu serviço) para que se baixem os ordenados de quem trabalha, se facilitem os despedimentos, se congelem as pensões de quem descontou uma vida inteira para ter uma reforma digna, se retirem benefícios sociais a quem deles precisa para sobreviver, etc. etc. etc.
E o governo PS de serviço, amparado nas suas tradicionais muletas (PS e CDS), venerador, obrigado e sempre ao dispôr, obedece.
A obscenidade é tanta que, enquanto escarafuncha nas magras bolsas dos trabalhadores à procura de mais uma moeda que lhes possa roubar, este governo fica furibundo quando lhe colocam a necessidade de ir buscar o dinheiro necessário para a redução do défice onde ele existe, e em enormes quantidades. E barafusta. E insulta os proponentes de tais soluções. E manda o grupo parlamentar do seu partido (PS) votar contra qualquer proposta que surja na Assembleia da República que vá nesse sentido. Ordem aceite e cumprida, obviamente, mas com riscos tremendos para a credibilidade daquela bancada. Porque são verdadeiramente confrangedoras as patéticas justificações que os pobres dos deputados do PS têm que inventar para tentar salvar-se do naufrágio, moral e ético, da política que defendem.
Acreditem que chegam a meter dó.
A última confirmação da total falta de seriedade do governo, se tais confirmações fossem ainda necessárias, aconteceu há alguns dias atrás, quando este, em mais uma demonstração de subserviência perante os seus amos e senhores (leia-se – o grande patronato), mandou às malvas mais um compromisso assumido perante o país, solene e amplamente louvaminhado pela sua central de propaganda na altura própria. Referimo-nos ao acordo firmado no âmbito da chamada Concertação Social entre todos os também chamados parceiros sociais, segundo o qual passaria a vigorar o salário mínimo nacional de 500 euros a partir de 1 de Janeiro de 2011.
Afinal, os 500 euros apenas poderão ser alcançados lá para o fim desse ano, e isto se os patrões nessa altura estiverem bem dispostos e outra coisa não exigirem.
Depois disto, quem ainda terá dúvidas de que a palavra deste governo não vale mais do que um rotundo zero?
E, contudo, Portugal não está condenado a viver em crise permanente, subjugado a tamanha indigência política.
Os trabalhadores sabem disso e por isso lutam, de cada vez com mais força e consciência, contra a roubalheira de que estão a ser vítimas, levada a cabo pelos predadores do costume.
Por isso, o êxito da greve geral realizada no passado dia 24 de Novembro constitui um sério aviso aos senhores dos grandes grupos económicos e seus serventuários. E aqui, aproveitamos a oportunidade para saudar todos os trabalhadores portugueses e, particularmente, os trabalhadores desta Junta de Freguesia, que tiveram a necessária lucidez e coragem para participar nessa grande jornada de luta em defesa dos seus mais elementares direitos.
Os portugueses não se deixarão vencer pelo cansaço, pelo conformismo, pelas “inevitabilidades”. Porque a alternativa existe e começa a tornar-se clara aos olhos de cada vez mais portugueses.
O sistema capitalista está ferido de morte, não tem soluções para as suas próprias contradições e, por isso mesmo, torna-se mais agressivo e brutal.
A intensificação, até ao limite, da exploração do homem pelo homem é o recurso a que lança mão para ir sobrevivendo.
É isso que estamos a sentir na pele neste momento.
Compete-nos a nós, trabalhadores e povos, criar condições para lhe dar o golpe de misericórdia. Com a luta de todos os dias, lá chegaremos.
Odivelas, 27 de Dezembro 2010
Os eleitos da CDU
Assembleia de Freguesia de Odivelas
6ª Sessão Ordinária