A recém anunciada intenção do grupo Saint-Gobain de encerrar a produção na sua fábrica em Santa Iria de Azóia é mais um passo dum percurso criminoso, em que a busca exclusiva do lucro e do domínio completo do sector por parte do grupo tem lesado os seus trabalhadores, a economia nacional e o Estado Português. Um percurso que, desde a primeira hora, os seus trabalhadores, tendo ao seu lado o PCP, combateram, na defesa do interesse nacional.
Foi assim perante o desinteresse de sucessivos governos na capacidade produtiva da então Covina quando foi preciso combater a sua privatização, que o governo de Cavaco Silva acabou por concluir, entregando-a na sua totalidade ao grupo Saint-Gobain.
Foi assim quando depois de desmantelar a Covina, (no final da década de 90), o grupo francês pretendeu aumentar em 50% a capacidade do forno float e obteve do Estado português do governo PS de José Sócrates 48 milhões de euros em apoios fiscais, sem contrapartidas, com o propósito anunciado de construir um novo forno float e aumentar a produção de chapas para painéis solares apenas para um ano depois, e apesar da obtenção de lucros de 1900 milhões de euros em 2008, parar o forno float da fábrica de Santa Iria de Azóia (em 2009), suspendendo a produção até hoje e por tempo indeterminado, e proceder a um plano de reestruturação em que promoveu dois períodos de Lay-off, despedindo depois 85 trabalhadores e passando a utilizar as instalações exclusivamente como armazéns, desprezando a capacidade produtiva da vidreira, perante a total inoperância do governo PS de então.
Foi assim quando em 2013 o grupo encerou a Saint-Gobain Solar/Covilis despedindo cerca de 50 trabalhadores, e fez um despedimento colectivo de mais 50 trabalhadores na Saint-Gobain Sekurit Portugal no culminar de um crime económico e social contra o País e a sua capacidade produtiva.
Ou quando, em 2017,as medidas para combater a crise são, novamente, a redução progressiva do quadro de pessoal, congelamento salarial (que se verificou em 2019, 2020 e 2021) e alguns investimentos que, claro, nunca se concretizaram.
Em todos este processo criminoso de desmantelamento de uma importantíssima unidade produtiva do país e desbaratamento do conhecimento e trabalho qualificado dos seus operários, estiveram sempre, do lado da defesa da empresa e da economia nacional os seus trabalhadores em luta, o apoio do MSU e a solidariedade activa do PCP.
Agora em Agosto de 2021 a SGSP anuncia a intenção de despedir os restantes 130 trabalhadores acabando com a produção e transformação do vidro automóvel em Portugal. Fá-lo depois de, em Março de 2020, ter recorrido ao lay-off simplificado, recebendo apoio do Estado durante 3 meses. Fá-lo, como outras multinacionais, socorrendo-se do pretexto da pandemia para justificar quebra de volume de negócios, quando, já este ano, o grupo anunciou que os seus lucros em 2020 foram superiores a 1400 milhões de euros. Fá-lo negando capacidade de investir mais e a fraca competitividade dos seus produtos, quando contou ao longo dos anos com apoios públicos para se financiar e com trabalho especializado que nunca soube valorizar.
É urgente travar mais este passo neste crime económico e social. É determinante a demonstração de solidariedade para com os trabalhadores da Saint-Gobain que, para além dos seus postos de trabalho, estão em luta pela defesa da economia nacional. Não é possível que o governo mantenha o silêncio e a inoperância perante mais este ataque a capacidade produtiva do país e aos seus trabalhadores, quando tem competências para travar este processo.
O PCP reafirma aos trabalhadores da Saint Gobain Sekurit Portugal que poderão continuar a contar com a sua solidariedade activa na luta pelos seus postos de trabalho e em defesa da produção nacional.
A Direcção da Organização Regional de Lisboa do PCP
Agosto 2021