“Vamos lutar, porque se o fizermos, se juntarmos aqui a insatisfação daquilo que não foi feito com a satisfação daquilo que se conseguiu fazer com 0,7 por cento do orçamento municipal, não tenho dúvidas de que iremos ter a presidência da Câmara Municipal de Alenquer”. – Hernâni de Lemos Figueiredo
Jerónimo de Sousa esteve em Alenquer, no dia 30 de Agosto de 2009, no almoço-convívio patrocinado pela CDU, no âmbito das eleições legislativas e autárquicas. Cerca de duzentas pessoas, muita juventude à vista, ouviram entusiasticamente os intervenientes da tarde.
A primeira oradora foi Isabel Graça, candidata à Câmara de Alenquer e a Deputada à Assembleia da República, que começou por caracterizar o panorama que se vive PIC_0038em Alenquer como não sendo melhor do que o da região ou do pais. “Aqui encontramos também a mais grave recessão económica, com fábricas e comércio a fecharem. Temos um concelho que tem perdido qualidade de vida nos últimos anos”. Dividiu o concelho em duas zonas distintas: um baixo concelho que disse crescer desordenadamente com um aumento urbano e populacional desenfreado, e um alto concelho a perder população e influência. Para Isabel Graça a pequena e média agricultura estão abandonadas, como constata o número actual de adegas cooperativas, que de três na década de 80 passou actualmente para uma. Para a candidata comunista isso “demonstra o desinteresse dos últimos governos em proteger e em incentivar a pequena e média agricultura, esquecendo a soberania alimentar que vem sendo drasticamente reduzida desde a nossa entrada na União Europeia”.
O “aeroporto da Ota” não passou em claro a Isabel Graça. “Durante 10 anos o aeroporto foi a miragem e a apregoada solução para todos os problemas; agora que a miragem se esfumou não podemos continuar com a construção desenfreada para que aqueles que apostaram na especulação imobiliária continuem a lucrar, ignorando o que é o desenvolvimento do concelho, da região e do todo nacional.”
De seguida, José Manuel Catarino, candidato à Câmara de Alenquer, afirmou que as listas para as autárquicas foram apresentadas “sem problemas e sem promessas de emprego nem de promoções. PIC_0024“Duma forma tranquila apresentamos 323 candidatos, mais 100 do que era obrigatório. Desse conjunto 131 são militantes do PC e 192 são independentes. 205 são homens e 118 são mulheres. Cumprimos a paridade e ultrapassamo-la sem qualquer problema”.
Catarino informou de que a CDU está a elaborar um Programa a que chamam participativo. Já reuniram com cerca de 40 clubes, associações, colectividades e conselhos directivos das escolas ”no sentido de que o programa da CDU não seja um programa vazio de conteúdo, um programa de pessoas que estão no gabinete. Ele é e vai ser um programa das pessoas e para as pessoas”, enfatizou.
José Manuel Catarino finalizou denunciando os objectivos da campanha: “Vamos lutar, porque se o fizermos, se juntarmos aqui a insatisfação daquilo que não foi feito com a satisfação daquilo que se conseguiu fazer com 0,7 por cento do orçamento municipal, não tenho dúvidas de que iremos ter a presidência da Câmara Municipal de Alenquer”.
Os maiores aplausos da tarde estavam reservados para Jerónimo de Sousa, o Secretário-Geral do Partido Comunista Português, que começou por dar “uma felicitação muito fraterna dum visitante deste concelho de há muitos anos, de muitas reuniões, em muitas lutas, em muitos encontros e em muitos momentos eleitorais”. Numa prolongada intervenção Jerónimo de Sousa não esqueceu os dois partidos da alternância, PS e PSD. “Estes dois partidos querem fazer crer que estas eleições são só para o primeiro-ministro e para o Governo. É a primeira mentirola destas eleições de 27 de Setembro, que são para eleger deputados, deputados que vão fazer as leias da Republica, deputados que vão fiscalizar a acção do futuro Governo, deputados que consoante a relação de forças ditarão a constituição do governo, de onde emanará o 1º. Ministro e os Ministros. Portanto é um embuste o que vocês ouvem frequentemente que a luta é entre a Ferreira Leite e o Sócrates. Não é verdade, a luta eleitoral é entre os 230 mandatos que há para disputar. Essa coisa da eleição ser para o 1º Ministro é uma mentirola que nós devemos desmistificar”.
