Na reunião de Câmara, de 11 de Abril, o executivo camarário da maioria PSD/CDS trouxe à votação a constituição de uma Autoridade de Transportes do Município de Cascais. O PCP, através do seu vereador Clemente Alves, votou contra e acusou o executivo que lidera esta Câmara de não servir os interesses da esmagadora maioria dos cascalenses. Segue a intervenção do vereador comunista.
Sobre a Autoridade Municipal de Transportes
Cascais não é uma ilha, com o território isolado do resto do mundo.
Apesar de aqui viver uma boa quantidade de gente muito rica, a esmagadora maioria da população é constituída por trabalhadores que para ganharem o seu sustento diariamente têm que se transportar para fora do espaço municipal, usando duas vias: a estrada de alcatrão ou o caminho de ferro.
Entre todos os concelhos da Área Metropolitana de Lisboa, Cascais detém a pior rede interna de transportes, impraticável quer para ligar às poucas zonas de concentração de emprego aqui sediado como para fazer chegar a grande massa de munícipes aos eixos de ligação ao exterior do concelho, só possível através do uso do automóvel próprio em apenas duas estradas, a AE e a estrada Marginal, ou através do comboio, na linha longitudinal que corre a sul do território.
Face à mais que deficiente rede interna de transportes colectivos, e tendo em conta o grande crescimento demográfico que o concelho teve nas últimas três décadas, a vida diária de quem aqui mora tornou-se num pequeno inferno, com filas de muitos quilómetros em trânsito lento nas estradas quando é preciso sair e, depois, o mesmo calvário para voltar, ou com muitos voltas dadas com o carro junto das estações de comboio a tentar caçar um lugar onde estacionar sem ter que pagar para, de seguida, apanhar um comboio que não tem as devidas condições de conforto e de segurança e onde viajar já se vai tornando uma aventura.
Na ilha chamada Cascais que não existe, nenhum problema de mobilidade tem solução sem que as vias e os meios de transporte se articulem, em vasos comunicantes, com as dos municípios que nos são vizinhos e que temos que atravessar, por mais engenhosa que seja uma qualquer autónoma Autoridade Municipal de Transportes.
Ao contrário do que já vemos perspectivar-se para esta Autoridade Municipal de Transportes, que não vai além do umbigo de Cascais, o PCP defende a necessidade de uma Autoridade Metropolitana de Transportes, com funcionamento e composição democrática -com a participação central das autarquias, mas também com representantes do Estado, das empresas, dos trabalhadores e dos utentes.
Autoridade Metropolitana que defina e ponha em funcionamento um Plano de Transportes que articule as necessidades de mobilidade em toda a área geográfica; que integre de forma complementar e harmoniosa os diversos modos; sobretudo assente no serviço público; que responda a imperativos de economia energética, menor custo social e preservação do ambiente; que desenvolva uma rede de parques de estacionamento dissuasores periféricos das ligações aos meios de transportes colectivos; que viabilize um passe social intermodal que possibilite a um cascalense deslocar-se entre a sua residência e o lugar onde trabalha, onde quer que ele se situe dentro da área metropolitana, com mais rapidez, mais conforto, mais segurança e a preços mais favoráveis do que aqueles que resultem do uso do automóvel individual.
Ao autoexcluír-se, como já o anunciou, de participar no Plano Metropolitano de Transportes, e ao avançar isolada para a constituição de uma Autoridade Municipal de Transportes, a Câmara de Cascais, pelas mãos do PSD e do CDS, pode estar a cuidar dos interesses de alguns, mas não está, seguramente, a cuidar do interesse da esmagadora maioria dos cascalenses, daqueles que em cada manhã sofrem tormentas para chegarem ao emprego e que, no final do dia, voltam moídos de cansaço numa viagem que tarda em findar, sempre sobressaltados com a perspectiva de, uma vez chegados ao seu carro, não terem à espera a surpresa de uma pesada multa por estacionamento indevido ou, pior ainda, encontrarem o lugar vazio porque o reboque da CascaisPróxima passou por ali.
Porque queremos um município efectivamente elevado a todos e não só a alguns, naturalmente que só temos que recusar o propósito que, também em matéria de transportes, a maioria PSD e CDS, por egoísta conveniência e cegueira política, promove.
É por isto que o PCP vai votar contra a constituição desta Autoridade Municipal de Transportes de Cascais.
Cascais, 11 de Abril de 2016