06 – A revolução Soviética de 1917 – Junho

Junho

Sim, esse Partido existe!

 

Para uma melhor compreensão deste período aconselhamos a leitura de dois textos de Lénine:

Discurso sobre a atitude em relação ao Governo Provisório no I Congresso dos Sovietes

 

 

“Camaradas! Deveis dizer a vossa palavra. Nenhuma conciliação com a burguesia! Todo o Poder ao Soviete de Deputados Operários e Soldados! Isto não significa que se deva desde já derrubar o governo e não lhe obedecer. Enquanto a maioria do povo o seguir e acreditar que cinco socialistas são capazes de dar conta dos restantes, não podemos fragmentar as nossas próprias forças com motins isolados. Nunca!

Poupai as forças! Reuni-vos em comícios! Aprovai resoluções! Exigi a passagem total do Poder para o Soviete de Deputados Operários e Soldados! Convencei os que não estão de acordo!

… Receai os provocadores, que tentarão convidar-vos, encobrindo-se com o nome de bolcheviques, a desordens e motins, querendo esconder a sua própria cobardia! Sabei que, embora indo agora connosco, eles vos venderão ao primeiro momento de perigo do velho regime.

Os verdadeiros bolcheviques exortam-vos não ao motim mas à luta revolucionária consciente.”  De um panfleto bolchevique.

No dia 3 de Junho começa o I Congresso dos Sovietes de Deputados Operários e Soldados de Toda a Rússia. Os bolcheviques encontravam-se ainda em minoria (dos 777 delegados, 285 eram socialistas-revolucionários, 248 mencheviques e 105 bolcheviques). No segundo dia, discute-se a atitude perante o Governo Provisório. Do lado da pequena-burguesia maioritária a apresentação das tarefas imediatas do Governo não podia ser mais clara: consolidar o Poder, lutar contra a anarquia, elevar a capacidade de combate do exército. Tseretéli, ministro do socialismo pequeno-burguês, afirma na sua intervenção que não existe na Rússia nenhum partido político que concordasse em tomar o Poder nas suas mãos. A réplica vem pronta da assistência: Existe! É Lénine, que na sua intervenção desenvolverá: “Nenhum Partido pode recusar-se a isso, e o nosso partido não o recusa: ele está pronto a todo o momento a assumir a plenitude do Poder.”. A declaração é recebida com risos pela direcção pequeno-burguesa do Congresso, mas não pelo Deputados de base. E é o Congresso que dá mais tempo a Lénine para terminar a sua intervenção onde expõe a táctica firme e decidida dos bolcheviques e o seu Programa aprovado em Abril.   

Mas o Congresso terminará aprovando a tácita do socialismo pequeno-burguês: recusa a tomada de todo o Poder pelos Sovietes, declara-se contra a guerra em palavras mas não nos actos.

Entretanto, cresce de dia para dia no país o descontentamento com a política do Governo de Coligação, particularmente contra a projectada ofensiva na frente. Em quarteis, bairros, fábricas, de toda a Rússia são aprovadas moções bolcheviques contra a ofensiva.

Também a questão nacional se agudizava enormemente – na Finlândia, na Ucrânia, na Estónia. Ganha força a exigência de uma república democrática federativa.

A Burguesia identifica o perigo – “toda a sociedade russa deve unir-se na luta contra o perigo do bolchevismo” – e aponta o caminho – “o Governo Provisório deve recorrer na luta contra este perigo a outros meios além da persuasão”. E dirigindo-se aos ministros do socialismo pequeno-burguês “é preciso que eles se demarquem, não digo da fraseologia revolucionária, o modo de expressão pode ser o que se quiser, mas da ideologia revolucionária”.

Vão-se multiplicando as acções repressivas, primeiro e só formalmente dirigidas aos anarquistas, mas de facto dirigidas aos bolcheviques. O Partido Bolchevique convoca uma manifestação para 10 de Junho, que o Congresso dos Sovietes, por proposta do socialismo pequeno-burguês proíbe por três dias sob o mesmo pretexto. O Partido Bolchevique decide cumprir a decisão do Soviete, e desconvoca a manifestação.

