O Sector dos Transportes da ORL do PCP saúda a jornada de luta dos ferroviários que hoje decorre – que regista níveis muito significativos de adesão na EMEF, na CP Carga, na REFER e mesmo na CP (apesar de nesta algumas organizações sindicais terem optado por não aderir à jornada de luta) – e sublinha que o caminho para derrotar a actual ofensiva anti-laboral e anti-nacional em curso é o do reforço da unidade e luta dos ferroviários.
As razões que levaram hoje milhares de ferroviários à luta são particularmente justas.
Por um lado, é inaceitável o volume de roubos que se abatem sobre os trabalhadores portugueses e os ferroviários em particular: Quatro anos de congelamentos e reduções salariais; violação sistemática da contratação colectiva e ondas sucessivas de leis a tentarem revogar direitos consagrados; aumento brutal da carga fiscal; assalto aos direitos e às pensões dos ferroviários reformados.
E por outro, é preciso travar o processo de pulverização e destruição em curso do sector ferroviário nacional: a liquidação da REFER numa fusão com as Estradas de Portugal que não pretende mais que criar um gigantesco gestor de PPP’s e entregar à exploração capitalista actividades como os CCO’s, os terminais e as telecomunicações; a liquidação da CP, com o abertura à exploração privada de todos os seus segmentos mais rentáveis (CP Lisboa, CP Porto, Longo Curso); a limitação das possibilidades produtivas da EMEF enfeudando-a às lógicas das multinacionais do sector; a entrega a privados da exploração comercial do transporte de mercadorias, com a privatização ou liquidação da CP Carga; tudo depois de garantir que o Estado assume toda a infraestrutura e investimento necessários.
Apesar de alguns intervalos para a propaganda eleitoral, o Governo e as forças que o comandam, o grande capital nacional e internacional, não vão parar esta ofensiva anti-laboral e anti-nacional. Mais cedo ou mais tarde terão que ser travados. E terão que ser travados pela unidade e luta das vítimas deste processo, os trabalhadores e o povo. Terão que ser travados por aqueles cuja vida está a ser severamente prejudicada ou mesmo destruída para garantir o pagamento de juros, de dividendos e de lucros, para garantir a acumulação crescente de riquezas e propriedades nos especuladores e demais capitalistas.
O Governo vê a ferrovia nacional como um mar de pequenas oportunidades de negócio para os seus amigos capitalistas, com trabalho precário e sem direitos, com um Estado totalmente dependente, sem meios humanos ou técnicos, e a pagar milhares de milhões nas múltiplas PPP’s que garantiriam os lucros desses capitalistas, como hoje já acontece nas Estradas. Tudo sobre a batuta colonial da Siemens e da DB, que garantiriam a venda de equipamentos e o controlo da exploração dos sectores mais estratégicos. É a visão de uma burguesia colonizada, satisfeita com o papel de capataz.
A alternativa existe: um sector ferroviário nacional público, cada vez mais coeso, cada vez mais articulado com uma política de desenvolvimento do aparelho produtivo nacional, criador de emprego de qualidade e com direitos. Seria o regresso aos valores que a Revolução de Abril trouxe ao sector ferroviário, rompendo com o capitalismo monopolista de Estado que dominou Portugal até 1974.
A justa luta que os ferroviários hoje travam é pelos seus direitos e em defesa do sector ferroviário. Mas é também pelo futuro de Portugal!