Incentivado por fartos aplausos Jerónimo de Sousa continuou. “Nem uma palavra vocês ouvem. Porque estão os dois de acordo, isso é algo de imputável. Isso é um santuário que o PS e PSD não querem incomodar. E aqui abre-se uma questão de fundo. O nosso PIB não é elástico, não estica. Nós estamos em dificuldades, estamos em crise. Para sair da crise como é que nós fazemos? Para o PS e PSD no grande capital não se toca, mas dizem “vamos ajudar os pequenos e médios empresários, os pequenos e médios agricultores e os pequenos e médios comerciantes. Está lá esta declaração, mas depois não dá a bota com a “perdigota”. Como é que eles podem ajudar os pequenos e médios comerciantes se estão de acordo com a facilitação dos horários e dos licenciamentos para as grandes superfícies? Os pequenos comerciantes não podem fazer concorrência com esse liberalismo que existe em termos de licenciamentos e de horários existentes nas grandes superfícies”.
Mais aplausos aumentaram o entusiasmo da intervenção do Secretário-geral do Partido Comunista Português. “O problema das pequenas empresas hoje não é criar mais postos de trabalho; o seu problema é defender os postos de trabalho que têm. Ainda esta semana ouvi o senhor Presidente da República dizer o que é preciso é aumentar a competitividade das nossas empresas. Que coisa bonita! Nós todos assinamos por baixo mas, eu pergunto, como é que uma pequena empresa pode ter capacidade de competitividade com os vizinhos espanhóis se eles pagam menos energia, menos combustíveis e menos impostos? Não venham com esta hipocrisia, criem é as verdadeiras condições para a defesa do nosso aparelho produtivo, dos micros, pequenos e médios empresários e não com esta conversa fiada com que andam a enrolar os portugueses há mais de 30 anos”
E a agulha continuou virada para os alvos do dia. “Estes dois partidos têm diferenças, estamos de acordo, mas o PSD se pudesse tomar outra vez conta do poder acelerava as privatizações, acelerava a ofensiva contra os direitos dos trabalhadores, e o PS não tem grande moral, pois no que respeita à privatização da Segurança Social, a ideia estava já prevista na lei de bases aprovada pelo Governo de Guterres onde estava lá incluída a ideia do plafonamento. Há diferenças, e assumimo-las, mas naquilo que é estruturante e fundamental, nas questões cruciais da nossa sociedade portuguesa de hoje, eles são iguais”. Mais aplausos, uma constante desta intervenção.
“Sócrates critica muito a Direita, porque o PSD é de Direita e porque tem um projecto de Direita. Espero que a Dr.ª Ferreira Leite nunca se lembre de dizer “sim, é verdade, nós somos de Direita mas você conseguiu fazer alterações ao Código do Trabalho pior do que aquelas que nós fizemos no tempo do Bagão Félix”. Muitos aplausos dos presentes e vivas à CDU interromperam Jerónimo de Sousa.
E a intervenção inflamada do Secretário-geral do PCP continuou. “E é por isso que eles têm esta similitude e esta dificuldade em demarcarem-se, em apresentarem uma solução alternativa para o nosso país. Nós criticamos o Sócrates não por ele ter um nariz maior ou mais pequeno, ou porque é muito ou pouco arrogante; não é por isso Nós criticamos o Sócrates porque hoje, com a sua governação, temos um país com mais desemprego, um pais mais desigual, mais endividado, mais dependente do estrangeiro. É esta a critica que fazemos ao Partido Socialista e a Sócrates, e não outra. Realmente a parte final da intervenção de Jerónimo de Sousa estava constantemente a ser interrompida com mais aplausos e mais aplausos.