Assistimos
ontem, neste ternurento recanto à beira mar plantado, à apresentação pública da
comédia burlesca que há muito tempo se encenava, e a que os seus autores
baptizaram de “código do trabalho”.
O
seu enredo era já por demais conhecido, não trouxe qualquer surpresa.
Os
comparsas que se dignaram a assistir ao nascimento daquela coisa e se
prontificaram a servir de padrinhos no baptizado, apondo a sua assinatura no
respectivo registo, também não surpreenderam ninguém. A gente sabe quem são, o
que querem e para onde vão.
Por
tudo isto, esta intervenção só se justifica como forma de mostrarmos a nossa
indignação pelo facto de o PS (com o argumento único de ter uma maioria
absoluta que lhe foi concedida pelos cidadãos eleitores e, por isso, considera
ter toda a legitimidade para fazer o que muito bem entender), nos querer tratar
como atrasados mentais que não conseguem perceber a bondade dos crimes com que
nos presenteiam todos os dias.
É
que, para além do mais, essa maioria absoluta do PS foi alcançada com recurso a
uma campanha eleitoral baseada na mentira mais despudorada, em promessas falsas
que indiciavam uma outra política, em posições assumidas enquanto oposição que
eram o oposto do que fazem hoje no governo.
O
código do trabalho de Bagão Félix e a oposição do PS, na altura, utilizando no
fundamental muitos dos argumentos que continuam a ser os nossos, constitui por
si só uma verdadeira radiografia do que é governar sem princípios, sem ética,
sem o mínimo de respeito pelos cidadãos eleitores.
– Pois, mas houve um acordo
tripartido em sede da concertação social, dirão os mais ingénuos ou profissionais contratados para a
divulgação da voz do dono. Ainda por cima depois de debates acesos, de
cedências mútuas, bla, bla, bla.
Talvez
estas tretas ainda consigam enganar alguns mais distraídos. Mas a táctica é tão
velha e recorrente, as personagens tripartidas tão conhecidas, que não valerá muito
a pena insistirem na fraude. Porque os trabalhadores, aqueles que mais uma vez
são vitimados pela desumana lógica capitalista, não se deixarão embalar por
estas cantilenas e continuarão a luta para que os seus direitos fundamentais
sejam respeitados.
É
o direito ao trabalho constitucionalmente consagrado (se é que a Constituição
da República Portuguesa ainda vale alguma coisa para os mandantes do país…) que
é posto ainda e mais uma vez em causa por este código.
É
o direito a uma vida familiar saudável que se quer destruir, com cargas
horárias de trabalho diário verdadeiramente desumanas.
É
a tentativa de colocar os trabalhadores completamente desprotegidos perante o
poder patronal, incentivando os contratos individuais de trabalho em detrimento
da contratação colectiva.
É,
em suma, mais um enorme retrocesso civilizacional que o governo, de mão dada
com os mais poderosos e o apoio do seu acessório “sindical”, se prepara para,
“corajosamente”, levar a cabo.
Talvez
este comportamento do governo, completamente desacreditado na sua terra, tenha
a ver também com a preservação da carreira política do Sr. Engenheiro, posta em
causa, segundo as suas próprias palavras, pelo povo irlandês, que apesar de
todas as pressões e chantagens promovidas pelos grandes líderes europeus,
estilhaçou através do voto a grande burla que constitui, para os povos da
Europa, o tratado conhecido por “porreiro pá”.
As
coisas são como são e não há volta a dar-lhes. Todos os povos que puderam
pronunciar-se acerca daquele nado morto, disseram não. Os outros foram
impedidos de o fazer, percebe-se agora melhor porquê.
Que
viva então a democracia destes democratas, muito modernos, muito europeus, e
com uma imensa falta de vergonha.
Odivelas,
26 de Junho de 2008