Mas a repressão contra os bolcheviques vai mais longe, e a 11 o socialismo pequeno-burguês tenta aprovar no Soviete, onde detém a maioria, uma resolução dando à maioria direito de veto sobre manifestações dos bolcheviques. Tseretéli, ministro socialista pequeno-burguês chega a esclarecer “é preciso desarmar os bolcheviques”. A proposta é recusada, mas sentindo o apoio dos dirigentes dos sovietes, o Governo Provisório proíbe manifestações por três dias e ameaça usar a força.

O crescente descontentamento das massas obriga o Congresso dos Sovietes a marcar uma manifestação para 18 de Junho. Uma manifestação pacífica, com deposição de coroas de flores nos túmulos dos heróis de Fevereiro e que, esperavam os organizadores, seria uma demonstração de confiança no Governo Provisório.

O Partido Bolchevique decide de imediato passar à preparação da manifestação, e no seu apelo, às palavras de ordem previstas para 10 de Junho (Abaixo a Duma Tsarista! Abaixo os dez ministros capitalistas! Todo o poder aos Sovietes! Revisão da Declaração dos Direitos dos Soldados! Abaixo a anarquia na indústria e os capitalistas que fazem lock-out! Viva o controlo e a organização da indústria! É tempo de acabar com a guerra! Que o Soviete anuncie condições de paz justas! Pão! Paz! Liberdade!) acrescenta ainda (Contra o desarmamento dos operários! Contra a dissolução dos regimentos revolucionários! Contra a política da ofensiva! Viva o armamento de todo o povo, e em primeiro lugar dos operários!)

O Governo Provisório intensificou a preparação da ofensiva na frente. A intenção era utilizar esta ofensiva contra as forças revolucionárias: a vitória serviria para abafar a destruição das organizações revolucionárias e a derrota daria o pretexto para novas acusações contra os bolcheviques: “Não se pode duvidar de que a ofensiva desferirá no inimigo interno – os bolcheviques – um golpe tão forte como no inimigo externo”.

A 18 de Junho, meio milhão de manifestantes em Petrogrado exigiu que “Todo o Poder aos Sovietes!”. Fora casos pontuais e devidamente organizados, a massa transportava consigo as palavras de ordem do Partido Bolchevique. Como o reconheceria o próprio jornal menchevique: “A manifestação de domingo revelou o completo triunfo do bolchevismo no seio do proletariado e da guarnição de Petrogrado.” E o órgão dos Sovietes reconhecia preocupado: “a democracia revolucionária, na pessoa dos seus Sovietes, deve dar a mais séria atenção ao facto da profusão das palavras de ordem leninistas.” Mas em Moscovo, Kiev, Riga e outras cidades também se realizaram grandes manifestações. No seu conjunto, elas mostraram o aumento de influência do partido bolchevique. Lénine sublinhará no seu artigo “O 18 de Junho” que este dia “entrará, de um modo ou de outro, na história da revolução russa como um ponto de viragem.A posição recíproca das classes, a sua correlação na luta entre si, a sua força, especialmente em comparação com a força dos partidos – tudo isto se revelou na manifestação de domingo de maneira tão nítida, tão clara, tão impressionante, que, seja qual for o curso e seja qual for o ritmo do desenvolvimento do futuro, o que se ganhou em consciência e em clareza é gigantesco. A manifestação dissipou em poucas horas, como uma mão cheia de poeira, as palavras ocas sobre os bolcheviques conspiradores, e demonstrou com indiscutível clareza que a vanguarda das massas trabalhadoras da Rússia, o proletariado industrial da capital e as suas tropas, estão, na sua esmagadora maioria, de acordo com as palavras de ordem sempre defendidas pelo nosso partido.”

A ofensiva na frente -.apesar da recusa de diversos regimentos em nela participar – começou com vitórias para o exército russo, mas em poucos dias a situação inverteu-se, e o fracasso da ofensiva custou várias dezenas de milhar de vidas e como afirmou o Governo Provisório “grandes perdas territoriais”.

A ofensiva na frente deteve durante algum tempo a crise política, mas agudizou fortemente as contradições de classe, empurrando as camadas semi proletárias e pequeno-burguesas para o lado do proletariado com maior intensidade. O proletariado está mais activo, e em Junho discute-se o primeiro contrato colectivo dos metalúrgicos.

A luta de classes está ao rubro.

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