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Faleceu José Manuel Osório

jose_m_osorio.jpgCom o falecimento de José Manuel Osório, o PCP, o Portugal de Abril, a democracia portuguesa e o povo de
Lisboa e, sobretudo, o Fado, perderam um artista empenhado, um estudioso
apaixonado, um militante determinado.

Nascido em 1947, em Kinsasha, no antigo Congo Belga, José Manuel Osório  regressou a Portugal ainda criança, frequentando durante a infância e adolescência cursos de piano e ópera. Cedo fascinado pelo Fado e após passsar a residir em Lisboa em 1958, a sua carreira iniciou-se em casas de fado tradicionais da capital e participações em programas como o Zip Zip, 23ª Hora, etc. onde  teve papel verdadeiramente pioneiro num meio musical então dominado pela balada de intervenção e no qual sempre defendeu o Fado como canção de valor musical e poético.
    
Paralelamente com estas presenças, participou em numerosas encenações teatrais – A Barraca, Casa da Comédia, Teatro Estúdio de Lisboa – e desenvolveu assumida actividade política – foi militante do Partido Comunistas Português desde 1969 até ao seu desaparecimento – o que o obrigou a, entre 1969 e 1974, viver intermitentemente em Lisboa e Paris.
    
Após o 25 de Abril foi um dos mais activos particpantes nos Cantos Livres e Campanhas de Dinamização do MFA, mantendo sempre uma corente defesa das suas posições sobre o Fado, o que o levou a uma desenvolvida investigação sobre as expressões de temática sindicalista e anarquista. Uma sólida formação cultural igualmente gerou o convívio com a poesia de autores como Vasco Lima Couto, Ary dos Santos, António Gedeão, Manuel Alegre, que sempre acompanhou com o interesse pelos poetas tradicionais como Carlos Conde e Linhares Barbosa.
    
Em 1975 editou o seu único LP, Por Quem Sempre Comabateu, integralmente preenchido com músicas de fados traidicionais e combativas letras de Francisco Viana e Manuel Correia.
    
Integrado desde a primeira edição, em 1976 e até que a saúde lho permitiu, na Comissão de Espectáculos da Festa do «Avante!», a ele se deve em grande medida a presença do Fado em todas as edições da Festa, com asinaláveis padrões de qualidade e revelação de novos talentos.
    
Combatendo ao longo de anos e com invulgar coragem e espírito solidário uma doença prolongada, continuou a desenvolver extenso e precioso trabalho de estudo e levantamento do património fadista, o que definitivamente contribuiu para o trabalho do Museu do Fado, de Lisboa 94, da actual candidatura da UNESCO e para reedições discográficas relevantes
    
O Portugal de Abril, a democracia portuguesa e o povo de Lisboa e, sobretudo, o Fado, perderam um artista empenhado, um estudioso apaixonado, um militante determinado.
    
O PCP apresenta as suas mais sentidas condolências à família de José Manuel Osório.

A Direcção do Sector Intelectual da ORL  
Lisboa, 11 de Agosto de 2011